O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, dirigiu-se esta terça-feira aos (poucos) líderes mundiais presentes na cimeira COP29, exigindo que “paguem” para evitar desastres humanos provocados pelo clima. Mais uma vez, sublinhou que o tempo está a esgotar-se para limitar um aumento destrutivo das temperaturas globais.
Cerca de 200 nações estão reunidas na cimeira anual da ONU sobre o clima, em Bacu, no Azerbaijão, com o objectivo de angariar centenas de milhares de milhões de dólares para financiar uma transição global para fontes de energia mais limpas e limitar os danos climáticos causados pelas emissões de carbono.
Mas no dia da cimeira destinada a reunir os líderes mundiais e a gerar um impulso político para a maratona de negociações, muitos dos principais intervenientes não estavam presentes para ouvir a mensagem de Guterres.
Após a vitória de Donald Trump, um negacionista das alterações climáticas, nas eleições presidenciais americanas, o Presidente Joe Biden não estará presente. Donald Trump só tomará posse em Janeiro de 2025. Na segunda-feira, John Podesta, enviado especial dos EUA para o Clima, tentou sossegar os parceiros sobre transição energética pós-Trump na conferência da ONU e desafiou a China a assumir papel relevante. O Presidente chinês, Xi Jinping, enviou um representante e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não está presente devido aos desenvolvimentos políticos em Bruxelas.
“No que respeita ao financiamento da luta contra as alterações climáticas, o mundo tem de pagar, ou a Humanidade pagará o preço”, afirmou Guterres num discurso. “O som que ouvem é o tiquetaque do relógio. Estamos na contagem decrescente final para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius e o tempo não está do nosso lado.”
Este ano deverá ser o mais quente de que há registo. Os cientistas afirmam que as provas demonstram que o aquecimento global e os seus impactos estão a desenrolar-se mais rapidamente do que o previsto e que o mundo pode já ter atingido 1,5 graus Celsius de aquecimento acima da temperatura média pré-industrial – um limiar crítico a partir do qual se corre o risco de alterações climáticas irreversíveis e extremas.
No início da COP29, os invulgares incêndios florestais na costa Leste dos Estados Unidos, que provocaram alertas sobre a qualidade do ar em Nova Iorque, continuavam a aumentar. Em Espanha, os sobreviventes estão a lidar com as piores inundações da história moderna do país na região de Valência e o Governo espanhol anunciou milhares de milhões de euros para a reconstrução.
Assassino da economia
A cimeira teve início na segunda-feira, com um acordo técnico considerado fundamental para o lançamento de um mercado global de carbono apoiado pela ONU, que financiaria milhares de milhões de dólares em projectos de redução das emissões de gases com efeito de estufa.
Esse sucesso foi prejudicado por uma disputa sobre as prioridades da cimeira – um braço-de-ferro processual que opôs os países europeus e os pequenos países insulares ao grupo de nações árabes sobre a importância que o futuro dos combustíveis fósseis deveria ter na agenda política.
Os procedimentos de abertura foram atrasados pelo menos cinco horas, terminando num compromisso aceite com relutância pela UE e outras nações alinhadas.
Numa conferência de imprensa realizada esta terça-feira, os responsáveis pela COP29 procuraram recentrar as atenções no principal objectivo da cimeira – chegar a um acordo sobre um financiamento anual até 1 bilião de dólares (mil milhões de euros) para os países em desenvolvimento.
“Permitir que todos os países tomem medidas fortes em matéria de clima é 100% do interesse de todos os países, mesmo os maiores e mais ricos. Porquê? Porque a crise climática está a tornar-se rapidamente um assassino da economia”, afirmou Simon Stiell, secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC, sigla em inglês).
“A menos que todos os países consigam reduzir profundamente as emissões, todos os países e todas as famílias serão ainda mais afectados do que são actualmente. Estaremos a viver num pesadelo inflacionista permanente.”