“Não somos criminosos, somos trabalhadores”, afirma representante de imigrantes

Para Farid Patwary, imigrantes de Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão e outros locais da Ásia são tratados como cidadãos de quinta, sexta categoria em Portugal, mesmo contribuindo para economia.

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Farid Ahmed Patwary, que é jornalista, diz que imigrantes da Ásia estão sendo empurrados para uma vulnerabilidade severa Arquivo pessoal
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O sentimento é de indignação e de tristeza diante da forma como vêm sendo tratados em Portugal. É o que diz Farid Ahmed Patwary, jornalista que lidera um coletivo de cidadãos de Bangladesh e da Ásia Sul, que escolheram o país europeu para morar, trabalhar e estudar. “Estamos sendo tratados como cidadãos de quinta, sexta categoria. Não somos criminosos, somos trabalhadores que estão contribuindo para o desenvolvimento econômico de Portugal”, afirma.

Para Farid, não há nenhuma política do Governo português para dar dignidade aos cidadãos de Bangladesh, da Índia, do Nepal, do Paquistão e de outras regiões da Ásia, como se eles não fossem bem-vindos ao país. Isso, no entender dele, fica claro em operações como a Portugal Sempre Seguro, que, nos últimos dias, levou a Polícia de Segurança Pública (PSP) a fazer uma incursão pelo bairro de Martim Moniz, em Lisboa, onde se concentra boa parte dos imigrantes asiáticos. E, também, no atendimento prestado pela Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA).

“A prioridade, sempre, é para os cidadãos da Europa Ocidental e os norte-americanos. Depois, vem os imigrantes do Leste Europeu. Em seguida, os brasileiros e os timorenses. Depois, os cidadãos dos demais países da Comunidade da Língua Portuguesa (CPLP) e de regiões da América Latina. Nós somos o resto”, lista Farid. Essa realidade, acrescenta ele, só agrava a discriminação que esse grupo de estrangeiros vem sofrendo em Portugal. “Vemos racismo e xenofobia nesse processo”, assinala ele, que pediu ajuda aos sindicatos de trabalhadores.

Escravos e criminosos

O resultado disso, emenda o jornalista, é que trabalhadores e famílias inteiras estão sendo empurradas para uma situação de extrema vulnerabilidade, em que, para ter o que comer, os cidadãos se submetem a todo tipo de exploração. “Há trabalhadores ganhando entre 300 e 400 euros (R$ 1,9 mil e R$ 2,5 mil) mensais, sem folga de fim de semana ou feriado, com jornadas diárias de 12 horas. Estamos falando de trabalho análogo à escravidão em plena Europa”, alerta. “Ao mesmo tempo, somos tratados como escravos e criminosos, o que não é aceitável”, enfatiza.

Farid reconhece que o Governo tem o direito de definir regras mais rígidas para a imigração, contudo, isso não pode subjugar um grupo específico, como ocorre agora, a um quadro que avilta a dignidade humana. “Ao enfrentarem enormes restrições para regularizar os documentos em Portugal, esses cidadãos ficam sem direito algum. São explorados no mercado de trabalho e as famílias deles sequer conseguem colocar as crianças em escolas ou acessar a rede pública de saúde”, destaca.

Na opinião do líder do coletivo de imigrantes, em muitos casos, a exploração começa nos países de origem desses cidadãos. “No caso de Bangladesh, não há consulado português. Portanto, as pessoas que querem emigrar para Portugal têm de ir à Índia para conseguir os vistos de entrada a um custo que chega a 2 mil euros (R$ 12,4 mil). Mas sabemos que há uma máfia que cobra até 17 mil euros (R$ 106 mil) para facilitar a documentação”, denuncia. “Ou seja, há erros por todos os lados e quem mais sofre é quem escolheu Portugal em busca de uma vida melhor”, afirma.

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