Burla no MB Way: donos de animais perdidos são os novos alvos dos criminosos

Burlas feitas por falsos veterinários estão no radar da PSP desde o ano passado. Bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários alerta para pedidos de dinheiro feitos por MB Way.

Foto
Falsos veterinários pedem dinheiro aos donos de animais perdidos por MB Way Manuel Roberto
Ouça este artigo
00:00
04:56

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Os donos de animais perdidos estão a ser alvo de falsos veterinários que se aproveitam dos anúncios de desaparecimento para, alegando que o animal foi atropelado e precisa de uma cirurgia ou de um outro tratamento urgente, exigirem ao proprietário um pagamento. Esta burla já está no radar da PSP desde pelo menos o ano passado, apurou o PÚBLICO.

No entanto, novos casos chegaram agora à Ordem dos Médicos Veterinários. Em declarações à TSF, o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Pedro Fabrica, disse que a Ordem recebeu a primeira denúncia na semana passada na região de Santarém e, desde então, tem recebido vários alertas um pouco por todo o país.

Muitas pessoas que perdem o seu animal acabam por colocar um anúncio. Seja um anúncio em papel na zona circundante ou na zona onde acham que o animal se perdeu ou nas redes sociais. Depois, e como têm acesso ao número de telefone, ao nome do animal e à respectiva fotografia, os burlões simulam uma situação de emergência, dizendo que o animal está numa clínica e que precisa de uma cirurgia urgente, para o que reclamam o pagamento imediato a partir MB Way.

De acordo com Pedro Fabrica, no caso que lhes chegou, os donos do animal não fizeram a transferência porque, quando perguntaram onde se situava a clínica e se disponibilizaram para se deslocar ao local para fazer o pagamento, a chamada foi desligada. O bastonário deixou algumas recomendações: "Poderão usar o site da Ordem para ver se realmente o médico veterinário existe, está activo, e depois pedir os dados da clínica e dirigir-se ao sítio", aconselha, para acrescentar que os médicos veterinários, quando encontram um animal cujo dono não consigam identificar, asseguram os cuidados básicos de suporte de vida, "independentemente de saberem quem é o detentor".

Na PSP, as burlas representam actualmente 17,44% de toda a criminalidade denunciada. Esta força de segurança recebe em média 200 queixas de burla por dia e a dos falsos veterinários é apenas uma delas.

Já em Julho deste ano, em declarações ao PÚBLICO, o porta-voz da PSP, o subintendente Sérgio Soares, disse que esta polícia está cada vez mais atenta e tem intensificado as campanhas de prevenção para os diferentes modus operandi, "que vão evoluindo com o aparecimento das diferentes redes criminosas”.

Os crimes digitais foram os que mais aumentaram nos últimos anos e estão ligados a burlões com habilitações superiores no que diz respeito à tecnologia. São disso exemplo métodos como o "Olá pai, olá mãe" (responsável por perdas de cerca de seis milhões de euros), em que o potencial lesado recebe uma mensagem escrita, através da rede social WhatsApp, na qual um suposto conhecido refere que o seu telefone se extraviou ou se avariou e que mudou de número, pedindo uma elevada quantia de dinheiro para pagamento do arranjo ou para comprar um novo telemóvel, ou ainda para fazer face a uma qualquer despesa urgente, consoante os casos.

Na lista de burlas da PSP consta também outra burla frequente, a do falso inspector que liga a proprietários de estabelecimentos comerciais fazendo-se passar por um funcionário da Autoridade Tributária (AT) ou da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). Invocando uma infracção, o inspector ameaça suspender o processo se a vítima pagar uma multa.

Os falsos empréstimos de dinheiro também têm sido uma burla frequente. No primeiro contacto, os burlões começam por solicitar documentação e em seguida alegam que, para concluir o processo, terão de ser pagas taxas, seguros, imposto de selo, etc. A vítima paga e fica a aguardar a transferência do empréstimo, que nunca acontece.

As burlas com a compra e venda de viaturas também são uma realidade. Há dois métodos. O da transportadora que não existe, em que a vítima é induzida a pagar a despesa do transporte da viatura e o remanescente na entrega da mesma, que, claro, nunca acontece. O outro método pressupõe a existência de um intermediário. O burlão coloca anúncios clonados de viaturas apelativas das quais não é proprietário, utilizando fotografias e descrições já existentes. Mantém conversa com compradores e com o legítimo dono das viaturas até conseguir que ambos se encontrem para uma avaliação e concretizem o negócio. Posteriormente, o comprador acerta o pagamento com o burlão, para quem realiza a transferência, pensando que está a pagar ao verdadeiro dono.

A estes estratagemas acrescem o do falso bancário, do falso funcionário da Microsoft e da falsa operadora telefónica. Em todos, os contactos são feitos por telefone. Nos dois primeiros, o burlão faz crer à vitima que esta foi alvo de um ataque informático e que vai resolver o assunto através do envio de um link no qual deve clicar. A partir daqui, passa a aceder ao computador da vítima e às respectivas contas bancárias ou dados de cartão de crédito. No caso do falso funcionário de operadora telefónica, a vítima é levada a acreditar que pode adquirir um telemóvel topo de gama por um preço reduzido, se efectuar uma transferência no momento.

Dos 19.653 crimes de burla em 2021, passou-se para 23.982 em 2022 e para 30.342 no ano passado”, ou seja, nestes três anos, houve um aumento deste tipo de crime superior a 54%.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários