OE2025: perto de 60 propostas de alteração na Cultura para votação na especialidade

Medidas como o alargamento da gratuitidade de museus em número e dias da semana, a contratação de arqueólogos e a transferência de verbas relacionada com a Casa Museu Aristides de Sousa Mendes

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A votação do Orçamento do Estado na especialidade tem início na sexta-feira Rui Gaudêncio
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Perto de 60 propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2025, apresentadas por diferentes partidos para o sector da Cultura, como o reforço das verbas da Direcção-Geral das Artes (DGArtes), da Cinemateca e do cheque-livro, aguardam votação na especialidade.

A dedução de despesas culturais em sede de IRS, a constituição de um arquivo nacional de artes performativas e de uma rede nacional de residências artísticas e de casas da criação, assim como o reforço de iniciativas e de verbas para museus e património, estão entre as propostas apresentadas pelos grupos parlamentares.

Medidas como o alargamento da gratuitidade de museus em número e dias da semana, a contratação de arqueólogos pelo Ministério da Cultura, o aumento de taxas devidas por operadores de televisão por assinatura e plataformas de serviços audiovisuais a pedido, a criação de um instituto da língua mirandesa e a transferência de verbas relacionada com a Casa Museu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, são comuns a dois ou mais partidos, à semelhança da aplicação de taxa reduzida de IVA à tauromaquia, apresentada pelo PSD-CDS/PP e pelo Chega.

A única proposta de descolonização da história e da cultura vem do Livre, com a dotação de verbas que permitam a museus com acervos do período colonial contextualizarem as suas exposições.

O PCP volta a propor o objectivo de "efectivar o mínimo de 1% do Orçamento do Estado para a Cultura até 2027".

O BE soma seis propostas de alteração, que incluem o reforço da despesa autorizada da DGArtes em 19,6 milhões de euros, subindo assim para os cem milhões em 2025, e o aumento da taxa anual dos operadores de serviços audiovisuais a pedido para 5% do montante "dos proveitos relevantes desses operadores", sem que esse aumento possa ser imputado aos consumidores.

A transferência de 500 mil euros para "início de funcionamento da entidade promotora da Língua Mirandesa", prevista na lei desde 2023, e de 1,5 milhões para a Câmara Municipal de Carregal do Sal, que tutela a Casa Museu Aristides Sousa Mendes, estão também nas propostas do BE, assim como a abertura de concursos para recrutamento de arqueólogos, de modo a "assegurar responsabilidades do Estado ao nível da protecção do património".

O BE propõe ainda, no contexto dos 50 anos da eleição para a Assembleia Constituinte, a cumprir em 25 de Abril de 2025, o "Programa Artigo 78 [da Constituição] — Direito à Fruição e Criação Cultural", com uma dotação de oito milhões de euros, para financiamento a fundo perdido de primeiras obras e de "actividade semiprofissional de criação ou de programação artísticas", nas artes performativas, visuais, cruzamento disciplinar, e nas áreas do livro, cinema e museologia.

O Chega tem 18 propostas de alteração na comissão de Cultura, dez das quais na área do património: inventário do estado e necessidades dos museus; criação de um fundo para reabilitação de monumentos em risco; definição de um plano nacional de reabilitação de património histórico abandonado; incentivo financeiro à "cultura tradicional"; um programa de residências artísticas em espaços históricos e monumentos; alargamento das entradas gratuitas em museus, palácios e monumentos a todos os que estejam sob "tutela da administração central"; criação dos museus dos Descobrimentos e de Arte Sacra de Lisboa; um programa de valorização do Parque Arqueológico de Conímbriga; e a construção de um monumento aos "sarreiros" (os que limpavam sarro de vinho) do Lorvão, concelho de Penacova.

Na área do cinema, o Chega propõe o reforço da despesa da Cinemateca Portuguesa para conclusão da "digitalização e preservação do acervo", e a subida da taxa de exibição de publicidade, que constitui receita do Instituto do Cinema e do Audiovisual para apoio à produção.

As restantes propostas do Chega, sempre sem especificação de valores, visam incentivo financeiro à Cultura em realidade virtual, criação de Centros de Cultura e Tecnologia, apoio a festivais multidisciplinares em regiões periféricas e a criação de um Passe Familiar Cultura.

O Livre, entre as suas 12 propostas, sugere o aumento de 20 para cem euros do montante do cheque-livro, a criação do cartão "+Cultura, +Cidadania", visitas virtuais a museus e a entrada gratuita para acompanhantes de pessoas com deficiência em espaços e eventos culturais.

Este partido também propõe um milhão de euros para expansão do Plano Nacional das Artes à saúde e ao bem-estar, o estabelecimento da Praça do Comércio, em Lisboa, como Praça da Cultura, do Conhecimento e da Cidadania, em parceria com o município, e o apoio à língua mirandesa com uma dotação de 300 mil euros, em 2025, mais a criação do seu instituto.

Para a criação de um arquivo das artes performativas, o Livre propõe a constituição de um grupo de trabalho que defina "os melhores contextos" e práticas, envolvendo entidades como a DGArtes, a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, arquivos municipais e distritais, universidades e representantes das artes performativas. Neste contexto, propõe ainda que o Governo assegure uma linha de financiamento de dois milhões de euros à RTP para preservação e divulgação do trabalho de artistas e autores emergentes.

O Livre propõe também a constituição de Casas da Criação em edifícios abandonados do Estado e espaços de entidades privadas do sector sem fins lucrativos, num projecto a dois tempos: identificação dos locais, em todo o país, durante o primeiro semestre, seguida do lançamento de um programa de financiamento a projectos, no valor de cinco milhões de euros.

As cinco propostas do PAN para a cultura prevêem a dedução em IRS de despesas em bens culturais até cem euros, a contratação de arqueólogos, a criação de uma rede nacional de residências artísticas, a atribuição do estatuto de museu nacional à Casa Museu Aristides Sousa Mendes, e a transferência de 1,59 milhões de euros do reembolso previsto para este município, pela recuperação e musealização da Casa do Passal.

O PCP soma 16 propostas, a começar pelo alargamento das entradas gratuitas em museus, palácios e monumentos aos fins-de-semana, a par do Acesso 52, e a todos os que estejam sob tutela da administração central, assim como àqueles em que o Estado esteja representado nos órgãos de gestão (como Serralves).

As propostas do PCP também contemplam um programa de acesso gratuito a equipamentos e actividades culturais para jovens, outro de apoio às bibliotecas e salvaguarda dos arquivos do movimento associativo popular, a duplicação das verbas da Cultura para os planos nacionais das Artes, da Leitura e do Cinema, o reforço do programa de apoio à criação literária, em número de bolsas e na abertura de uma linha de apoio à primeira obra, a contratação de arqueólogos, o apoio à actividade das colectividades de cultura, recreio e desporto, e a transferência de 1,5 milhões para a Câmara de Carregal do Sal, de novo pelo museu dedicado ao histórico cônsul português em Bordéus.

O PCP propõe ainda a construção do Centro Interpretativo da Resistência na freguesia do Couço, em Coruche, e do Museu de Abril e dos Valores Universais, em Santarém, a "valorização e protecção social" das tapeteiras de Arraiolos e dos artesãos dos bonecos de Estremoz, e a requalificação do Castelo de Arraiolos, da Anta Grande do Zambujeiro, em Évora, e do Mosteiro de Rendufe, em Amares.

Para a Casa Memória de Camões, em Constância, propõe o PCP que passe a designar-se Casa Nacional de Camões, num programa que envolva financiamento de obras de requalificação do edifício, contratação de pessoal e aquisição de meios que permitam a sua abertura ao público.

Da coligação PSD-CDS/PP chega mais uma proposta, além do IVA reduzido para a tauromaquia: a transferência para a câmara de Carregal do Sal do reembolso das despesas com a casa museu, a par de uma avaliação das necessidades financeiras e logísticas da Casa do Passal, em articulação com a Fundação Aristides de Sousa Mendes e o município.

As seis propostas de alteração ao OE2025 apresentadas pela Iniciativa Liberal (quatro) e pelo Partido Socialista (dois), que aguardam votação nas áreas da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, não dizem respeito ao sector da cultura, mas à comunicação social e ao desporto.

A votação na especialidade, em sede da Comissão de Orçamento e Finanças, tem início na próxima sexta-feira. A votação final global da proposta de OE2025 está marcada para 29 de Novembro.