"(…) às vezes a dor é tão profunda, é tão grande. Mas isto não é sobre a arte ser terapêutica. Eu não acredito nisso. Essa peça não me salva do horror. Ela não salva ninguém. Muito pelo contrário. O tempo todo ela está revirando coisas muito complexas, muito contraditórias, sem buscar solução – pelo contrário, rechaçando a solução."
É Carolina Bianchi, encenadora de A Noiva e o Boa Noite Cinderela, arranque de uma trilogia que sonda o loop da violência de género, que o diz. A peça de teatro chega agora a Portugal, onde abre o Alkantara Festival, em Lisboa, esta sexta-feira.
"É um banho de sangue — e de poesia", escreve Inês Nadais, que conversou com a brasileira. É uma questão dela (a ferida da violação da própria Bianchi continua viva, aberta), é uma questão de todos.
Ainda em território Alkantara: Mariana Duarte conversou com Mamela Nyamza. A coreógrafa sul-africana passa pelo festival de artes performativas sábado e domingo com Hatched Ensemble – tradições africanas a reconfigurar normas da dança clássica.
"Um actor é aquela pessoa que simboliza a nossa condição humana. Um actor é o ser mais heróico e mais derrisório. Heróico, porque através dele se conta a nossa história de homens. Sem nada que o defenda, utiliza as suas dores, lágrimas, alegrias, a sua própria história. Isso é heróico e derrisório porque se não fizer o filme ninguém se importará. Já se alguém responsável pela recolha do lixo não fizer o seu trabalho, isso será um problema para toda a gente." Vale a pena ler o que diz o francês Stéphane Brizé sobre os actores, sobre os seus filmes de casal, de sentimentos (como A Vida Entre Nós, agora nas salas portuguesas), sobre os seus filmes sociais.
Ai Weiwei fez no Alentejo "uma casa vazia" que não serve para nada. Construiu uma "peça arquitectónica" em Montemor-o-Novo que reproduz o seu atelier de Xangai, demolido pelas autoridades. "Estrangeiro, refugiado e viajante", o artista chinês procurou "a essência do lugar", como contou a Amílcar Correia. As fotografias são de Mário Cruz e a versão multimédia desta reportagem tem vídeos de Joana Gonçalves.
"Adoro ver o progressismo na sua forma actual derrotado. Isso significa que estou um pouco cega para os perigos da vitória de Trump", diz a escritora norte-americana Lionel Shriver, que vive na Parede (Cascais) e tem um novo romance, Vamos ou Ficamos?. Isabel Lucas foi ouvi-la: critica a esquerda, teria votado pelo "Brexit" se pudesse, lamenta que os escritores contem "sempre a história na perspectiva dos imigrantes". "Nos últimos dez anos, tem havido muito com que me chatear, envolver, irritar. Escrevo sobre onde está o fogo, a emoção. Agora estou a escrever sobre imigração."
Há um ano anunciou um hiato, mas depois descobriu que Prince, os Rolling Stones e Shakira tinham visitado a sua freguesia. Viu e ouviu, não podia ignorar. O resultado é Paradise Village, o novo disco de David Bruno – L.A. style, 100% Gaia.
Também neste Ípsilon:
– Música: entrevistas com Afonso Cabral (tem novo disco) e LA LOM (actuam sábado no Porto); o regresso de Thurston Moore;
– Cinema: críticas a Gladiador II; Vampira Humanista Procura Voluntário Suicida; O Jovem Xamã; Emilia Pérez; e Na Mata dos Medos;
– Mais críticas: Disclaimer, a minissérie de Alfonso Cuáron, e o romance Retrato Huaco, de Gabriela Wiener;
– A exposição Mutual Benefits, de Diana Policarpo, no Rialto6, em Lisboa.
E não só. Boas leituras!
Ípsilon no Spotify: as nossas escolhas; Leituras: o nosso site de livros; Cinecartaz: tudo sobre cinema
O regresso de Júlia Mann a Paraty, de Teolinda Gersão, é o livro escolhido para o próximo Encontro de Leituras, o clube de leitura do PÚBLICO e da revista literária brasileira Quatro Cinco Um. A escritora é a convidada da sessão do dia 12 de Novembro, às 22h em Lisboa, 19h em Brasília, no Zoom, como habitualmente, aberta a todos os que queiram participar.