A cidade mais setentrional dos Estados Unidos — Utqiagvik, no Alasca — está prestes a mergulhar em meses de escuridão. Pense da seguinte forma: quando o sol voltar a nascer, um novo Presidente ocupará a Casa Branca.
A cidade de Utqiagvik, anteriormente conhecida como Barrow, tem uma população de pouco menos de 5000 pessoas. Situa-se ao longo da região de North Slope, junto ao Oceano Árctico, a 71,17 graus de latitude norte — cerca de 330 milhas a norte do Círculo Polar Árctico. Isto significa que, durante cerca de dois meses por ano, o sol fica abaixo do horizonte, dando origem a uma prolongada “noite polar”.
O sol pôs-se às 13h27, hora local (correspondente às 22h27 de Lisboa), de 18 de Novembro, e só voltará a sair do seu longo sono a 22 de Janeiro de 2025. Nessa altura, o sol nascerá às 13h15 no sul e pôr-se-á apenas 48 minutos depois. Depois disso, os dias tornar-se-ão mais longos rapidamente.
Até lá, o céu poderá assumir tons de azul ou violeta, parte do crepúsculo astronómico e civil (equivalente a quando começa a ficar mais ligeiramente mais claro antes de amanhecer, por exemplo), mas a luz do dia não irá além dessa luz crepuscular.
Clima brutal e implacável na escuridão
Os meses de escuridão contribuem para um clima brutal e implacável. Um quarto de todos os dias em Utqiagvik não ultrapassa os zero graus Celsius. A escuridão também favorece o desenvolvimento do vórtice polar estratosférico, um redemoinho de ar frio sobre o pólo Norte que influencia o clima do hemisfério Norte.
No solstício de Inverno, que ocorre às 5h02, (horário do leste dos EUA), a 21 de Dezembro, o sol ainda estará 4,7 graus abaixo do horizonte ao meio-dia.
Devido à inclinação do eixo da Terra, as regiões do Círculo Polar Árctico podem permanecer longe do Sol durante dias, semanas ou mesmo meses entre os equinócios do Outono e da Primavera. O efeito é tanto maior quanto mais nos aproximamos dos pólos.
Nos pólos Norte e Sul, há apenas um nascer e um pôr-do-sol por ano. O Sol nasce no equinócio da Primavera e põe-se no equinócio do Outono. No pólo Norte, isso significa luz do dia entre Março e Setembro. Durante o Outono e o Inverno, a escuridão dura seis meses; a única luz provém das estrelas, da lua e da cintilação esmeralda da aurora boreal.
Surpreendentemente, todos os locais da Terra registam a mesma duração de luz solar todos os anos (um bocadinho mais ou menos devido às montanhas, vales e outras características topográficas). Utqiagvik tem aproximadamente o mesmo número de horas de luz solar que Miami, Sydney e Moscovo; tudo se equilibra. No equador, cada dia tem aproximadamente 12 horas de duração, com flutuações sazonais ampliadas à medida que se avança em direcção aos pólos.
A diferença? O ângulo da luz solar e, consequentemente, a sua intensidade. A luz solar em locais de latitude elevada brilha a partir de um ângulo baixo no céu. Isso significa que a mesma quantidade de luz é espalhada por uma área muito maior e não é tão forte. Isso significa que não tem um grande efeito de aquecimento.
Utqiagvik apanha sol no Verão, quando a luminosidade reina 24 horas por dia na “terra do sol da meia-noite”. Utqiagvik, por exemplo, gozará de luz do dia sem parar entre 11 de Maio e 19 de Agosto de 2025.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post