Mais de 80% dos jovens já beberam álcool. Problemas relacionados com consumos aumentam
A prevalência do consumo de bebidas alcoólicas foi de 80% entre as raparigas e de 77% entre os rapazes em 2023, refere inquérito do ICAD. Mas há sinais positivos entre quem bebeu no último ano.
No ano passado, as prevalências de consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens de 18 anos manteve-se “muito elevada”, com 81% a declararem consumos pelo menos uma vez na vida. Quanto ao consumo recente – feito nos últimos 12 meses –, está na “ordem dos 78%”. Uma melhoria em relação a 2015, quando se cifrava em 83%, refere o relatório Comportamentos Adictivos aos 18 anos. Inquérito aos jovens participantes no Dia da Defesa Nacional. Esta variação, que ocorreu sobretudo entre 2022 e 2023, contraria a tendência do aumento de consumos verificada entre 2015 e 2022. Mas será preciso verificar se se trata de uma mudança de ciclo, salienta o Instituto para os Comportamentos Adictivos e as Dependências (ICAD).
Os dados, divulgados nesta terça-feira pelo ICAD, resultam do inquérito nacional, realizado anualmente, a todos os jovens de 18 anos participantes no Dia da Defesa Nacional. Participaram neste inquérito 92.443 pessoas. Segundo a informação, mais de metade (55%) frequenta o ensino secundário e 34% já tinham iniciado o ensino superior.
Segundo o relatório, 51% dos jovens indicaram ter consumido álcool de forma binge (tomar cinco ou mais bebidas alcoólicas na mesma ocasião, no caso das raparigas; ou seis ou mais, no caso dos rapazes) nos 12 meses anteriores à realização do inquérito, sendo que 62% embriagaram-se ligeiramente e 36% severamente. “Ainda que intensos por ocasião, são padrões de consumo que tendem a ser pouco frequentes, predominando a indicação de uma a cinco ocasiões num período de 12 meses.”
Analisando as prevalências de consumo nos últimos 12 meses, em função do sexo, a prevalência de consumo de bebidas alcoólicas foi de 80% entre as raparigas e de 77% entre os rapazes, em linha com o ano anterior.
De acordo com o documento, “entre 2015 e 2023 diminuiu ligeiramente a prevalência de embriaguez ligeira nos últimos 12 meses (-1pp), enquanto aumentou a de consumo binge (+4pp) e a de embriaguez severa (+6pp)”, lê-se no documento.
Quanto ao consumo de tabaco, “48% dos jovens já fumaram pelo menos uma vez na vida, 41% nos 12 meses anteriores ao inquérito e 31% nos 30 dias anteriores”. Também neste caso, a prevalência no consumo recente (12 meses anteriores) desceu em relação a 2015 (52%).
Numa análise por sexos, o consumo de tabaco mantém-se superior entre os rapazes, “embora com uma diferença percentual de apenas um ponto”: 42% nos rapazes e 41% nas raparigas.
Aumentam problemas atribuídos aos consumos
As declarações de problemas relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas e de substâncias ilícitas “têm vindo sistematicamente a aumentar”, aponta o relatório.
No caso das bebidas alcoólicas, a prevalência de qualquer problema relacionado com este tipo de consumo passou de 19% para 32% no total de inquiridos, entre 2016 e 2023. Este aumento “deve-se especialmente” a problemas relacionados com relações sexuais desprotegidas e situações de mal-estar emocional.
Relativamente ao consumo de substâncias ilícitas, entre 2016 e 2022, a prevalência de qualquer problema “aumentou consideravelmente” – de 9% para 14% no total de inquiridos. Destacam-se dois tipos de problemas que levaram a esta tendência: envolvimento em relações sexuais desprotegidas e situações de mal-estar emocional, os mesmos associados ao consumo de álcool.
Cannabis é a mais consumida
No que diz respeito à utilização de medicamentos tranquilizantes ou sedativos sem receita médica, a prevalência de consumo ao longo da vida foi de 7%, nos 12 meses anteriores ao inquérito de 5% e nos 30 dias anteriores de 3%. Quanto a drogas ilícitas, “29% declaram já ter consumido uma qualquer substância ilícita pelo menos uma vez na vida, 24% nos 12 meses anteriores e 14% nos 30 dias anteriores ao inquérito”.
A cannabis "é, a larga distância, o tipo de produto ilícito consumido por mais jovens, com prevalências de 27% ao longo da vida, 23% nos 12 meses anteriores e 13% nos 30 dias anteriores”, diz o relatório, que acrescenta que em 2023 “a substância que mais jovens mencionam ter adquirido através da Internet nos 12 meses anteriores ao inquérito é a cannabis”.
O estudo também analisa a associação de substâncias na mesma ocasião, que se manteve “semelhante entre 2015 (21%) e 2023 (19%)”. No ano passado, a prevalência de policonsumo foi “um pouco superior no grupo dos rapazes (22%) do que no das raparigas (16%)”. As principais associações identificadas foram a de álcool e bebidas energéticas (9%) e álcool e derivados de cannabis (8%).