Homem que explodiu bombas deixou mensagens nas redes. Lula se diz “estupefato”

Francisco Wanderley Luiz, dono do carro que explodiu em frente ao Supremo Tribunal Federal, foi candidato a vereador. Presidente Lula se reuniu com ministros do STF para avaliar o caso.

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Francisco Wanderley Luiz se explodiu em Brasília. Ele publicou foto no plenário do STF Reprodução redes sociais
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O homem que se explodiu na noite de quarta-feira (13/11) na Praça dos Três Poderes, em Brasília, é Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, conhecido como Tiü França. Ele foi identificado pela polícia e, antes de morrer, deixou mensagens nas redes sociais sobre o ato que cometeria, com data definida e bombas. Em coletiva à imprensa, a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, também confirmou a identidade do homem, após os exames do corpo realizados por legistas. Francisco, que era chaveiro, disputou a eleição de 2020 como candidato a vereador pelo PL e teve apenas 98 votos.

As explosões deixaram o país em alerta, com cobranças aos chefes dos Três Poderes, pois ocorrem menos de dois anos depois dos atentados de 8 de janeiro, que destruíram o coração da República. Uma das bombas, que estava dentro do carro, explodiu em frente à sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e a outra, próxima à Câmara dos Deputados. Eram 19h30 em Brasília, 22h30 em Portugal.

Diante do ocorrido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com os ministros do Supremo Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Lula se disse "estupefato" com o ocorrido. Na próxima semana, o Brasil vai sediar a reunião de cúpula do G20, no Rio de Janeiro, com as presenças confirmadas de Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, e de Xi Jinping, líder da China.

Em Brasília, é dado como certo que, depois das explosões das duas bombas, o Congresso não levará adiante o projeto de lei que daria anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Essa percepção, inclusive, prevaleceu entre parlamentares bolsonaristas, que levantaram o tema em grupos de mensagens.

Momentos de muita tensão

Um robô do esquadrão anti-bombas identificou a presença de mais explosivos em volta do corpo, inclusive com um timer conectado a um cinto com explosivos. Segundo o porta-voz da Polícia Militar do Distrito Federal, Raphael van der Broocke, o corpo será removido depois da neutralização dos explosivos não acionados, que estavam em uma mochila.

O autor dos atentados morreu após acionar os explosivos no carro que estava no estacionamento entre o edifício-sede do STF e um dos prédios da Câmara dos Deputados. A vice-governadora do Distrito Federal disse "que o homem teria tentado entrar no Supremo Tribunal Federal, mas não conseguiu, e acionou os explosivos em frente à estátua da Justiça, que acabaram por tirar a vida dele na área externa do edifício principal".

Entre as mensagens deixadas pelo suspeito na rede social existe uma que o mostra dentro do plenário do Supremo Tribunal Federal, afirmando que "deixaram a raposa entrar no galinheiro". As mensagens falam de satanás, anticristo, nomes de políticos, explosões, entre muitas outras coisas. Em uma outra foto, ele mostra uma miniatura da estátua da Justiça que fica na frente do STF, onde acabou morrendo.

A Polícia Militar do Distrito Federal informou que está atuando em conjunto com a Polícia Federal nas investigações, e a vice-governadora adiantou que, por enquanto, trabalham com a hipótese de uma ação isolada, pois "se trata de um lobo solitário". Toda a área está isolada e deve seguir assim durante esta quinta-feira (14/11), afirmou a governadora.

O Presidente Lula não estava no Palácio do Planalto na hora das explorações. Assim que o barulho das bombas foi ouvido, o Senado Federal suspendeu a sessão e o edifício foi evacuado. Na Câmara dos Deputados, também os trabalhos foram interrompidos e o presidente da Casa, Arthur Lira, adiou as votações previstas para esta quinta-feira.

Em nota, a Polícia Federal informou que foi aberto um inquérito e "acionados policiais do Comando de Operações Táticas, do grupo de pronta-intervenção da Superintendência Regional da PF no Distrito Federal, peritos e o Grupo Anti-bombas da instituição, que estão conduzindo as ações de segurança e análise do local".

"Ato isolado de alguém em profundo desequilíbrio emocional"

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, concedeu uma entrevista ao PÚBLICO – que será publicada na íntegra esta quinta-feira. Questionado sobre este incidente, o governante, que está de passagem em Lisboa para um encontro empresarial, diz que foi um "ato isolado" e que não há indícios que apontem para a existência de um movimento.

"Primeiro, é lamentável. Eu interpreto esse fato como um ato isolado, como eventualmente nós temos aí alguns loucos que disparam armas em escolas e em locais públicos. Eu interpreto isso como um ato isolado de alguém em profundo desequilíbrio emocional. Não se trata, pelo menos pelo que vi até o momento, de nenhum movimento, de nenhum grupo, e sim uma pessoa em total desequilíbrio que provocou essa tragédia. Graças a Deus, não tínhamos mais ninguém presente no horário. E que fique nisso só", adiantou Romeu Zema.

A discussão da anistia poderá ser afetada por este ato, não hesita em dizer o governador. Teme-se que estas explosões sejam usadas como "argumento político". Romeu Zema considera que o PL, que teve o suspeito como candidato a vereador, não deverá sofrer repercussões negativas por esta ligação.

"Eu penso que não. Nós temos aí detidos e incriminados candidatos a vereador de todos os partidos. Nenhum partido está isento de ter um louco nos seus possíveis candidatos. Não existe um exame de sanidade mental para poder se candidatar", finaliza. Com Jair Rattner

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