Zelensky espera que guerra termine mais rapidamente com Trump na Casa Branca

O Presidente ucraniano disse estar preparado para fazer tudo para que a guerra com a Rússia termine no próximo ano através de negociações.

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Volodymyr Zelensky diz que irá fazer tudo para acabar com a guerra durante o próximo ano MAXYM MARUSENKO / EPA
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O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse acreditar que a guerra em curso no seu país há mais de dois anos e meio irá terminar mais cedo do que o esperado assim que Donald Trump tomar posse como Presidente dos EUA.

Numa entrevista à rádio ucraniana Suspilne emitida este sábado, Zelensky garantiu estar disponível para fazer tudo ao seu alcance para pôr fim ao conflito com a Rússia através de negociações. “Da nossa parte, devemos fazer tudo para que esta guerra termine no próximo ano, e que termine através de meios diplomáticos”, afirmou.

Num claro aceno a Trump, Zelensky disse estar convicto de que o seu regresso à Casa Branca irá permitir que a guerra termine mais rapidamente, fazendo eco das promessas do republicano de que seria capaz de pôr fim ao conflito entre a Ucrânia e a Rússia em 24 horas. Ainda assim, o Presidente ucraniano recordou que Washington não se deve posicionar como um mediador neutro, assumindo os receios sobre a alegada proximidade entre Trump e o Presidente russo, Vladimir Putin.

“A América deve manter a posição de que a Rússia é um agressor, que violou a nossa integridade territorial, assim como o direito internacional”, declarou Zelensky.

Há receios de que Trump, assim que tomar posse, ponha em causa o apoio militar e financeiro dos EUA à Ucrânia e pressione Kiev a negociar com Moscovo a partir de uma posição de fragilidade que venha obrigar as autoridades ucranianas a fazer concessões que para a generalidade da população são inaceitáveis.

Trump tem repetido que está contra a manutenção do apoio dos EUA à Ucrânia e incentivou o Partido Republicano a bloquear a aprovação no Congresso de um importante pacote de ajuda durante vários meses.

Zelensky recordou que a lei norte-americana o impede de manter contactos directos com o Presidente eleito e, por isso, disse aguardar pela tomada de posse, marcada para 20 de Janeiro, para falar directamente com Trump. “Eu, como Presidente da Ucrânia, apenas irei levar a sério uma conversa com o Presidente dos EUA, com todo o respeito pelo resto da equipa”, explicou.

Apesar de se mostrar disponível para futuras negociações, Zelensky disse não acreditar que Putin partilhe do mesmo sentimento e deixou um alerta para os líderes ocidentais. “Não creio que Putin queira paz de todo. Mas isto não significa que ele não queira sentar-se com um dos líderes” [dos países ocidentais], explicou.

“Para si, isto destrói o isolamento político que foi sendo construído desde o início da guerra, e beneficia-o sentar-se, conversar e não chegar a um acordo”, acrescentou Zelensky.

Na véspera, o Presidente ucraniano criticou o telefonema entre o chanceler alemão, Olaf Scholz, e Putin – a primeira conversa pública entre o Presidente russo e o líder de um grande país ocidental em mais de dois anos.

Zelensky disse que o telefonema corre o risco de abrir “uma caixa de Pandora” para outras conversas entre Putin e os líderes do Ocidente que podem alimentar a narrativa do Kremlin de que a invasão não deixou o país diplomaticamente isolado. “Isto é exactamente aquilo pelo qual Putin tem esperado muito tempo: é extremamente importante para si enfraquecer o seu isolamento, o isolamento da Rússia, e conduzir negociações normais que não irão acabar com nada”, afirmou Zelensky.

No telefonema, de acordo com os relatos de Berlim e Moscovo, as duas partes apenas reforçaram as suas posições sem que nada de substantivo tenha sido aparentemente alcançado. Scholz reafirmou a continuidade do apoio da Alemanha à Ucrânia enquanto a Rússia ocupar militarmente território ucraniano, pediu o fim dos combates e condenou os ataques contra a população civil.

Putin, pelo seu lado, voltou a dizer que qualquer negociação política para pôr fim à guerra deverá reflectir as “novas realidades territoriais” e “resolver as causas na origem do conflito”. Ou seja, Moscovo insiste no reconhecimento das ocupações territoriais de quatro regiões ucranianas e da Crimeia, para além de uma garantia de neutralidade da Ucrânia, impedindo o país de integrar a NATO.

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