Uma “granada pacífica” quer ajudar-te a chegar a casa em segurança
Quando é accionado, o dispositivo FlamAid emite um sinal sonoro e partilha a localização da vítima com três contactos de emergência. Alerta para as autoridades está disponivel através de subscrição.
O objectivo é garantir que “toda a gente chega a casa”. As palavras são de Julieta Rueff, a criadora do FlamAid: um dispositivo em forma de granada, que, quando accionado, emite um alarme sonoro de 110 decibéis e partilha a localização do utilizador com contactos de emergência.
A jovem de 23 anos responsável pelo produto admite que a escolha do formato pode parecer “um paradoxo”, mas explica que, após passar por situações de emergência e não ter conseguido utilizar o spray pimenta, precisava de um dispositivo mais prático.
Trata-se de uma forma de “defesa passiva”, ao contrário de outros recursos que “podem gerar mais violência numa situação de emergência”, defende, dando novamente o exemplo do spray pimenta ou de uma arma branca.
"Investiguei sobre isso e descobri que a granada de mão era a arma mais fácil de activar do mundo, então decidir tirar tudo o que havia de agressivo de uma granada e pôr só métodos passivos”, clarifica a portuguesa a viver em Espanha.
Quanto à eficácia do sinal sonoro, admite ter sido inspirados nos alarmes utilizados para proteger habitações. “Um dos mecanismos que se activa nesse tipo de situações, e que está verificado e validado, é o som, porque é dissuasor: ataca o agressor e faz com que dê conta de que foi descoberto, mas também tem uma segunda função, que é a de alertar as pessoas que estão ao nosso redor de que está a acontecer uma situação de emergência.”
@esflamaid #duo amb @Julieta Rueff #parati ? Monkeys Spinning Monkeys - Kevin MacLeod & Kevin The Monkey
A startup disponibiliza ainda uma aplicação gratuita, que pode ser utilizada sem o dispositivo. Através dessa aplicação, o utilizador pode enviar um sinal de alerta para três contactos de emergência, que irão receber uma notificação no seu telemóvel (para tal também terão de ter a aplicação instalada) com o alerta e a localização GPS da vítima.
No entanto, a empresa recomenda o uso do dispositivo em conjunto com a app, porque "na maior parte dos casos onde alguém é agredido ou interpelado à noite, a primeira coisa que se tira à vítima é o telemóvel”, alerta Julieta, salientando que “muitas vezes está dentro da mala, e são muitos passos: pegar no telemóvel, desbloquear e entrar na aplicação e carregar no botão". Caso o utilizador possua um dispositivo FlamAid, o alerta é enviado de forma automática assim que a granada for “accionada”.
A possibilidade de o alerta ser também reencaminhado para as autoridades está disponível, mas apenas através de uma subscrição mensal com o valor de 6,99 euros. Neste momento, esta funcionalidade ainda só está disponível em Espanha, mas Julieta Rueff estima que “até ao princípio de 2025” seja possível alargar este complemento a outros países europeus.
A ideia surgiu depois de Julieta ter passado por uma situação em que se sentiu insegura nas ruas de Barcelona, cidade para onde se mudou aos dez anos. "Durante uns meses, havia um rapaz que me seguia até casa. Essa pessoa sabia as minhas rotinas, vivia na mesma zona da cidade, esperava por mim fora de casa, tentava falar comigo na rua, agarrar-me pelo braço… Foi uma situação me começou a dar bastante medo, e por acaso até demorei bastante a falar sobre isso porque era um tema que me dava imensa vergonha.”
"Dei-me conta que todas nós temos uma história deste tipo", partilha.
Quanto à utilização prática do produto, Julieta Rueff destaca alguns comentários positivos que tem recebido através das redes sociais: "Recebemos um comentário muito bonito no outro dia, de uma miúda a dizer que antes caminhava com as chaves entre as mãos, e que agora caminha com a FlamAid entre as mãos".
A criadora do dispositivo garante que, para além da tecnologia, a empresa tem um foco no carácter social da questão, salientando que “não devia haver violência e insegurança na rua, e isso vai mudar a partir da educação”.
Texto editado por Renata Monteiro