Coincidindo com a recta final da 29.ª Conferência da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, a decorrer no Azerbaijão, Björk inaugura esta quarta-feira, no Centro Pompidou, em Paris, uma nova instalação artística em torno da crise ecológica.
Em Nature Manifesto, a cantora e compositora islandesa – que desde há muito faz da sua música activismo climático, universo de conexão entre seres vivos, festim extraterrestre e terrestre da biodiversidade – propõe uma obra sonora imersiva na qual evoca animais extintos ou em vias de extinção, cujos chamamentos, guinchos, gritos e chilreios se entrelaçam com paisagens sonoras naturais, música original e com a sua própria voz, a ler um manifesto escrito juntamente com o fotógrafo e curador Aleph Molinari, “cúmplice” na criação desta peça que fica no Pompidou até 9 de Dezembro.
Concebida em parceria com o IRCAM – Instituto de Pesquisa e Coordenação em Acústica/Música, instituição francesa dedicada à pesquisa e à criação de música contemporânea criada pelo compositor Pierre Boulez a pedido do então Presidente Georges Pompidou, e ancorada em ferramentas de inteligência artificial, esta instalação é reproduzida, continuamente, enquanto os visitantes percorrem as célebres escadas rolantes exteriores do museu parisiense.
“Quisemos partilhar a presença [dos animais] numa arquitectura que representa a era industrial, distante da natureza. Nas veias da escada rolante do museu, conhecida como a ‘lagarta’, quisemos recordar aos cidadãos a vitalidade crua das criaturas em vias de extinção”, explicou Björk num texto partilhado na sua página de Instagram. “Apesar de estarmos a viajar sem descanso entre pisos enquanto ouvimos esta peça sonora, o tom das vozes dos animais constrói uma ponte sónica para os ouvintes. E no espírito destes animais, na magia de como estão sensualmente alinhados com o seu ambiente, eles tornam-se nossos professores!”, acrescenta a artista.
O manifesto desta peça, disponível online no site do Centro Pompidou, é ritmado por um tom de urgência, mas também de optimismo num futuro pós-apocalíptico e de “reciprocidade sensorial”, em que um novo Acordo de Paris será “moldado” e “alcançado”.
“É uma emergência/ o apocalipse já aconteceu/ e a forma como vamos actuar agora é essencial/ após a extinção em massa/ começaremos de novo/ o nosso velho conforto foi-se/ desfilaremos com grilos mutantes em colheitas radioactivas brilhantes (…) depois das pragas e pandemias/ haverá novos modos de existência/ de tecer os nossos corpos em relações com o que nos rodeia/ de decompor os nossos velhos modos de vida/ e escapar ao ciclo de retorno/ com engenhosidade metabólica”, lê-se em dois excertos do manifesto.
Sobretudo desde 2010, Björk tem trabalhado na convergência entre música e natureza, biologia e tecnologia. São disso exemplo os álbuns Biophilia (2011), Vulnicura (2015), Utopia (2017) e Fossora (2022), o mais recente disco, com letras inspiradas pelo mundo dos fungos. Os últimos dois registos constituíram uma parte significativa do espectáculo Cornucopia, que passou por Lisboa no ano passado e onde a artista projectou um discurso de Greta Thunberg.
Em breve será lançado o filme que regista a digressão de Cornucopia, bem como as acções de activismo associadas ao espectáculo. Prova do compromisso da artista com a causa ambiental, uma espécie de borboleta recentemente descoberta na costa Leste dos Estados Unidos foi baptizada em Outubro com o nome de Pterourus bjorkae, em sua homenagem.
Nature Manifesto, com curadoria de Chloé Siganos e Aleph Molinari, integra Biodiversidade: Que Cultura para que Futuro?, fórum que o Centro Pompidou acolhe a partir desta quarta-feira e até domingo, e no qual participam também Anohni, compositora e artista visual, ou Cyril Dion, cineasta francês e activista ambiental. Terminada a exposição, será criada uma campanha de apoio a animais em vias de extinção, em conjunto com activistas ambientais.