Prémio Sonae Educação premeia projectos com impacto
Pelo segundo ano consecutivo, o Prémio Sonae Educação destacou o que de melhor se faz pela inovação e pelo impacto da educação, em Portugal.
A Sonae elegeu três novos projectos de educação como vencedores da 2.ª edição do Prémio Sonae Educação, que foram apoiados com 50.000 euros, cada, para continuarem a desenvolver os seus projectos inovadores e com impacto no sistema educativo.
A cerimónia de entrega dos prémios teve lugar no Centro Cultural de Belém, a 5 de Novembro, e serviu de mote para uma reflexão sobre projectos de educação com impacto.
A tarde foi dedicada às ideias e a projectos inovadores e com impacto, abordando questões essenciais do sector. O início do evento foi conduzido por João Günther Amaral, Chief Development Officer e Executive Board Member da Sonae, que frisou o poder transformador da educação para alargar horizontes e promover experiências. Enfatizou, ainda, o papel crucial deste sector na sociedade, ressalvando o orgulho da Sonae em contribuir para este campo, ao estabelecer um compromisso com projectos de impacto directo e duradouro.
O evento contou com o contributo de vários especialistas, nomeadamente do ex-ministro da Educação David Justino que fez um retrato da educação e do sistema educativo português, explicando que, apesar tudo, tem uma “visão optimista” da educação. Sociólogo de formação e académico, destacou os principais problemas e desafios do sector, enfatizando o problema da falta de professores e o decréscimo na qualidade das aprendizagens.
Na perspectiva de David Justino, é necessário ter um novo perfil de professor, com uma formação inicial e contínua mais rigorosa e mais direccionada para a inovação, e que permita a profissionalização docente com um nível de exigência elevado, sem a actual “proletarização da classe” e falta de “selectividade no recrutamento”. “Se queremos ter uma boa escola pública temos de recrutar os melhores professores. Isso tem efeitos no que se ensina e no que se aprende”, defendeu.
O impacto dos projectos como ponto central
Mas afinal o que é um projecto com impacto? Como é que se pode medir e compreender o progresso? O impacto era o tema central da 2.ª edição do Prémio Sonae Educação. E foram estas primeiras questões que o painel “Como criar um projecto de educação com impacto?” – que contou com o contributo de Assunção Flores, Nuno Comando, e Pedro Freitas, com moderação da jornalista Andreia Sanches – procurou responder.
Foi unânime que o impacto de um projecto é um processo longo e difícil de medir, uma vez que o contexto dos alunos, quer ao nível do ensino quer ao nível pessoal e familiar, influenciam invariavelmente a forma como um projecto funcionará e os seus resultados. A implementação é, por isso, um dos momentos mais importantes para definir o seu progresso e sucesso. “Muitas vezes os projectos falham precisamente por causa da sua implementação”, explicou o economista Pedro Freitas. E Nuno Comando, da Casa do Impacto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, complementou que os diferentes ambientes em que os projectos são implementados alteram tudo e é, por isso, importante conhecer o que as escolas e os alunos precisam e “testar, testar, testar”.
“Quando se desenvolvem projectos em educação há algo fundamental – o sentido do projecto”, destacou Assunção Flores, docente da Universidade do Minho. No entanto, “mais um projecto” para um professor pode significar uma dificuldade acrescida, o que condiciona toda a actividade à partida”, destacou. Na perspectiva de Pedro Freitas, é preciso que os professores estejam envolvidos com a implementação das mudanças e dos projectos no seu currículo, apesar de Assunção Flores alertar para a falta de flexibilidade nos tempos de aprendizagem, o que limita o início de novos projectos na escola.
Nuno Comando apontou que, para a criação destes projectos, a relação das escolas com as autarquias, por exemplo, pode ajudar a desbloquear a entrada nas escolas. E esta sinergia de instituições é muito significativa, já que, quando um projecto tem sucesso e mostra de forma clara as mais valias de o adoptar, a entrada noutros agrupamentos é muito mais simples.
Pedro Freitas, no final deste painel, alertou para a necessidade de métricas que permitam comparar de forma correcta os impactos e a sustentabilidade temporal dos projectos. Paulo Teixeira procurou ajudar nesta questão na apresentação: “O que é preciso avaliar num projecto com impacto na educação?”.
O especialista da Logframe deu a conhecer os critérios essenciais para avaliar o impacto de projectos. Destacando que, a medição de impacto é importante para a tomada de decisão, para a prestação de contas e para aprendizagem institucional – e os três complementam-se. E para a conseguir, é necessário pôr em prática os critérios de avaliação (tal como num teste), sendo eles a qualidade, o rigor metodológico, a continuidade e a sustentabilidade.
E esta última vai além da sustentabilidade temporal ou das mudanças que se operam ao nível dos resultados académicos. Se “não mudámos a vontade intrínseca do aluno para estudar e para melhorar os seus resultados”, então, “não é produzido impacto”, alertou Paulo Teixeira.
Os exemplos do impacto
Pedro Freitas, ainda no painel no qual discutiu, alertou que na criação ou desenvolvimento de um projecto é preciso perceber o que está a funcionar em vez de estar sempre à procura da “quimera”. Foi isso que os exemplos apresentados nesta 2.ª edição do Prémio Sonae Educação procuraram demonstrar.
Marta Cunha, da New Carreer Network by R4E, apresentou a Reskilling for Employment: R4E, uma plataforma digital criada a pensar na requalificação. Já Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, falou dos diversos projectos de inclusão já implementados no concelho, afirmando que a preocupação em combater a exclusão. Ao nível da excelência escolar foi, ainda, apresentado o caso do Colégio Efanor, no Porto, através das palavras do director João Trigo.
No que concerne a projectos de impacto ao nível tecnológico, foi dado a conhecer o Microsoft Inovative Educator Expert, que, de acordo com Rita Serra da Microsoft Portugal, fomenta a formação para professores para que possam inspirar as gerações futuras, impulsionar mudanças nas escolas e no sistema educativo. E como o professor Rui Lima, que integra o projecto, explicou, “não se trata de utilizar tecnologia na sala de aula, ou sequer de usar a sala de aula, mas tem a ver com o inovar no processo de aprendizagem”.
Os novos projectos do Prémio Sonae Educação
Antes de anunciar os grandes vencedores do prémio, foi feito um balanço com os vencedores da 1.ª edição – a EKUI, representada por Celmira Macedo, e a No Code, representada por Miguel Nuñoz – que deram o seu testemunho sobre a importância e o contributo deste prémio para os seus projectos. Os dois vencedores de 2023 foram unânimes: “o foco do prémio é olhar para o futuro”.
Após a confirmação de uma 3.ª edição desta iniciativa, ficou a conhecer-se a decisão “unânime” do júri sobre os vencedores da 2.ª edição do Prémio Sonae Educação: CiberEscola, MyPolis - Agentes da Cidadania 2.0 e Teach for Portugal foram os premiados com 50.000 euros cada um.
Inovação na educação: o caminho contínuo de transformação
O secretário de Estado da Administração e Inovação Educativa, Pedro Cunha, encerrou a cerimónia com um olhar para a inovação na educação como um processo contínuo.
O secretário de Estado defendeu que a educação pública, em Portugal, alcançou o feito notável “de escolarizar um país inteiro em quatro décadas”, mas continua a ser necessário promover uma cultura de experimentação e liberdade para testar novas abordagens pedagógicas. Enfatizou ainda que a sociedade civil desempenha um papel fundamental no apoio à transformação educacional. “Inovar, testar, avaliar, aprender e escalar é o maior contributo que o Prémio Sonae pode trazer ao sistema e eu estou-vos muito grato”, colmatou.
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