Burla no MB Way: donos de animais perdidos são os novos alvos dos criminosos
Burlas feitas por falsos veterinários estão no radar da PSP desde o ano passado. Bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários alerta para pedidos de dinheiro feitos por MB Way.
Os donos de animais perdidos estão a ser alvo de falsos veterinários que se aproveitam dos anúncios de desaparecimento para, alegando que o animal foi atropelado e precisa de uma cirurgia ou de um outro tratamento urgente, exigirem ao proprietário um pagamento. Esta burla já está no radar da PSP desde pelo menos o ano passado, apurou o PÚBLICO.
No entanto, novos casos chegaram agora à Ordem dos Médicos Veterinários. Em declarações à TSF, o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Pedro Fabrica, disse que a Ordem recebeu a primeira denúncia na semana passada na região de Santarém e, desde então, tem recebido vários alertas um pouco por todo o país.
Muitas pessoas que perdem o seu animal acabam por colocar um anúncio. Seja um anúncio em papel na zona circundante ou na zona onde acham que o animal se perdeu ou nas redes sociais. Depois, e como têm acesso ao número de telefone, ao nome do animal e à respectiva fotografia, os burlões simulam uma situação de emergência, dizendo que o animal está numa clínica e que precisa de uma cirurgia urgente, para o que reclamam o pagamento imediato a partir MB Way.
De acordo com Pedro Fabrica, no caso que lhes chegou, os donos do animal não fizeram a transferência porque, quando perguntaram onde se situava a clínica e se disponibilizaram para se deslocar ao local para fazer o pagamento, a chamada foi desligada. O bastonário deixou algumas recomendações: "Poderão usar o site da Ordem para ver se realmente o médico veterinário existe, está activo, e depois pedir os dados da clínica e dirigir-se ao sítio", aconselha, para acrescentar que os médicos veterinários, quando encontram um animal cujo dono não consigam identificar, asseguram os cuidados básicos de suporte de vida, "independentemente de saberem quem é o detentor".
Na PSP, as burlas representam actualmente 17,44% de toda a criminalidade denunciada. Esta força de segurança recebe em média 200 queixas de burla por dia e a dos falsos veterinários é apenas uma delas.
Já em Julho deste ano, em declarações ao PÚBLICO, o porta-voz da PSP, o subintendente Sérgio Soares, disse que esta polícia está cada vez mais atenta e tem intensificado as campanhas de prevenção para os diferentes modus operandi, "que vão evoluindo com o aparecimento das diferentes redes criminosas”.
Os crimes digitais foram os que mais aumentaram nos últimos anos e estão ligados a burlões com habilitações superiores no que diz respeito à tecnologia. São disso exemplo métodos como o "Olá pai, olá mãe" (responsável por perdas de cerca de seis milhões de euros), em que o potencial lesado recebe uma mensagem escrita, através da rede social WhatsApp, na qual um suposto conhecido refere que o seu telefone se extraviou ou se avariou e que mudou de número, pedindo uma elevada quantia de dinheiro para pagamento do arranjo ou para comprar um novo telemóvel, ou ainda para fazer face a uma qualquer despesa urgente, consoante os casos.
Na lista de burlas da PSP consta também outra burla frequente, a do falso inspector que liga a proprietários de estabelecimentos comerciais fazendo-se passar por um funcionário da Autoridade Tributária (AT) ou da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE). Invocando uma infracção, o inspector ameaça suspender o processo se a vítima pagar uma multa.
Os falsos empréstimos de dinheiro também têm sido uma burla frequente. No primeiro contacto, os burlões começam por solicitar documentação e em seguida alegam que, para concluir o processo, terão de ser pagas taxas, seguros, imposto de selo, etc. A vítima paga e fica a aguardar a transferência do empréstimo, que nunca acontece.
As burlas com a compra e venda de viaturas também são uma realidade. Há dois métodos. O da transportadora que não existe, em que a vítima é induzida a pagar a despesa do transporte da viatura e o remanescente na entrega da mesma, que, claro, nunca acontece. O outro método pressupõe a existência de um intermediário. O burlão coloca anúncios clonados de viaturas apelativas das quais não é proprietário, utilizando fotografias e descrições já existentes. Mantém conversa com compradores e com o legítimo dono das viaturas até conseguir que ambos se encontrem para uma avaliação e concretizem o negócio. Posteriormente, o comprador acerta o pagamento com o burlão, para quem realiza a transferência, pensando que está a pagar ao verdadeiro dono.
A estes estratagemas acrescem o do falso bancário, do falso funcionário da Microsoft e da falsa operadora telefónica. Em todos, os contactos são feitos por telefone. Nos dois primeiros, o burlão faz crer à vitima que esta foi alvo de um ataque informático e que vai resolver o assunto através do envio de um link no qual deve clicar. A partir daqui, passa a aceder ao computador da vítima e às respectivas contas bancárias ou dados de cartão de crédito. No caso do falso funcionário de operadora telefónica, a vítima é levada a acreditar que pode adquirir um telemóvel topo de gama por um preço reduzido, se efectuar uma transferência no momento.
Dos 19.653 crimes de burla em 2021, passou-se para 23.982 em 2022 e para 30.342 no ano passado”, ou seja, nestes três anos, houve um aumento deste tipo de crime superior a 54%.