Governo muda liderança da agência que gere a dívida
Joaquim Miranda Sarmento tinha sido crítico da actuação do IGCP em 2023. Agora irá operar uma mudança de presidente da entidade que gere a dívida pública portuguesa.
Depois de, durante a anterior legislatura, ter feito várias críticas às medidas tomadas na gestão da dívida pública, Joaquim Miranda Sarmento decidiu agora não reconduzir para um novo mandato o ainda presidente da entidade que tem essa tarefa em Portugal.
A notícia foi avançada nesta segunda-feira pelo jornal Eco e entretanto confirmada pelo PÚBLICO. Miguel Martín, o ainda presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública — IGCP, não irá ser reconduzido no cargo quando terminar o seu mandato no final do ano, sendo substituído por Pedro Cabeços.
Miguel Martín foi nomeado por Fernando Medina em 2022 para a presidência do IGCP — a entidade que tem como missão gerir a dívida pública portuguesa, assegurando por exemplo que o Estado obtém o financiamento de que precisa através da emissão de títulos de dívida nos mercados financeiros internacionais ou da colocação de Certificados de Aforro.
Foi ele que, como presidente do IGCP, teve de enfrentar, devido à reacção do BCE à crise inflacionista, uma conjuntura de subida geral das taxas de juro na zona euro, que conduziram ao agravamento dos custos de financiamento do Estado português.
No final de 2023, o rácio da dívida pública portuguesa no PIB acabou por regressar, ao fim de mais de uma década, a um valor inferior a 100%. E na oposição, várias vozes, incluindo as do actual ministro das Finanças, Miranda Sarmento, acusaram o Governo de, através do IGCP, usar as disponibilidades de tesouraria de diversas empresas públicas e dos fundos da Segurança Social para acelerar de forma artificial o processo de descida do rácio da dívida.
Foi igualmente alvo de muitas críticas por parte dos partidos da oposição a suspensão da anterior série de Certificados de Aforro em 2023, decisão também posta em prática com Miguel Martín à frente do IGCP.
O ainda presidente da entidade, já durante a presente legislatura, negou, em audições na Assembleia da República, essas acusações, defendendo as opções tomadas nessa altura.
O escolhido por Joaquim Miranda Sarmento para substituir Miguel Martín é Pedro Cabeços, licenciado em Economia pelo ISEG, com experiência profissional no sector financeiro em bancos de investimento como o Morgan Stanley e o Royal Bank of Scotland. De acordo com a sua conta na rede Linkedin, conta igualmente com uma passagem, há duas décadas, pelo IGCP, onde esteve durante quatro anos como trader.