Morreu Pedro Guerra, comentador e antigo director de conteúdos da BTV. Está na “grande redacção da eternidade”

Ganhou notoriedade como comentador televisivo afecto ao Benfica, mas chegou a ser uma figura central n’ O Independente antes de sair para ser assessor de Paulo Portas. Morreu aos 58 anos.

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Pedro Guerra ganhou notoriedade como comentador televisivo afecto ao Benfica TVI 24/DR
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O comentador televisivo Pedro Guerra, antigo jornalista, assessor do então ministro da Defesa Paulo Portas e director de conteúdos da BTV, morreu na sexta-feira, aos 58 anos, vítima de cancro, informou este sábado a CMTV, na qual colaborava.

Nascido a 3 de Março de 1966, em Moçâmedes, Angola, Pedro Fernando dos Santos Alves Guerra trabalhou como arquivista n'O Jornal, antes de ser jornalista de Desporto n'O Independente, sob a direcção de Paulo Portas, a quem assessorou depois no Ministério da Defesa.

Ganhou notoriedade como comentador televisivo afecto ao Benfica, no qual foi director de conteúdos da BTV, com passagem por programas de debate em canais como a TVI e, mais recentemente, a CMTV. Protagonizava debates por vezes fervorosos com comentadores afectos a outros clubes, nomeadamente Manuel Serrão (FC Porto) e Eduardo Barroso (Sporting CP). Um desses episódios vem até descrito no livro que publicou em 2010, Alma Benfiquista.

"O programa acabou com o referido senhor a (…) dirigir-se a mim em termos muito agressivos, chegando mesmo a dizer que, se fosse mais novo, fazia e acontecia. Limitei-me a retirar os óculos calmamente e a desafiá-lo: ‘Vá lá, quer bater-me, não é? Veja lá se é capaz! Ou será que não passa de um cobarde?’ Este ainda cerrou as mãos e Bruno de Carvalho gritou-lhe: ‘Ó Eduardo, não faça isso! Isso é o que ele quer!’", recordou.

Multiplicam-se nas redes sociais as mensagens de quem se cruzou nas redacções com Pedro Guerra. Paulo Pinto Mascarenhas, consultor de comunicação que também passou pel'O Independente, admite que o antigo jornalista seria "uma personagem polémica para muitos". "Mas, para mim, e julgo que para muitos dos seus amigos, será sempre o querido arquivista do velho O Independente que se tornou um grande jornalista. Muitas histórias ou livros ou podcasts ou filmes podem ser feitos sobre ele", recordou.

Também o grande-repórter Leonardo Ralha homenageou Pedro Guerra nas redes sociais, dizendo que foi "investigar histórias complicadas e engendrar títulos mirabolantes para a grande redacção da eternidade". Em O Independente, a máquina de triturar políticos, assinado pelos jornalistas Liliana Valente e Filipe Santos Costa, os autores recordam como o humor de Pedro Guerra se transformava tantas vezes em títulos, valendo-lhe o cargo honorário de "tituleiro emérito".

Após a saída d'O Independente, "manteve a coragem que o levara a fazer inúmeras notícias 'perigosas', incluindo uma muita famosa, escrita a quatro mãos com o Luís Filipe, que revelou um episódio bizarro do passado do então presidente do Benfica", aponta Leonardo Ralha.

Foi Pedro Guerra quem contou a história de que Luís Filipe Vieira, em 1984, esteve envolvido no roubo de um camião que lhe valeu uma pena de prisão de 20 meses (que veio a ser amnistiada) nos anos 90. Esse episódio surge no livro Alma Benfiquista, em que elogia o ex-presidente do Benfica: "Fiquei rendido àquele homem que, anos mais tarde, salvou o meu clube da falência. Percebi que acabara de conhecer um homem honrado, pragmático e muito determinado. Luís Filipe Vieira deu uma lição de fair play."

Pedro Guerra chegou a estar envolvido no “caso dos e-mails”, sobre um alegado esquema de corrupção a árbitros da I Liga que envolveria o Benfica e que foi originalmente denunciado por Francisco J. Marques, director de comunicação do FC Porto. Pedro Guerra admitiu num programa televisivo que tinha trocado e-mails com Adão Mendes, antigo árbitro, mas disse não se recordar do conteúdo, recusando as acusações de corrupção.