Alunos portugueses são os que mais discordam da ideia de que só há uma opinião correcta durante uma discussão
Estudantes portugueses com 15 anos demonstram tolerância e sentido crítico nos últimos resultados do PISA: destacam-se entre aqueles que afirmam ouvir várias perspectivas antes de tomar uma posição.
Os alunos portugueses com 15 anos estão entre os que mais têm em atenção várias perspectivas antes de tomar uma posição sobre qualquer assunto. E são mesmo aqueles que mais contestam a ideia de que existe apenas uma posição correcta numa situação de desacordo, revelam alguns dados do Programme for International Student Assessment (PISA), o grande estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre o desempenho dos alunos de 15 anos em vários sistemas educativos.
Além de avaliar a literacia matemática, na leitura e em ciências dos estudantes de 15 anos (esses resultados foram divulgados em Dezembro), o PISA também recolhe informação sobre outros temas. Na análise divulgada esta quarta-feira é avaliada a capacidade dos alunos em aprenderem continuamente e aplicarem os conhecimentos em contextos diversos e frequentemente imprevisíveis, numa altura em que "os sistemas educativos enfrentam um desafio sem precedentes: preparar os alunos para prosperarem face a profundas incertezas ambientais, sociais e económicas".
Os estudo mostra que Portugal se destaca pela "grande percentagem de alunos que afirmam considerar sistematicamente as perspectivas de todos antes de tomar uma posição (80%)". E isso acontece tanto entre os estudantes que têm pior desempenho (72%), como entre os que têm melhores resultados (85%). E é mesmo o país com a maior percentagem (65%) de alunos "que desafia a ideia de que só há uma maneira certa de estar numa discussão".
Pensamento crítico
Olhando para a média da OCDE, apenas um em cada cinco alunos diz interpretar frequentemente, em aula, soluções matemáticas em contextos da vida real. A codificação/programação de computadores é a competência que menos abordam em sala de aula, com menos de 10% dos alunos a indicar que o fazem frequente: em Portugal são menos de 6%. "A fraca exposição a tarefas de codificação põe em evidência uma lacuna significativa na preparação dos estudantes para as exigências tecnológicas da força de trabalho moderna", realça o relatório.
Na maior parte dos sistemas, os estudantes de contextos mais favorecidos revelaram um maior envolvimento na verificação de erros, na revisão dos trabalhos de casa, em colocar questões quando não percebem a matéria ou em ter comportamentos de estudo proactivos e pensamento crítico do que os seus pares de contextos mais desfavorecidos. Por exemplo, quando não compreendiam a matéria de Matemática que estava a ser ensinada, apenas pouco mais de metade (53%) dos alunos com melhores resultados admitiram questionar o professor para esclarecer dúvidas, enquanto, apenas 36,9% dos estudantes com pior desempenho admitia fazê-lo. Por comparação, a média da OCDE é de 51,9% no caso dos alunos com melhores resultados e de 39,2% para os que atingiram piores avaliações.
Quanto aos estudantes que dizem verificar cuidadosamente os trabalhos de casa antes de os entregarem, no caso português a expectativa inverte-se: são os que têm resultados menos satisfatórios que mais o fazem (52,2%), ao passo que apenas 47,7% dos que têm melhores resultados fazem essa verificação. A média da OCDE fica pelos 45,5% no caso dos alunos com melhores resultados e de 41,8% para os que atingem desempenhos menos conseguidos.
Os alunos que dizem conversar com os pais sobre questões políticas ou sociais estão mais empenhados no pensamento crítico (tomada de posição) do que aqueles que dizem fazê-lo menos. "Este facto foi observado na maioria dos países e economias com dados disponíveis, em particular na Bélgica, Brasil, Irlanda e Portugal, mesmo tendo em conta o perfil socioeconómico dos alunos e das escolas", notou.
Os resultados da última edição do PISA, conhecidos em Dezembro passado, revelaram uma queda “sem precedentes” nas médias gerais a Matemática e Leitura. A média dos alunos portugueses a Matemática foi de 472 pontos, o que representou uma queda de 20 pontos face a 2018. A pontuação da OCDE neste domínio ficou-se também pelos mesmos 472 pontos, tendo caído 15 pontos no mesmo período.
No domínio da Leitura, Portugal teve uma média de 477 pontos, mais um do que a da OCDE, sendo que os alunos portugueses desceram 15 pontos por comparação a 2018.