Câmara de Lisboa retira 17 tendas de sem-abrigo do Regueirão dos Anjos, em Arroios
Pessoas que estavam acampadas nas traseiras do edifício do Banco de Portugal encaminhadas para alojamentos sociais. Junta de Arroios diz que quer reabilitar o espaço público daquela zona.
A Câmara Municipal de Lisboa procedeu, na manhã desta terça-feira, à retirada de 17 tendas de campismo e construções precárias no Regueirão dos Anjos, em Arroios, onde vivia pelo menos igual número de indivíduos em situação de sem abrigo. A operação, que envolveu meios humanos e técnicos de diversos departamentos da autarquia, consistiu na retirada dos resguardos onde essas pessoas viviam, bem como aos pertences que ali tinham, quase todos atirados para dentro de camiões do lixo, limpeza da rua e encaminhamento dessas pessoas para alojamento temporário.
Ao PÚBLICO, a Câmara de Lisboa explicou que, “tendo em conta a elevada concentração de pessoas em situação de sem abrigo naquele local, foram realizadas acções de limpeza de espaço público e adoptadas medidas para acautelar a saúde pública, tanto dos próprios, como de terceiros”. Uma intervenção, explica a edilidade, realizada em articulação com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, “de modo a procurar garantir o atendimento social àquelas pessoas e o seu encaminhamento para respostas de suporte habitacional”.
Sem especificar quantos indivíduos foram encaminhados, a câmara informa que “todas as pessoas foram previamente informadas da necessidade de se efectuar esta acção, que é realizada com a regularidade considerada necessária, em vários locais da cidade”. O número de pessoas abrangidas pela acção é referido pela Junta de Freguesia de Arroios.
Esta é uma solução semelhante à encontrada, há pouco mais de um mês, para os ocupantes dos espaços verdes em redor da Igreja dos Anjos, realojados pela Câmara de Lisboa numa operação-relâmpago que pôs fim a um acantonamento que ali se formara durante quase um ano. E, tal como acontece nessa zona, que será sujeita a uma operação de requalificação do jardim e incluirá a colocação de um gradeamento para controlar o acesso ao mesmo, também no Regueirão dos Anjos existe a intenção da Junta de Freguesia de Arroios de realizar uma obra de reabilitação dessa parte do espaço público.
A acção de retirada das tendas e dos pertences das pessoas em situação de sem abrigo, que foi acompanhada por elementos da Polícia Municipal e da PSP, apenas deixou intacta uma tenda naquele local, situado nas traseiras do edifício do Banco de Portugal, na Avenida Almirante Reis. Uma situação temporária relacionada com a dificuldade em encontrar uma solução de alojamento do seu ocupante, referiu ao PÚBLICO fonte da junta, que acompanhou todo o processo. Esse indivíduo deverá ter, porém, igual acompanhamento, assim que se resolva tal indisponibilidade.
“Temos estado sempre a observar esta situação, em parceria com as equipas de acção social da câmara, bem como da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Estas pessoas estavam já sinalizadas. E hoje, aquilo a que assistimos foi ao trabalho de equipas multidisciplinares da câmara, com elementos da higiene urbana e da acção social”, explica a mesma fonte da junta, dando conta da necessidade de agir, devido à situação de “insalubridade” que ali se observaria. E que se teria agravado nos últimos tempos.
O mesmo responsável da Junta de Arroios referiu que tal cenário, associado ao facto de se estarem a aproximar os dias mais frios, levou as diversas entidades públicas a decidirem-se pela acção de realojamento neste momento. “A situação estava, de facto, a ficar caótica, e tínhamos já muitas queixas de moradores da zona, relacionadas com o uso indevido do espaço público”, falta de higiene e ruído durante a noite.
Em vídeos feitos por algumas pessoas sobre o momento da realização da operação, e a que o PÚBLICO teve acesso, é possível observar diversos funcionários do departamento de higiene urbana da Câmara de Lisboa a retirarem tendas e objectos diversos do passeio onde se encontravam e a atirá-los para camiões do lixo.
Em pelo menos um desses vídeos é observável e audível um dos indivíduos em situação de sem abrigo a queixar-se de que não lhe terão dado tempo de recolher os seus bens. “Chegaram e fomos expulsos, porque não somos ninguém. Mas, ao menos, deveriam ter deixado tirar a minha tenda e as minhas coisas. E agora, vou fazer o quê? Vou dormir onde?”, questiona o homem, sob o ruído da operação de limpeza. A fonte da Junta de Arroios garante, porém, que “foram todos avisados”.
Depois do espaço à volta da Igreja dos Anjos e do Regueirão dos Anjos, na mira da junta e da câmara estará agora também a situação observável, nos últimos tempos, na Rua de Santa Bárbara, com várias tendas a surgirem nos espaços verdes ali existentes.