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Brasileiro cria aplicativo que, em 60 segundos, vê risco de amputações em diabéticos
Bastam duas fotografias dos pés do diabético para que a inteligência artificial identifique se há necessidade de amputação. Exames tradicionais demoram 40 minutos. Projeto está no Web Summit.
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O mundo vive uma epidemia de diabetes. Existem, atualmente, mais de 540 milhões de pessoas com a doença em todo o globo, segundo a Federação Internacional de Diabetes. E uma das complicações mais graves da enfermidade é o estreitamento das artérias, diminuindo a circulação do sangue. Em muitos casos, para salvar a vida do doente, é necessário amputar parte ou todo pé.
Para o médico sergipano Hermílio Carvalho Júnior, existem meios para reduzir o problema. “Em 85% dos casos, é possível evitar a amputação se o diagnóstico for feito com antecedência, e isso passa pela rapidez nos exames", diz.
“Uma consulta do pé, com perguntas sobre a situação do doente, exames e orientações, leva 40 minutos. Mas a duração média mundial de uma consulta médica é cinco minutos. Não dá tempo para fazer o que precisa ser feito”, relata Carvalho, que trabalha como médico emergencista.
Com o objetivo de tentar diminuir o número de amputações, ele criou uma app que, com inteligência artificial, pode prever o risco de amputação em apenas 60 segundos. Basta tirar duas fotos do pé, uma da parte superior, outra da inferior, para que o programa analise a imagem. Dá para ter o aplicativo no celular.
Segundo Carvalho, o objetivo não é substituir o exame tradicional, que continuará a ser feito. "Ou seja, as pessoas nas quais o programa identificou risco de amputação terão de passar por algum médico para finalizar o diagnóstico”, afirma. Assim, será possível dedicar mais tempo a quem realmente precisa.
O médico relata que a periodicidade do exame médico do pé varia conforme o caso. Em situações menos graves, pode ser uma ou duas vezes por ano. Se o risco for maior, deverá ser mensal ou a cada três meses. Só assim será possível evitar que os problemas se agravem e provoquem a amputação. “Nos dias de hoje, em todo mundo, é feita uma amputação em decorrência de diabetes a cada 30 segundos. E, após a amputação, a mortalidade é igual à do câncer, 23%”, conta Carvalho.
A startup
Com o objetivo de comercializar o programa, Carvalho criou a startup LookInside. Mas ele não pretende vender o software para os utilizadores. “Qualquer pessoa pode baixar o programa gratuitamente. Pretendemos conseguir financiamento junto a seguradoras e aos serviços de saúde”, prevê. Ele já faz uma contabilidade positiva dos dois anos de vida da LookInside, fundada em 2022. “Conseguimos prevenir 120 amputações”, comemora.
Com sede em Aracaju, a empresa recebeu investimentos de cerca de R$ 800 mil (129 mil euros), vindos, principalmente, de fundos de apoio à inovação. A firma foi aberta após captar R$ 79 mil (12,7 mil euros) por meio da Startup Nordeste, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Depois, recebeu R$ 117 mil (19 mil euros) do Cataliza ICT, um programa do Sebrae de estímulo à criação de empresas por parte de pessoas com formação superior.
A participação do Web Summit de Lisboa veio com apoio da ApexBrasil e do Sebrae. E, já em Lisboa, recebeu a notícia de que o Tecnova, de Sergipe, atribuiu R$ 610 mil reais (98,4 mil euros) para o desenvolvimento do negócio. O Tecnova é um programa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que apoia micro e pequenas empresas.
A presença em Portugal não está ligada à busca por investidores. "Vim conhecer a tecnologia existente, o ambiente regulatório e oferecer o produto na União Europeia", conta. Ela tem um convite do Instituto Pedro Nunes, da Universidade de Coimbra, para conhecer o trabalho deles na área do software médico. O instituto tem o objetivo de promover a inovação e a transferência de tecnologia da universidade para a economia.
Caso de família
Carvalho conta que foi o caso de um familiar que levou à ideia de criar a LookInside. “Um dos meus tios tinha diabetes e foi amputado. Nós acompanhamos todo o processo. Foi horrível”, lembra.
Formado em medicina pela Universidade Federal de Sergipe, foi para o Inova.USP, o centro de inovação da Universidade de São Paulo. “Sempre gostei de tecnologia. Queria transformar a parte médica em inovação na área da saúde”, recorda. Foi nesse ambiente que estimulou a criação de algo novo na área da diabetes.