Transferir dinheiro do Brasil para Portugal virou loteria, afirma especialista

Instabilidade no câmbio provoca subidas bruscas nos preços do euro ante o real. Moeda europeia está valendo quase R$ 6,50. A dica de especialistas é gastar apenas com o que realmente for necessário.

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A cotação do euro em relação ao real tem subido sistematicamente, prejudicando brasileiros que vivem em Portugal, mas têm fonte de renda no Brasil INTS KALNINS / REUTERS
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Muitos brasileiros que trocaram o Brasil por Portugal mantiveram boa parte da vida financeira do outro lado do Atlântico, seja porque a principal fonte de renda continua lá, seja porque preferem manter raízes no país dos juros altos. Todos os meses, porém, essas pessoas acendem o sinal de alerta diante da forte oscilação das cotações do euro. A percepção é a de que se está remetendo cada vez menos euros do Brasil para Portugal. Há seis meses, o euro valia R$ 5,80, agora, está cotado a quase R$ 6,50.

“Infelizmente, não há como prever a variação do câmbio, é como uma loteria. Num dia, o mercado está tranquilo, no outro, totalmente estressado, e isso interfere nas cotações de todas as moedas, umas mais, outras menos”, explica o professor Marcelo de Souza Sobreira, da HB Escola de Negócios. Por isso, indica ele, é preciso fazer um planejamento financeiro, sempre olhando o longo prazo. “O ideal é manter uma poupança em moeda forte, como o euro, para quem mora em Portugal”, acrescenta.

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O professor Marcelo de Souza Sobreira recomenda que os brasileiros que vivem em Portugal façam uma poupança para imprevistos Arquivo pessoal

Isso implica dizer, segundo ele, que, sempre que possível, o caminho é remeter quantias do Brasil para um banco português e deixar o dinheiro lá, até que se chegue a um valor que dê conforto para que se fique menos dependente do câmbio. “Ou seja, com uma poupança em moeda forte, nos períodos de disparada do euro ante o real, a pessoa não precisará transferir dinheiro para Portugal, já que poderá usar uma parte da poupança. Quando o estresse do mercado passar e o euro se acomodar, será o momento é de recompor as reservas”, explica.

Nem sempre é possível seguir esse cronograma à risca, pois, assim como o câmbio é imprevisível, a vida tem suas surpresas. “Quando houver uma emergência financeira, o jeito é buscar a melhor cotação, que varia de uma instituição para outra”, recomenda Sobreira, que é sênior advisor do multi family 3J Capital Partners. Outro ponto importante que pode resultar em alguma economia e mais euros nas mãos é a taxa de transferência cobrada pelos bancos e pelas fintechs. Quanto menor for essa taxa, melhor. Há instituições financeiras que, dependendo da relação com o cliente, não cobram tarifas pela operação.

Ajuda de aplicativos

Especialista em finanças pessoais e professor do Insper, Ricardo Rocha recomenda aos brasileiros que vivem em Portugal ou em outra parte do mundo o uso de aplicativos de controle financeiro que permitam monitorar as taxas de câmbio e gerenciar o orçamento em múltiplas moedas. “Esses aplicativos ajudam a acompanhar o valor que será gasto em euros na transferência de recursos em reais e facilitam a adaptação ao câmbio do momento”, diz. Ele também indica que se pesquise plataformas de envio de dinheiro que ofereçam taxas de conversão vantajosas. “Se a pessoa precisa fazer remessas do Brasil para Portugal com frequência, deve opte por plataformas que cobram taxas menores, maximizando o valor que será convertido em euros”, reforça.

Entre aqueles que mais transferem dinheiro do Brasil para Portugal estão os nômades digitais, os aposentados e pensionistas e executivos que têm a facilidade de realizar o trabalho à distância. Somente o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) paga, todos os meses, 7,5 mil segurados em Portugal. O próprio órgão faz a transferência dos recursos por meio de um banco contratado por licitação, mas isso não impede que a quantia em euros seja menor por causa do câmbio. Na avaliação dos dois especialistas, são essas pessoas que precisam ter maior controle do orçamento doméstico para não enfrentarem dificuldades.

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Especialista em finanças pessoas, Ricardo Rocha diz que há plataformas que ajudam a tirar melhor proveito do câmbio Arquivo pessoal

Sobreira acredita que os tempos de euro a R$ 5,50, a R$ 5,80 ficaram para trás. “Dificilmente, veremos o euro abaixo de R$ 6. O mundo está muito incerto, com incertezas por todos os lados”, afirma. “Se bombas explodem na porta do Supremo Tribunal Federal (STF), o real cai e o euro sobe. Se Donald Trump, que venceu as eleições no Estados Unidos, tomar uma decisão que desagrade o mercado, também o real vai cair, assim como se a inflação for mais alta que o esperado”, exemplifica. “Por isso, sempre recomendo que, aqueles que vivem em outro país, mas continuam recebendo em reais, que poupem”, frisa.

Portugal, destacam, os especialistas, já foi um país barato. O grande interesse de estrangeiros em viver em território luso, especialmente dos brasileiros e mais recentemente dos norte-americanos, fez com que os preços de vários setores apontassem para cima. Não por acaso, os portugueses reclamam tanto da carestia, pois os salários deles não acompanharam esse reordenamento, para cima, dos preços relativos. O setor mais evidente em que tudo inflacionou é o da habitação. “Nesse contexto, ter cautela na hora dos gastos é fundamental. As pessoas não devem gastar por gastar. O melhor a se fazer é comprar apenas o necessário”, ensina Sobreira.

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