Elon Musk reuniu-se com o embaixador do Irão na ONU, diz NY Times
Jornal norte-americano avança que o empresário terá sondado o representante iraniano sobre uma eventual reaproximação entre os dois países.
O empresário Elon Musk, indicado pelo Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para recomendar cortes nos investimentos públicos do país, ter-se-á reunido, no início da semana, com o embaixador do Irão nas Nações Unidas. Segundo o jornal New York Times, o encontro foi solicitado por Musk e centrou-se numa possível diminuição das tensões entre os dois países.
O jornal norte-americano, que cita dois responsáveis iranianos sob a condição de anonimato, avança que o encontro entre Musk e Amir Saeid Iravani durou sensivelmente uma hora e decorreu num local secreto, escolhido pelo representante do Irão na ONU.
A reunião não foi confirmada oficialmente por nenhuma das partes, mas a eleição de Trump, na semana passada, suscitou algumas declarações de responsáveis iranianos, nos últimos dias, que parecem indicar uma abertura para o reinício de conversações com os EUA.
O diálogo entre os dois países, pelo menos através dos canais oficiais, está suspenso desde que Trump anunciou, em 2018, a sua intenção de retirar os EUA do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano.
Depois disso, as relações agravaram-se ainda mais: primeiro, devido à reinstituição de fortes sanções económicas dos EUA ao Irão; depois, na sequência do assassínio do general iraniano Qassem Soleimani, por ordem de Trump, no início de 2020; e, finalmente, com a acusação, anunciada pelo Departamento de Justiça dos EUA, de que o Governo do Irão planeou o assassínio de Trump durante a última campanha presidencial norte-americana.
A aparente abertura do Irão a um eventual reatamento das conversações com os EUA tem sido sugerida, de forma indirecta, por responsáveis do Governo do novo Presidente do país, Masoud Pezeshkian.
Qualquer eventual acordo entre o Irão e os EUA terá de ser aprovado pelo líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, cujas declarações públicas têm ido no sentido contrário.
"As diferenças podem ser colmatadas através da cooperação e do diálogo", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, na quinta-feira, na rede social X. "Queremos prosseguir com coragem e boa vontade. O Irão nunca abandonou a mesa de negociações sobre o seu programa nuclear civil."
"A liderança iraniana não quer uma relação hostil com Trump, nesta altura, mas também não quer felicitá-lo pelo regresso à Casa Branca", disse ao Washington Post Diako Hosseini, um especialista em política externa na Universidade de Teerão. Segundo Hosseini, "as vias de comunicação e de negociação com Trump não estão completamente fechadas".
Para Sina Toossi, investigador no grupo Center for International Policy, com sede nos EUA, o "reconhecido pragmatismo" de Musk pode não ser suficiente para quebrar o impasse nas relações entre os dois países.
A questão iraniana, do ponto de vista dos EUA, não pode ser desligada do apoio a Israel — e toda a equipa de política externa nomeada por Trump, nos últimos dias, é claramente anti-Irão e pró-Israel.
"Estamos à beira de uma guerra regional", disse Toossi, ouvido pelo jornal britânico The Guardian. "Para reiniciar o processo [de negociações], Trump irá precisar de especialistas e de técnicos com experiência no tema do nuclear e das questões regionais, e também de interlocutores sinceros e que estejam de boa-fé nas negociações."
A intervenção de Musk — o proprietário da rede social X e das empresas Tesla e Space X — na política externa norte-americana começou a ser notada na semana passada, logo após a eleição presidencial nos EUA.
Durante um telefonema entre o Presidente ucraniano e o Presidente eleito dos EUA, o empresário foi chamado à conversa por Trump, que o pôs em contacto directo com Volodymyr Zelensky.
Segundo os jornais norte-americanos, Zelensky agradeceu a Musk o seu apoio ao Exército ucraniano através da cedência do sistema de Internet por satélite Starlink, da Space X — uma cedência que é paga, desde o Verão de 2023, através de um contrato da empresa de Musk com o Pentágono.
No papel que lhe foi atribuído por Trump — o de cortar nos gastos públicos dos EUA, incluindo na realização de contratos do sector da Defesa com várias empresas norte-americanas —, Musk desafiou, na quinta-feira, os "revolucionários de QI elevado" a contribuírem de forma gratuita, e a tempo inteiro, a ajudarem-no nessa tarefa.
"É um trabalho entediante, que vai fazer muitos inimigos e em que a compensação é zero. Que óptimo negócio", disse Musk, na quinta-feira, na rede social X.