FC Porto comunica emissão de dívida recorde: 115 milhões de euros
“Dragões” financiam-se a uma taxa anual de 5,62%, forte redução face às operações da anterior administração. Procura de investidores para compromisso a 25 anos rondou os 170 milhões de euros.
O FC Porto revelou esta quinta-feira a emissão de um valor de dívida recorde. A mais recente emissão de obrigações dos "dragões" fixa-se nos 115 milhões de euros, a uma taxa fixa anual de 5,62%. Esta percentagem está consideravelmente abaixo das apresentadas nos empréstimos contraídos pela anterior administração "azul e branca", factor que permite ao clube financiar-se a preços mais baixos. No comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Imobiliários (CMVM), os portistas congratulam-se com o elevado interesse que esta emissão despertou junto dos investidores, relatando que a procura rondou os 170 milhões de euros.
A delicada situação financeira dos "dragões" é pública e o FC Porto precisava urgentemente de refinanciar o pesado passivo financeiro herdado pela administração de André Villas-Boas. Era ainda necessário assegurar os meios para garantir a actividade global do clube. Vão ser justamente estes os principais destinos deste empréstimo obrigacionista recorde, com um prazo de vencimento de 25 anos e que foi "apadrinhado" pelo banco de investimento norte-americano JP Morgan.
Para esta emissão obrigacionista, o clube recorreu à sociedade Porto Stadco, formada no âmbito do negócio de exploração comercial do Estádio do Dragão assinado com a Ithaka. Após uma renegociação do acordo previamente assinado pela equipa de Pinto da Costa, o FC Porto reforçou a posição nesta empresa, assegurando uma participação de 70%. A previsão é que os resultados do acordo com a Ithaka superem os custos do serviço da dívida anual, com o excedente a ser distribuído pelo universo FC Porto.
Apesar de o valor do empréstimo ser de 115 milhões de euros, os portistas não foram obrigados a apresentar garantias reais aos obrigacionistas. Ou seja, esta emissão recorde não colocou em risco a hipoteca sobre o Estádio do Dragão, nem levou a que se usassem passes de jogadores como garantia aos investidores.
Villas-Boas fala em dívida para pagar dívida
André Villas-Boas pretendeu, com esta operação, saldar algumas das dívidas deixadas pela antiga administração junto de clubes, fornecedores e investidores. "Esta operação vai permitir, sobretudo, a sustentabilidade do clube, não só a longo prazo, mas também a curto e médio prazo, nomeadamente para fazer face aos encargos financeiros que tem e para baixar o custo da dívida", começou por afirmar.
"Esta é uma operação (...) que dará outra credibilidade junto a fornecedores, clubes e agentes, em relação aos quais o clube foi acumulando uma dívida substancial. Em realidade, é uma dívida contraída para pagar dívida, mas que nos permite, em linha com os próximos 25 anos, crescer a nível operacional, comercial e desportivo" concluiu Villas-Boas.
Koehler desafiou, Villas-Boas respondeu
Esta operação de grande envergadura foi uma das principais promessas eleitorais de André Villas-Boas durante a campanha eleitoral. O presidente portista garantiu aos associados que se iria financiar junto dos investidores por uma taxa inferior às observadas nos empréstimos da administração de Jorge Nuno Pinto da Costa.
Apesar de manter o sigilo antes da vitória eleitoral, a equipa de André Villas-Boas sondou vários dos grandes bancos de investimento, garantindo ser possível um financiamento de grande envergadura abaixo dos 6% e a aproximar-se dos 5%.
João Rafael Koehler, empresário que assumiria a administração financeira da SAD portista em caso de vitória de Pinto da Costa, acusou Villas-Boas de mentir, desafiando o então candidato a ir ao Estádio do Dragão provar essas afirmações.
"Não quero acreditar que um candidato a presidente lance suspeições sobre os financiadores do clube e minta sobre as soluções financeiras que diz ter. André, estarei a tarde toda no Dragão à tua espera. Hoje tens a possibilidade de provar que podes ser levado a sério", escreveu Koehler.
A verdade é que a taxa apresentada esta quinta-feira pelo FC Porto ronda justamente o valor avançado por Villas-Boas durante a campanha eleitoral. José Pedro Pereira da Costa, antigo administrador da Nos e actual administrador financeiro dos portistas, foi o grande mentor deste plano, liderando as negociações com o JP Morgan, banco de investimento norte-americano.