Na noite de quinta-feira vi a haka que a jovem deputada neozelandesa do Partido Maori iniciou, tendo sido seguida pelos seus colegas de bancada e por quem estava nas galerias do Parlamento da Nova Zelândia. Em causa uma proposta de lei de um partido liberal para retirar direitos aos maoris com o argumento que todos devem ter os mesmos direitos, típico de quem é privilegiado e, intencionalmente, ignora que não nascemos todos iguais.

Adoro hakas, confesso. Emociono-me com os feitos pelos All Blacks, a selecção de râguebi daquele país, choro com os da equipa feminina. Acho espantoso ver aqueles homens e mulheres enormes, naquela dança dominante com gestos provocatórios e orgulhosos, com palavras repetidas há séculos, homens e mulheres de diferentes etnias mas unidos pela mesma cultura e ancestralidade. E, essa união repete-se no Parlamento neozelandês, com a dança cerimonial que Hana-Rawhiti Maipi-Clarke entoa enquanto rasga a proposta: nas galerias vêem-se homens e mulheres de todas as cores, a repetirem as mesmas palavras e movimentos, mais ou menos coordenados, mas com a mesma intenção, mostrar o seu protesto e a sua união.

Na sexta de manhã, a haka de Maipi-Clarke insiste em aparecer-me nas redes sociais, nas contas dos principais jornais britânicos e norte-americanos (é o algoritmo, eu sei...). O que me impressiona são as reacções dos leitores, em vez de destilarem ódio, são de elogio e de esperança. Partilho o do The New York Times num grupo de família no WhatsApp e sublinho o comentário com mais gostos no momento: "Esta é a energia de que precisamos para 2025." Quando o PÚBLICO o partilha, um dos comentários com mais likes diz: "Quando não estamos a lutar, estamos a perder."

A união dos povos — que tanto se reflectiu na liderança de Jacinda Ardern, que deu um nome maori à sua filha, Neve Te Aroha — é o que qualquer um de nós deseja e, por isso, os milhares de comentários positivos nas publicações sobre o que se passou no Parlamento neozelandês. Depois de uma semana a conhecer a equipa de Trump; de Israel repetir no Líbano o mesmo modus operandi com que tem vindo a castigar Gaza; de o Governo nacional, após 11 mortes continuar sem ter uma palavra a dizer às famílias; fazia-nos falta um sinal de esperança nas instituições, mesmo que sejam do outro lado do mundo e, aparentemente, não nos afectarem directamente. 

De regresso ao futuro ocupante da Casa Branca, esta semana, a actriz Eva Longoria anunciou que vai deixar o país, que apelidou de "distópico"; e muitas celebridades estão a seguir os passos de meios de comunicação como o The Guardian e La Vanguardia, de instituições e outros que estão a abandonar a rede social X (antigo Twitter) de Elon Musk, por não se reverem no discurso de ódio. Mas nem todos estão de acordo com este abandono.

Lembrei-me do comentário da leitora do PÚBLICO — "Quando não estamos a lutar, estamos a perder." — enquanto ouvia o podcast de Catarina Furtado que, esta semana, é sobre racismo, xenofobia e interseccionalidade, com um aluno de origem brasileira, Pedro Moraes, e a professora e colunista deste jornal, Luísa Semedo. Dar luta é saber responder com informação correcta, declara o jovem de 17 anos, que sabe o que é sofrer na pele o racismo. Luísa Semedo lembra que o conceito de raça, de gente inferior e superior, é uma construção baseada no medo da diferença.

Podemos ser responsáveis por "micromudanças", propõe o ilustrador Evandro Renan, no Letra Pequena desta semana. E, para isso, nada como educarmos os nossos filhos para aprender a adiar a gratificação, aprender a ter paciência, a compreender a capacidade de esperar, que pode contribuir para o altruísmo, desvendam Ana e Isabel Stilwell, no podcast Birras de Mãe.

E, por falar em espera e paciência, fecho esta newsletter com a experiência original de João da Silva, que depois de nos dar a conhecer 18 bibliotecas, decidiu passar uma noite na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira. Resultado: escreveu três crónicas trabalhosas e imaginativas sobre o crepúsculo, a madrugada e o amanhecer, revelando como as bibliotecas são espaços cheios de vida e de movimento.

Por falar em movimento, no próximo domingo é dia de publicarmos a revista Ímpar — que sai semestralmente, com a edição impressa do PÚBLICO — e o tema é precisamente o movimento e não digo mais nada!

Boa semana!