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Aprender com a irracionalidade brasileira faz empresa ser competitiva no mundo
Presente no Web Summit, a Altegio está há dois anos no Brasil e usa as complicações do mercado local para ganhar flexibilidade e desenvolver soluções para outros países.
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Fazer negócios no Brasil não é fácil. O chavão “O Brasil não é para principiantes” reflete um mercado em que cada município tem uma norma fiscal diferente, que se sobrepõe a impostos estaduais e nacionais — o que atrapalha a vida dos empreendedores — e onde existem muitas formas de pagamento diferentes e até o agendamento de um serviço varia, podendo ser realizado por telefone, por aplicativo de mensagens ou presencialmente — uma bênção para os consumidores.
Enfrentar essa babel burocrática e a diversidade de serviços foi o caminho da Altegio, uma empresa de software que criou uma plataforma para administração de salões de estética, barbeiros e cabeleireiros e que está há dois anos no mercado brasileiro. Tendo como origem uma empresa russa desmembrada após a guerra contra a Ucrânia, a Altegio tem sede em Budapeste, na Hungria, e veio ao Web Summit Lisboa.
Atualmente, a empresa está em processo de internacionalização. “Vendemos em 81 países, mas só em cerca de 10 temos mais de 100 clientes”, conta Yri Petrou, o presidente da Altegio no Brasil. São cerca de 200 clientes no mercado brasileiro. “A escolha do Brasil foi porque o país tem muitos habitantes e é um dos que mais usa serviços de beleza”, diz. Além da sede na Hungria, são apenas seis países que têm escritórios da Altegio: Armênia, Brasil, Ucrânia, Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos e um, de menores dimensões, na Sérvia.
Parcelamento de compras e salários
Petrou acredita que há muito espaço para crescer no Brasil. “Nosso produto é mais barato, mais rápido e com mais funções do que os produtos similares existentes no mercado brasileiro”, afirma. O valor cobrado pelos serviços da Altegio depende do número de empregados e do número de estabelecimentos. No país, a maior parte dos clientes é formada por estabelecimentos únicos, com até cinco empregados, enquanto, na Europa, a maioria tem até oito empregados. No mercado brasileiro, o valor mais baixo é de R$ 46 por mês (7,6 euros), muito inferior ao do mercado europeu, de 12 euros (R$75).
Para o mercado brasileiro, a empresa teve que adaptar a plataforma. “Os pagamentos no Brasil ocorrem em mais formas do que nós estamos acostumados. Cada cartão de crédito tem uma taxa diferente, as pessoas parcelam no cartão, outras pagam com PIX, algumas com dinheiro”, esclarece.
Na contabilidade, a plataforma teve que modificar a forma de pagamento das remunerações de empregados, uma funcionalidade que ainda será integrada ao sistema. “Em todos os outros lugares, estamos habituados a tratar do pagamento dos funcionários uma vez por mês. Mas, nos salões brasileiros, como eles recebem parcelado por causa do cartão, também pagam os salários de forma parcelada”, acrescenta.
A Altegio também tem de lidar com os diferentes impostos brasileiros. Se, na Europa, o sistema é mais simples, no Brasil existe um emaranhado de regimes fiscais nos municípios, nos estados e no governo federal. Indagado se, com essas dificuldades, compensa os 30 mil euros (R$ 186 mil) que a empresa tem investido mensalmente no mercado brasileiro nos últimos dois anos, Petrou apresenta o lado positivo: “A flexibilidade que tivemos de trazer para o nosso programa nos permite ser mais competitivos nos outros países”.
Sem canibalismo
Uma das vantagens que a plataforma que Petrou oferece está na marcação de serviços, por não deixar que os concorrentes “roubem” os clientes dos estabelecimentos que têm a Altegio. “A maior parte dos softwares de agendamento, quando você busca uma empresa, apresenta publicidade dos concorrentes. Por sermos um software proprietário, nós não deixamos que essa canibalização ocorra”, afirma.
Criada com um investimento de 500 mil euros (R$ 3,1 milhões), Petrou afirma que a empresa já atingiu o break even, quando o retorno do negócio superou os desembolsos. Mesmo assim, a Altegio busca investimentos no Web Summit. “Não é para o mercado brasileiro. Queremos recursos para outros mercados”, diz. A meta é obter 2 milhões de euros (R$ 12,4 milhões) para novos investimentos.