Comboio de alimentos com destino a Gaza “violentamente saqueado”
Agências da ONU alertam para fome “iminente” que pode agravar-se com limitações à actuação da UNRWA.
Um comboio de 109 camiões foi "violentamente saqueado" no fim-de-semana, depois de ter entrado em Gaza, resultando na perda de 98 camiões, informa a UNRWA, em comunicado enviado à Reuters. Os veículos transportavam alimentos fornecidos pelas agências das Nações Unidos e pelo Programa Alimentar Mundial.
Os veículos foram instruídos a passar através de uma rota desconhecida, na passagem de Kerem Shalom, no Sul de Gaza, disse Louise Wateridge, oficial sénior de Emergência da UNRWA, à Reuters. Trata-se, segundo os trabalhadores humanitários, de um dos piores incidentes deste tipo na guerra que dura há mais de um ano.
“Este incidente realça a gravidade dos desafios de acesso para levar ajuda para o Sul e Centro de Gaza”, disse Louise Wateridge, acrescentando que houve feridos no incidente.
“A urgência da crise não pode ser ignorada; sem uma intervenção imediata, a forte escassez de alimentos deverá agravar-se, pondo ainda mais em perigo a vida de mais de dois milhões de pessoas que dependem da ajuda humanitária para sobreviver”, afirmou.
A COGAT, a agência militar israelita que trata dos assuntos civis palestinianos, não respondeu de imediato a um pedido de comentário por parte da Reuters. A agência afirma que faz tudo o que está ao seu alcance para garantir a entrada de ajuda suficiente no enclave costeiro e que Israel não impede a entrada de ajuda humanitária.
Funcionários da ONU disseram na sexta-feira que o acesso à ajuda em Gaza atingiu um ponto crítico, com entregas em partes do Norte do enclave, alvo de fortes ataques por parte das Forças de Defesa de Israel (IDF na sigla em inglês) desde Outubro, praticamente impossíveis.
"Temos dias, não semanas"
A única alternativa ao trabalho da UNRWA em Gaza é permitir que Israel assuma o controlo dessas funções, alertou, nesta segunda-feira, o responsável da UNRWA, Philippe Lazzarini, em Genebra, depois de o Parlamento israelita ter aprovado, no final de Outubro, um projecto de lei que prevê que a agência fique impedida de actuar dentro de Israel.
“Chamei a atenção de vários Estados para o facto de o tempo estar a passar. Temos de parar ou impedir a implementação deste projecto de lei”, disse aos jornalistas, afirmando que não há alternativa aos serviços da agência em Gaza, para além de permitir que Israel os assuma.
Entretanto, o Comité Internacional de Resgate (IRC, na sigla em Inglês) exigiu a Israel que permitisse a entrada de alimentos no Norte de Gaza, depois de um relatório do Comité de Revisão da Fome, que inclui 15 organizações das Nações Unidas, ter aludido para a situação "iminente" de fome naquela zona do enclave palestiniano.
Em comunicado, citado pela Al Jazeera, o IRC afirma que o relatório, publicado há duas semanas, assinala uma “deterioração acentuada e alarmante” desde o relatório do mês passado, que previa uma “triplicação” do número de pessoas que enfrentam carências alimentares nos próximos meses.
“O pior cenário possível pode já estar a acontecer: em toda a Faixa de Gaza, a fome, a subnutrição e o excesso de mortalidade devido à subnutrição e à doença estão a aumentar rapidamente. A situação é crítica. Temos dias, não semanas, para tomar medidas decisivas para aliviar estas condições terríveis”, afirmou o IRC.
“O Governo de Israel tem de cumprir as suas obrigações para garantir que as pessoas em Gaza possam ter acesso a alimentos, medicamentos e outras necessidades básicas para a sobrevivência da população. A vida está agora em risco”, acrescentou o comunicado.