A brasileira Ambipar está na linha de frente do resgate de Valência, na Espanha

Cidade espanhola foi arrasada pelas chuvas no fim de outubro. Pelo menos 222 pessoas morreram. Meteorologistas afirmam que novas tempestades podem provocar mais tragédias. Alerta vermelho está ligado.

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Valência ainda tenta se reerguer da tragédia. Empresa brasileira Ambipar trabalha na recuperação ambiental BIEL ALINO / EPA
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Uma empresa brasileira, a Ambipar, foi convocada pelo Governo da Espanha para ajudar na recuperação da cidade de Valência, que foi arrasada pelas chuvas torrenciais que provocaram inundações e destruições no fim de outubro. Em apenas oito horas, entre a noite de 29 de outubro e a madrugada do dia 30, choveu o equivalente a um ano, segundo os meteorologistas. Pelo menos 222 pessoas morreram na tragédia. A Ambipar está replicando em Valência técnicas usadas em desastres ambientais no Brasil, como as enchentes no Rio Grande do Sul. A cidade espanhola e outras regiões do país estão em alerta vermelho com a possibilidade de novas tempestades provocadas pelo fenômeno Dana.

Sérgio Lomban Lage, diretor-gerente da Ambipar Response, unidade da companhia brasileira na Espanha, diz que a empresa está usando toda a sua estrutura para desobstruir ruas e estradas e para retirar a água que ainda está acumulada nos subsolos de vários prédios, sobretudo, em uma área conhecida como Paiporta, onde a destruição foi maior. Há trechos intransitáveis por causa do lodo levado pela água que transbordou dos rios que cortam Valência e o entorno da cidade. “Estamos disponibilizando vários equipamentos para que a recuperação seja a mais rápida possível”, assegura.

A grande preocupação é que parte do trabalho já realizado pode ser perdido se as novas chuvas se confirmarem. “Estamos de prontidão”, diz o executivo. Para dar respostas rápidas, a Ambipar instalou em Valência bombas capazes de sugar 20 mil litros cúbicos de água por minuto. Todo o trabalho ocorre em meio a uma grande guerra política na Espanha por conta da demora dos governos central e regional em alertar a população sobre as chuvas e os riscos que todos estavam correndo. “Não entramos nessa questão política. O nosso trabalho é dar respostas às emergências”, ressalta.

Como ocorreu no Rio Grande do Sul, quando a água das chuvas se concentrou na Lagoa dos Patos, dificultando o escoamento, as enchentes aumentaram em sete vezes o nível da Lagoa da Albufeira, em Valência, área usada para o plantio de arroz. A lagoa é considerada um santuário para a reprodução de aves que migram da Europa e da África. “Hoje, no entanto, Albufeira está cheia de carros e corpos que foram arrastados pelas águas. Isso pode provocar uma contaminação enorme. Será preciso agir rápido para que se evite um desastre maior. Já estamos em negociação com o governo para tentar resolver esse problema”, ressalta Lage.

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Serbio Lomban Lage, diretor da Ambipar Response, na Espanha, diz que a maior parte das cidades não está preparada para enfrentar a crise climática Arquivo pessoal

Recuperação vai demorar

Apesar de o ministro dos Transportes da Espanha, Óscar Puente, dizer que 99% da mobilidade urbana — trens e ônibus — estarão funcionando normalmente a partir desta quarta-feira (13/11), o diretor da Ambipar assinala que serão necessários pelo menos sete meses para que Valência realmente volte à normalidade. Boa parte do comércio da cidade foi destruída. Será preciso recuperar os prédios para que voltem a funcionar. Há, segundo Lage, uma proposta do governo de Pedro Sánchez de destinar uma área e recursos para que os donos desses empreendimentos possam recomeçar seus negócios. Será necessário, também, recompor parte das redes de eletricidade que foram danificadas.

O executivo da empresa brasileira na Espanha destaca que foram destinados para as áreas destruídas pelas enchentes dois caminhões pesados com carretas, dois guindastes, um caminhão de combate a incêndios com uma bomba hidráulica submersa especial, cinco veículos leves, 24 mergulhadores, pessoal de resposta no local e drones para a inspeção das áreas afetadas. Foi implantado, ainda, um posto de comando e uma estação de manutenção e convocados especialistas do Reino Unido e da Irlanda, todos ex-militares com vivência em áreas de combate. “Estamos trabalhando 24 horas por dia”, assegura.

Lage lembra que a tragédia de Valência e região não é novidade na Espanha, que conviveu com casos semelhantes em 2019, 2020 e 2021. Esses desastres estão se tornando frequentes por conta das rápidas mudanças climáticas provocadas pelo efeito estufa. “Não é só na Espanha que vemos esse tipo de tragédia. Aconteceu na Alemanha, na Itália, na Bélgica, na França”, lista. No entender dele, a maior parte das cidades não está preparada para lidar com a crise ambiental. “As cidades podem ter planos escritos muito bons contra inundações. Mas, entre o papel e a realidade, há uma grande distância. Por isso, a importância de profissionais preparados, que, muitas vezes, estão na iniciativa privada, que cumpre seu papel”, diz.

Segundo o diretor da Ambipar, que está presente em 40 países, coordenação é tudo. “Vimos, logo que a tragédia se instalou em Valência, voluntários saindo às ruas, chegando antes dos órgãos governamentais para tentar ajudar as vítimas das enchentes. Mas é importante ressaltar que a maior parte dessas pessoas não têm conhecimento do que realmente precisa ser feito. Quanto mais profissional for o trabalho, mais rápida será a recuperação de áreas destruídas”, assinala. “Vamos fazer o melhor para resgatar Valência”, enfatiza.

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