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Como aproveitar bem a Black Friday
Ser feliz é a melhor maneira de curtir o dia dedicado aos descontos. Tente arrumar tempo na sua vida para aquilo que comprovadamente ajuda a aumentar seu entusiasmo.
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Morei nos Estados Unidos por quatro anos no início da década de 1990. Como estudava muito e também trabalhava para a universidade, tinha poucos momentos de lazer. Um deles, nas tardes das sextas-feiras, quando estava totalmente esgotada, era o que apelidei de Friday madness, quando ia para o shopping me dar um presente. Em geral, comprava uma roupinha barata da arara de promoções, já que a grana era escassa. Mas, naquele exato momento, me achava feliz.
Claro que aquela peça não apagava a dureza da vida corrida e solitária, em que as interações sociais eram rápidas demais — um cafezinho com um amigo, a visita de uma colega às dez da noite para discutir a aula do dia seguinte —, porque o tempo era curtíssimo. Com o passar dos meses, percebi que minha insatisfação não se resolveria com uma blusinha nova. Era preciso mudar de vida e de modo de pensar.
Após muitas cabeçadas, descobri que coisas, em geral, não nos deixam mais contentes. Pelo menos não por muito tempo. Agora, se coisas não trazem a felicidade, nem mandam buscar, como ser feliz? Fui atrás e fiquei impressionada. Muito além dos manuais de autoajuda, existe uma corrente acadêmica que estuda maneiras comprovadas de se aproximar de um estado de contentamento.
Em um artigo no The New York Times, a psicóloga Jenny Taitz citou algumas pesquisas recentes que demonstraram que é possível treinar a mente para perceber e aproveitar com mais profundidade as emoções alegres. Atenção, não estou falando de depressão. Quem sente uma tristeza que não passa, tem dificuldade para levantar da cama e para tomar decisões, acha-se inútil ou perdeu o apego pela vida deve procurar um médico. Depressão é uma doença séria e tem tratamento.
Para quem só anda sentindo dificuldade de achar graça na vida, uma dessas pesquisas mostrou que, para conseguir ser mais sensível às emoções felizes, é melhor evidenciar os sentimentos positivos do que tentar afastar os negativos. Mesmo pessoas com depressão leve ou aquelas que têm dificuldade para experimentar prazer conseguem evitar as respostas negativas da mente a partir de técnicas simples, como reconhecê-las — “sim, estou obcecada pela ideia de que esse projeto pode dar errado” — e depois se distanciar delas usando os procedimentos que descrevo a seguir.
O questionamento socrático (método baseado nas ideias do filósofo ateniense Sócrates) dos pensamentos irracionais é uma boa estratégia terapêutica para afastar a tristeza, segundo um estudo acadêmico publicado na ScienceDirect. Mas, calma, não é preciso conhecer as máximas do pensador para atingir o nirvana. Basta duvidar daquelas ideias sem sentido e muito possivelmente erradas que volta e meia inundam nossa mente — “eu não presto para nada mesmo!” —, e mudá-las para algo mais realista: “Não deu certo desta vez, foi péssimo, mas já fiz muitas coisas boas antes e farei de novo”.
Pergunte-se se o seu pensamento tem bases sólidas, se outras pessoas tratariam a situação da mesma maneira e como você veria o fato se tivesse acontecido com um conhecido. Outra boa maneira de agir é pensar em você mesma como uma amiga: que conselho você daria a uma pessoa que está se martirizando por este ou aquele motivo?
Vale também seguir algumas técnicas simples para alegrar sua vida e treinar seu cérebro para se manter em um estado de satisfação: planejar pelo menos uma atividade prazerosa por dia, mergulhar de verdade em brincadeiras divertidas e aprender a ansiar por eventos felizes, mesmo que não pareçam de grande importância, como um passeio de bicicleta ou um sorvete num dia de calor, que podem melhorar seu humor. Depois de viver um momento gostoso, reviva-o na memória, lembrando de todos os detalhes. Essa técnica tem o poder de amplificar sua duração.
Por fim, tente arrumar tempo na sua vida para aquilo que comprovadamente ajuda a aumentar seu entusiasmo. Procure estar em meio à natureza, cercada de pessoas otimistas, que veem o lado bom das coisas, e mantenha-se sempre em movimento — a ciência mostra que a prática de exercícios físicos libera hormônios da felicidade, como a dopamina, a ocitocina e a endorfina. Livre-se dos entulhos, reais e emocionais, que te puxam para baixo e te deixam confusa, organize a sua casa e arrume a sua cama. Uma das práticas mais divertidas é aumentar o seu vocabulário de palavras que descrevem sensações boas e anotá-las em um caderno.
Mas o que isso tudo tem a ver com aproveitar a Black Friday? Os portugueses devem gastar, em média, 150 euros(R$ 930) em compras na sexta-feira de descontos. Claro que você merece um mimo. Mas, assim como os pequenos presentes que eu me dava nos EUA não me traziam felicidade, acredito que as compras não serão motivo de prazer duradouro para ninguém. Em vez de gastar dinheiro para entupir a casa com mais eletrodomésticos inúteis, roupas iguais às que você já tem ou um celular novo, que tal colocar para tocar aquela música que mais gosta, sair para passear e repensar a maneira que você vê a vida?
Para deixar todo mundo muito contente nesse comecinho de temporada de frio, segue a receita maravilhosa da minha sopa de abobrinhas:
> 1 cebola roxa cortada em pedaços médios
> 1 pedaço de gengibre de 2 cm de comprimento picado
> 2 abobrinhas (courgetes) cortadas em pedaços médios
> 250 ml de leite de coco
> Salsinha picada
> Sal e pimenta do reino
Refogue a cebola e o gengibre em um fio de azeite até a cebola ficar transparente. Junte a abobrinha e refogue bem. Coloque o leite de coco, o sal e a pimenta (opcional) e misture tudo. Não precisa deixar ferver. Leve ao liquidificador. Na hora de servir (pode servir quente ou fria), acrescente a salsinha.