A 11.ª edição da Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista (MICAR) "propõe reflexões urgentes sobre o racismo, colonialismo e, em especial, a resistência palestiniana e a luta contra a ocupação". Este ano, o evento organizado pelo SOS Racismo vai decorrer entre os dias 14 e 17 de Novembro, no Batalha – Centro de Cinema, no Porto.
Nuno André Silva, dirigente do SOS Racismo e membro da equipa de programação da MICAR, explica que a mostra parte "da análise e denúncia das políticas israelitas, que edificaram um verdadeiro sistema de apartheid que não reconhece a mínima dignidade ao povo palestiniano, para evidenciar espaços de resistência ao terror e à ocupação, através da palavra de quem sofre".
A sessão de abertura, programada para as 21h15 de sexta-feira, 15 de Novembro, vai apresentar o documentário No Other Land, realizado por um colectivo de quatro jovens activistas, dois deles palestinianos e outros dois israelitas. O filme, premiado na Berlinale de 2024, conta a história do encontro entre o palestiniano Basel Adra e do jornalista israelita Yuval Abraham — ambos parte do colectivo —, que unem forças para denunciar a violência da ocupação israelita nas aldeias da Cijordânia.
Ainda sobre o tema da resistência palestiniana, serão exibidas, entre outras, obras como o filme de ficção The Dupes, de Tewfik Saleh, baseado no romance Men in the Sun (1963), que acompanha a jornada de três refugiados palestinianos em direcção ao Kuwait; o documentário Gaza, de Garry Keane e Andrew MacConnell, que retrata a vida quotidiana que os habitantes do enclave tentam manter, apesar do grau de destruição e conflito; ou Tantura, em que o realizador Alon Schwarz revisita antigos soldados israelitas e residentes palestinianos, num esforço para reexaminar o massacre que aconteceu em 1948, na aldeia palestiniana que dá nome ao filme.
"Na 11.ª edição da MICAR, o SOS Racismo vem denunciar estas e outras histórias de ocupação como projectos de opressão e combatê-las", pode ler-se no texto de apresentação da iniciativa, chamando a atenção para "a limitação da ocupação do espaço público para actividades culturais e activistas", "a ocupação do espaço habitacional pelo turismo", as "políticas de guetização" impostas a populações racializadas e também as políticas "extractivistas" aplicadas a territórios indígenas.
Segundo o mesmo texto,"a ocupação assume diferentes formas, estendendo-se para além das fronteiras geopolíticas" e, por isso, há ainda espaço para abordar temas como a segregação da comunidade cigana, em Three Thousand Numbered Pieces, o colonialismo europeu em África e as suas manifestações actuais, através dos documentários Palimpsest of the african museum, Big Bang Henda, Time to Change ou Nós não Viemos do Vazio, ou ainda as vivências particulares de imigrantes em situação irregular no filme de ficção Ayka, que vai servir como arranque à mostra, no dia 14 de Novembro.
"Combater a discriminação e o racismo, promover a inclusão social e o reconhecimento da dignidade das pessoas, são tarefas diárias e imperativos democráticos", salienta Nuno André Silva, destacando a MICAR como "umas de muitas dessas tarefas".
Para além dos debates que se seguirão à exibição de alguns dos filmes, esta edição contará mais uma vez com o segmento MICARzinha, que decorre na manhã de dia 15 de Novembro e é dedicado aos mais jovens. Serão exibidas três curtas-metragens para os 1.º e 2.º ciclos, e o documentário Naila and the uprising, de Julia Bacha, para o 3.º ciclo e secundário.
Todos os filmes e debates têm entrada gratuita, apenas sujeita a levantamento prévio de bilhete.