Uma parte do plano “Água que Une”, que está a ser desenhado pelo Governo, destinado a mitigar os efeitos da seca, garantir uma gestão mais eficiente da água no país e também regularizar os efeitos das cheias, já está em marcha no Algarve. “Na passada sexta-feira abrimos as propostas para o projecto de execução da barragem [em Alportel]. Ganhou a Coba – Consultores de Engenharia e Ambiente, SA”, confirma Macário Correia, presidente da Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio (ABPRSA), ao PÚBLICO.
Esta segunda-feira, o PÚBLICO avançou que o Governo prepara um grande plano de intervenção em barragens para prevenir cheias e secas. No âmbito do plano para uma gestão mais eficaz da água que está ainda em fase de preparação, prevê-se a construção de três novas barragens, no Baixo Vouga, no Mondego e em Alportel.
A construção das barragens da Foupana e do Alportel representa uma disponibilidade de água para o Algarve “três vezes superior à capacidade da dessalinizadora, com cerca de metade do custo”, adiantou o presidente da ABPRSA – parceira do Governo no desenvolvimento do processo de construção das duas infra-estruturas, questionado sobre o plano anunciado pelo Governo.
A barragem do Alportel “não deixa de ser uma infra-estrutura importante, apesar de não se situar no concelho de São Brás de Alportel, como há décadas andamos a defender”, reage o presidente da câmara, Vítor Guerreiro, em declarações ao PÚBLICO. O autarca socialista defende que o novo equipamento “não inviabiliza a construção de açudes na serra, como está previsto no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que desempenha um papel importante na manutenção da biodiversidade e regularização dos caudais das linhas de água”. Para discutir o assunto, adiantou, tem marcada uma reunião, no dia 11 de Janeiro, com a ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho.
Sobre as medidas previstas para minimizar danos de cheias na região Macário Correia lembra a enxurrada que caiu na zona central da área no sábado. “No sábado de manhã, por um ou dois centímetros (e não falo em sentido figurado) a Baixa da cidade de Tavira não ficou completamente inundada”, refere o antigo presidente de câmara do concelho, actual dirigente do movimento representativo dos agricultores algarvios. Felizmente, a chuva coincidiu com a maré baixa.
A nova barragem a ser construída em Alportel terá um papel na prevenção das cheias, recolhendo parte da água caída na serra do Caldeirão, e ficará situada a sete quilómetros de Tavira. Assim, há já muito tempo que este projecto é justificado por motivos de protecção civil: regularizar o sistema de cheias. “No final do Verão, a barragem ficará seca [, para poder receber as águas das chuvas do Outono e Inverno]”, sublinha.
Por outro lado, diz o ex-autarca, esta reserva aumenta o volume das disponibilidades hídricas. “Não vamos aumentar o perímetro de rega – só que, em vez de ir buscar água a Odeleite, vamos buscar ao Alportel”, esclarece.
O potencial volume de água a reter na ribeira do Alportel é de 10hm3, num ano de pluviosidade normal – o equivalente, diz Macário Correia, a 40% dos gastos da agricultura no sotavento algarvio. O custo do projecto é de 350 mil euros, e o concurso foi lançado pela ABPRSA, no quadro da resolução do Conselho de Ministros do passado mês de Junho, para combater a seca estrutural do Algarve. No mesmo sentido, “está em marcha o projecto da barragem da Foupana”, cujo projecto custou mais de 500 mil euros.
Para a construção dos dois equipamentos, adiantou, “está estimado um valor entre 50 e 60 milhões e euros – metade do custo da dessalinizadora, fornecendo o triplo da água”.
A construção da barragem do Alportel começou a ser desenhada há cerca de um século. Mais tarde, na década de 1980, quando uma das secas que fustiga a região de forma cíclica já era cada vez mais intensa, o então presidente da Câmara de São Brás de Alportel, António Bica, veio defender que este seria o equipamento, “imprescindível” para garantir o abastecimento às populações dos concelhos Loulé e São Brás de Alportel, uma vez que a zona central da região estava desprovida de reservas de água à superfície – ao contrário do que se passava nos extremos do Algarve – barlavento (Portimão) e sotavento (Tavira).