O Algarve foi escolhido para “região-piloto” no desenvolvimento de um projecto europeu, demonstrativo das medidas a adoptar no combate à seca e adaptação às alterações climáticas. A iniciativa foi dada a conhecer, esta quarta-feira, na Mexilhoeira Grande (Portimão), numa quinta de seis hectares, que deixara de produzir hortícolas e laranjas, pela falta de água. A iniciativa envolve um consórcio de 27 entidades, a nível académico (laboratórios colaborativos) e privados.
O plano de intervenção tem um horizonte de cinco anos, dos quais três destinam-se à execução do projecto, dois à avaliação dos estudos. No final, o objectivo é que o trabalho possa ter continuidade e se possa multiplicar. “O nosso objectivo é que o projecto possa vir a ser replicado noutras regiões”, confirmou André Gonçalves, coordenador do projecto focado nas regiões do Algarve e Andaluzia.
Denominado CisWEFE-NEX, o projecto tem um valor global de 11,5 milhões de euros (ME), financiado em 9,5 ME por fundos comunitários através do Cluster 6 do Horizonte Europa inserido na iniciativa Circular Cities and Regions. O projecto já tem o financiamento comunitário aprovado, mas aguarda pelos licenciamentos da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e da Câmara de Portimão, referiram os responsáveis.
A situação de stress hídrico com que o Algarve está confrontado e a localização da propriedade, a cerca de 600 metros da ria de Alvor, foram algumas das razões invocadas para a “quinta-laboratório” aí ser instalada, projectando no terreno os desafios que se colocam à comunidade europeia: produzir água, energia e alimentos, num sistema de economia circular. O Algarve foi também a região-piloto seleccionada para testar o sistema, dado estar inserida na Eurorregião Alentejo-Algarve-Andaluzia e enfrentar desafios ambientais comuns, entre os quais o stress hídrico.
Por isso, está previsto instalar uma pequena central dessalinizadora e aproveitar tudo o que natureza oferece, com menores custos ambientais. “Aqui o objectivo é reaproveitar as águas salobras e do bagaço de azeitona, este com uma percentagem grande de água, para a irrigação de um sistema de produção agrovoltaico”, explicou André Gonçalves, acrescentando que espera que “os resultados possam despertar o interesse de entidades públicas e privados”, para que o projecto possa ter repercussões positivas na comunidade.
O dono da propriedade, Manuel Águas, não revelou o preço do arrendamento das terras, mas sugeriu que o preço foi simbólico. “Se alugasse o terreno para pôr aqui, no Verão, três caravanas, ganhava mais dinheiro.” O que chegou a pensar, confidenciou, foi seguir o exemplo dos vizinhos: “Com esta vista espectacular para o mar, teria aqui uma urbanização – só que não posso porque é reserva agrícola.”
O pomar de citrinos, entretanto, foi deixado ao abandono. A água do furo deixou de ser suficiente para o regadio. Porém, a parcela dos abacateiros contínua verdejante, porque o rendimento é superior à laranja. O novo projecto, de carácter “laboratorial” prevê que a dessalinizadora, alimentada pela energia solar, venha a fornecer água potável e servir a irrigação da propriedade. Um dos objectivos, defendem os promotores, é desenvolver a “economia circular”, na qual se insere ainda uma exploração de aquacultura para produzir algas e camarão.