O Guia Repsol está de volta a Portugal e já tem inspectores no terreno
A edição portuguesa (apenas digital) do popular guia gastronómico espanhol será lançada numa gala em Abril, em local ainda por definir. Haverá restaurantes com um, dois e três “sóis”.
“Olá Portugal” lia-se no cartaz à porta do restaurante Canalha, de João Rodrigues, em Lisboa, onde na noite de quarta-feira os responsáveis pelo Guia Repsol receberam jornalistas e convidados para anunciar oficialmente que já estão a trabalhar em Portugal, com vinte inspectores no terreno por todo o país (continente e ilhas), e que a edição portuguesa do guia será lançada numa gala, muito provavelmente em Abril de 2025, numa região ainda a definir, mas em princípio fora das grandes cidades de Lisboa e Porto.
A notícia de que os “sóis” da Repsol iam voltar a brilhar em Portugal (onde o guia já existiu, entre 1996 e 2007) tinha sido avançada em Março, por ocasião do lançamento do guia espanhol. Mas agora o trabalho está bastante mais avançado e já existe uma página oficial do guia, que está presente também nas redes sociais (Instagram e Tik Tok), por enquanto apenas com pequenas reportagens e informações úteis.
Ao contrário do passado, em que existia em papel, desta vez o guia será apenas digital. Assim, a partir de Abril, o site passará a ter a lista de todos os restaurantes em território nacional que são recomendados pelos inspectores e classificados com um, dois ou três “sóis”, e distinguidos também, nos casos em que se justifique, com um “sol sustentável” (esta categoria não depende unicamente dos inspectores, mas passa por uma avaliação mais técnica).
Uma das questões que ficara em aberto em Março era a de quem seriam os inspectores. Desta vez, Maria Ritter, a directora do Guia Repsol, desvendou um pouco mais: são "mais de 20", portugueses, homens e mulheres, de diferentes faixas etárias e que têm outras profissões (ao contrário do que acontece com o Guia Michelin, que desde este ano passou a ter também uma edição dedicada exclusivamente a Portugal).
São “pessoas locais, que conhecem a cultura gastronómica do país”, mas que não estão ligadas profissionalmente a este meio, ou seja, não são chefs, proprietários de restaurantes ou jornalistas gastronómicos. Formam uma equipa que tem um inspector-coordenador, ao qual coube a tarefa prévia de identificar uma lista inicial de restaurantes, que é constantemente actualizada com novas sugestões e descobertas que vão surgindo.
Há um conjunto bastante grande de critérios a avaliar em cada restaurante. Para que a avaliação seja o mais próxima possível do que é importante para os clientes, a Repsol trabalhou com o Basque Culinary Center, no País Basco, na definição dos pontos a ter em conta – e que inclui detalhes como uma boa luz para se tirar fotos para as redes sociais, por exemplo.
A preocupação, sublinha Maria Ritter, é que este seja um guia muito próximo dos consumidores. Armando Oliveira, administrador-delegado da Repsol em Portugal, resume-o desta forma: “Tem a intenção de ser uma reivindicação do prazer de viajar, experimentar, parar e desfrutar uma paisagem, um prato típico, uma vista única. E pretende dirigir-se a todos: viagens em família, com crianças de todas as idades, com animais, com amigos, sozinhos, viagens gastronómicas, enoturismo.”
Quando perguntamos o que distingue as identidades do Guia Repsol e do Guia Michelin, o foco é sempre na ideia de que o primeiro aposta numa selecção de espaços mais casuais, mais descontraídos e mais acessíveis. A própria palavra “inspector” não é a preferida de Maria Ritter: “Soa a Ratatouille”, diz, referindo-se ao filme de animação que celebrizou a figura do crítico gastronómico ultra-severo e desligado do prazer simples de uma refeição (até o reencontrar). “Nós queremos desratatouillezar.”
Claro que há um paralelo entre as categorias da Michelin (uma, duas e três estrelas e ainda a estrela Verde para premiar a sustentabilidade) e os “sóis” da Repsol, que distinguirão também, tal como o guia vermelho, aquilo que em Espanha se chama “soletes” e que em Portugal poderá chamar-se “solito” (o nome ainda não está fechado e não existirão nesta primeira edição) e os restaurantes recomendados. Mas Maria Ritter garante que a lista final será muito diferente. E explica também que, por exemplo no caso dos 3 sóis, a lista em Espanha é “mais ampla” que as das três estrelas Michelin (40 no primeiro caso, 15 no segundo).
Desde que decidiram regressar a Portugal, os responsáveis do Guia Repsol têm vindo a falar com muita gente para assegurar que o guia não será uma mera transposição do espanhol mas que terá “alma portuguesa”. Para mostrar o que os distingue, escolheram fazer esta apresentação em dois restaurantes mais casuais, o Semea de Vasco Coelho Santos, no Porto, e o Canalha, de João Rodrigues, em Lisboa. Quando ao resto, será preciso esperar por Abril. Até lá, os inspectores andarão por aí, a comer e a avaliar.