De Mourão ao Feiticeiro de Oz

“Naquelas ruas dá gosto andar, temos tempo para isso: ”, escreve a leitora Francisca Moy.

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Mourão Francisca Moy
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Foi com alguma surpresa que, numa noite como todas as outras, eu e os meus pais recebemos o convite dos meus tios para ir com eles uma semana para Mourão. Desconhecia por completo a localidade, mas rapidamente me apaixonei por ela e pelos seus ares.

Chegámos sábado de manhã ao nosso destino e fomos logo abraçados pelo característico calor alentejano, bem como por outras diversas tradições (gastronómicas, de artesanato) e, acima de tudo, pela calma, quase como que crónica e muito invejável, das pessoas alentejanas.

As casas tradicionais típicas da zona são lindíssimas e, tão importante quanto isso, um óptimo ambiente para criar ou fortalecer as relações que estabelecemos com os nossos “colegas de casa”. “Coloridas”, “acolhedoras”, “fininhas mas compridas” são palavras perfeitas para descrever as habitações por lá. Conseguíamos sentir o calor, o abraço, o acolhimento daquela localidade tão importante na nossa história, pelas paredes, pelas lâmpadas e pelo silêncio nada constrangedor, muito confortável e que não deixava ouvir mais nada a partir das nove e meia da noite.

No nosso dia-a-dia é frequente sentirmos aquele desgosto de ter de acordar cedo, mas, em Mourão, não é assim. O padeiro fazia todos os dias a cortesia de ir deixar o pão fresquinho e quentinho num saquinho pendurado na maçanetinha da nossa porta. E que sentimento incrível o de ir buscar o pãozinho à porta! Sentir aquele cheirinho misturado com o da manhã a entrar pelo meu narizinho! Acalmava-me tanto quanto passear naquelas ruas ao fim do dia. Passeios ao fim do dia? Sim! Naquelas ruas dá gosto andar, temos tempo para isso: é como se ali o tempo estivesse parado e só o que acontecia na fuga que fazíamos por entre os ponteiros do relógio acontecesse.

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Nesta localidade parecia que até o sol brilhava de uma maneira diferente. Ou, se calhar, via-se só melhor por não termos todos os fumos da cidade a obstruir o campo de visão. Lembro-me, por exemplo, da visita, ao entardecer, ao Castelo de Mourão. Nesse dia vi no pôr-do-sol cores que nunca vira e que, desde que voltei de Mourão, não voltei a ver. Via-se tudo: cada raio em cada ângulo e cor e feitio a projectar nas centenárias pedras do castelo formas encantadoras. Falando mais da vista que tivemos lá de cima, sublinho os tons amarelados que cobriam as planícies vastas daquele Alentejo mágico que tanto me ensinou de modo aconchegante e agradável, passando, mais uma vez, a mesma sensação de serenidade, harmonia e paz.

O sentimento de ser embalada pelas noites quentes de Mourão é daqueles por que seria capaz de, agora, neste preciso momento, largar tudo para o poder voltar a sentir: os assobios da brisa morna e o lusco-fusco dos clássicos candeeiros de metal pintado daquele verde bem escuro davam a essas horas um toque de filme bucólico à anos vinte misturado com O Feiticeiro de Oz.

Francisca Moy

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