Colheita de mexilhões na Grécia dizimada pelo aquecimento do mar
A Grécia é um dos principais produtores europeus do mexilhão do Mediterrâneo, mas registou uma quebra de 90% nas capturas de 2024. Os produtores pedem mais apoios ao Estado.
Quando, no mês passado, Anastasios Zakalkas puxou as cordas da sua exploração de mexilhões no Mar Egeu, a devastação era evidente: as linhas não estavam cheias de moluscos, como deveriam de estar nesta altura da colheita, mas sim de conchas vazias e partidas.
É a segunda vez em três anos que as temperaturas recordes do mar afectam a colheita de mexilhões no norte da Grécia, onde os produtores afirmam ter registado uma quebra de 90% nas capturas de 2024. O próximo ano também será um fracasso, comentou Zakalkas à Reuters, porque todas as sementes para a próxima época também pereceram.
"A destruição que que sofremos (para o próximo ano) foi de 100%", explicou Zakalkas, de 35 anos, a bordo do seu barco de pesca, numa manhã amena de finais de Outubro. "Não sabemos como é que vamos ganhar a vida no ano que vem. O nosso principal e único trabalho é o mexilhão", acrescentou.
À semelhança de outros países mediterrânicos, a Grécia é particularmente susceptível às alterações climáticas, que este ano provocaram meses de temperaturas acima da média, secas violentas e incêndios florestais. As culturas, como as castanhas, as maçãs e as cerejas, foram afectadas. Os cientistas reafirmam que as condições meteorológicas extremas ligadas ao aquecimento global podem também significar más notícias para o sector da agricultura.
"Isto demonstra, mesmo para os mais cépticos, que a crise climática está aqui"
Uma série de ondas de calor atingiu a Grécia em Julho, fazendo com que a temperatura do mar do Golfo Termaico, a principal zona produtora de mexilhões, ultrapassasse os 30 graus Celsius durante vários dias - demasiado quente para os mexilhões sobreviverem. A última vez que a Grécia assistiu a uma morte em massa de mexilhões foi em 2021, mas os cientistas previram que tal não aconteceria nos próximos dez anos, referiu Kostas Koukaras, biólogo especializado nos ecossistemas marinhos, à Reuters.
"Isto demonstra, mesmo para os mais cépticos, que a crise climática está aqui", afirmou o biólogo. No momento em que os líderes mundiais se preparam para se reunirem em Bacu, no Azerbaijão, para a cimeira da ONU para o clima, COP29, também apelidada de "COP do financiamento do clima", Koukaras defende que os governos devem ajudar os produtores a lidar com os custos relacionados com o clima. "Estamos muito perto do colapso da criação de mexilhões na Grécia, por isso o Estado precisa de apoiar estas pessoas", concluiu.
A produção aquícola da Grécia valia mais de 619 milhões de euros em 2021, a terceira da Europa depois de França e de Espanha, de acordo com dados da Organização Helénica de Produtores de Aquicultura (HAPO, na sigla em inglês). A Grécia é um dos principais produtores europeus do mexilhão do Mediterrâneo e exporta quase a totalidade das 20 mil toneladas cultivadas anualmente por pequenas empresas familiares.
Em Espanha, também se registou a morte em massa de mexilhões, mas Koukaras diz que o sector grego foi o mais afectado uma vez que quase todas as explorações estão concentradas na mesma região.
Para as cerca de 100 famílias de criadores de mexilhões da pequena cidade de Kymina, como a do Anastasios Zakalkas, o futuro parece sombrio. Procuram obter uma indemnização do Estado para pagar as dívidas, enquanto outras procuram trabalho nas fábricas.
"Temos medo", comentou Sotiris Tsaros, outro produtor de mexilhões, à Reuters. "Se isto voltar a acontecer no próximo ano, vamos todos embora e tudo o que fiz como produtor nos últimos 30 anos, desaparecera", acrescentou.