Com Neymar Jr. a bordo, Tropicool prepara terreno para pousar em Portugal

Presente em 13 países e com cardápio que inclui polpa de açaí, smoothies, bolos e sucos à base vegana, empresa brasileira pretende abrir três lojas em território português em 2025 e 20 em cinco anos.

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Garoto-propaganda da Tropicool, Neymar Jr. ganha percentual sobre as vendas de produtos que usam a imagem dele AMANDA PEROBELLI / REUTERS
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A empresa brasileira Tropicool prepara sua entrada em Portugal. “O país, com mais de 10 milhões de habitantes, língua portuguesa e fortes laços com o Brasil, é um caminho natural para nosso negócio”, diz o head global da companhia, Rafael Prado. A meta é abrir pelo menos três lojas em território luso em 2025, chegando a 20 em cinco anos. A Tropicool tem no seu cardápio produtos com 50% de polpa de açaí, smoothies prontos para consumo — o de coco orgânico acaba de ser lançado —, pastas para frozen de manga, bolos e sucos de frutas tropicais, todos à base vegana.

Com o jogador de futebol Neymar Jr. como garoto-propaganda, a empresa já tem mais de 120 pontos de venda em 13 países. Na Europa, está presente na Dinamarca e vai aportar no ano que vem na Alemanha, na Itália, na França, na Espanha e em Andorra. “Já assinamos o contrato com um franqueado master. Em Portugal, ainda estamos em negociação, mas em processo avançado”, afirma Prado, que aponta o Reino Unido com outro foco de atenção.

Curiosamente, mesmo sendo controlada por brasileiros, a Tropicool não nasceu no Brasil. Na verdade, só chegou ao país neste ano, mais precisamente em São Paulo, depois de quase cinco anos da abertura no primeiro ponto de venda, em Dubai, nos Emirados Árabes. “Desde o início, a Tropicool foi pensada para ser uma empresa internacional. O nosso objetivo sempre foi o de ter uma marca global, para atingir o mercado internacional com um sistema bem montado”, ressalta o executivo “Isso passa pela comunicação e pelo sistema de suprimento”, explica.

Prado destaca que a logística sempre é o maior problema para o abastecimento das redes de franquia, ou seja, cumprir os prazos de entrega, com garantia de qualidade dos produtos. “Para isso, desenvolvemos uma polpa de açaí não congelada. Enquanto outras empresas enviam aos franqueados aqueles baldes de sete quilos de polpa congelada, que saem da empresa, entram nos caminhões e, depois, nos contêineres, enviamos a polpa líquida envasadas em sacos assépticos, com prazo de um ano de validade”, detalha.

Segundo ele, esse processo facilita a entrega do produto em qualquer parte do mundo e garante a segurança alimentar, uma vez que não tem nenhum contato com oxigênio, nem descongela. Prado ressalta que os produtos da Tropicool estão muito ligados ao esporte, à qualidade de vida, sem nenhuma presença de leite. “Por isso, escolhemos Neymar como embaixador da marca. Ele recebe um percentual das vendas de todos os produtos que carreguem a imagem dele”, diz.

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Estande da Tropicool na feira de alimentos de Paris teve filas para provas de produtos Divulgação

Vegano, mas com sabor

O head global da Tropicool ressalta que, mesmo com essa pegada vegana, os produtos da empresa têm sabor. “Tanto que ganhamos, em 2023 e 2024, o prêmio de melhor açaí do mundo”, frisa. A honraria foi concedida pelo Taste Institute, de Bruxelas, formado por cerca de 200 chefs de todo mundo, parte deles com estrelas Michelin. Há, ainda, a preocupação ambiental da empresa, que reverte parte dos lucros para a ONG SOS Amazônia, responsável por trabalhar com plantadores de açaí e no reflorestamento de áreas degradadas da floresta. “Fazemos as doações e acompanhamos a execução dos projetos”, frisa.

Desde que abriu as portas, em 2019, a Tropicool procurou se posicionar em mercados de alta renda. “Estamos em todos os hotéis de luxo de Dubai”, afirma Prado, e no prédio mais alto do mundo, o Burj Khalifa. “Na Austrália, temos uma operação que cresce muito”, emenda ele, negócio que inclui presença no clube exclusivo Bondi Icebergs, em Sidney. O executivo explica que nessas e em outras localidades, a empresa trabalha com dois modelos de negócios, franquias e distribuição de produtos. “Em cada país, temos uma estratégia, de acordo com a demanda.”

Ele acrescenta que o esforço hoje da Tropicool tem sido para encontrar parceiros que tenham mais aderência com o negócio, que cresce, em média, 40% ao ano, e operadores de franquias que consigam replicar o modelo da empresa. “Temos um menu amplo, e queremos garantir excelência no atendimento”, ressalta. Segundo o executivo, desde a fundação, a companhia vem trabalhando com capital próprio, mas, muito provavelmente, daqui a um ano, será natural que ela se abra ao mercado para continuar se expandindo.

Prado lembra que, além de três sócios brasileiros — ele, Maurício Esteves e Caio Nabuco —, a Tropicool tem, no seu capital, a participação da família Real do Catar. “Temos muita proximidade com esse parceiro, que vem nos ajudando a abrir muitas portas”, diz. Vale lembrar que Nabuco estudou na Harvard Business School com Mohammed Al Thani — Moe para os amigos —, integrante da família real. Foi nesse período de estudos, por sinal, que surgiu a ideia de se criar a companhia.

A Tropicool, lembra o head global, faz parte de um grupo maior, que tem como uma das âncoras a Timbro Trading, segunda maior trade do Brasil, com faturamento anual de R$ 15 bilhões (2,4 bilhões ou 2,4 mil milhões de euros). O conglomerado inclui, ainda, a Dinda Foods, que exporta produtos alimentares para a África e a América do Sul. “A nossa pauta de exportação e importação por meio da Timbro é bastante ampla. No caso das importações, toda a operação da Amazon no Brasil passa pela trade”, assinala.

Acordos comerciais

Na avaliação de Rafael Prado, faltam marcas brasileiras com reconhecimento pelo consumidor final no mundo. “Estamos, portanto, construindo um case que esperamos, nos próximos anos, seja uma marca que remeta à brasilidade, à qualidade e à inovação”, destaca. Ele reconhece que o Brasil tem indústrias de alimentos de altíssima qualidade e seriedade nos negócios. Mas, para as marcas em geral terem maior representatividade, é fundamental que o país defina, dentro dos mercados-alvos, que estratégia quer usar.

“Por exemplo, no caso da moda praia brasileira, há um mercado consumidor bom nos Estados Unidos e em vários países da Europa. Mas, quando se parte para a moda autoral, os consumidores externos não querem pagar o que a indústria brasileira precifica. Para mudar esse quadro, é preciso trabalhar as marcas e a percepção do público”, recomenda o executivo. No entender dele, esse trabalho é executado muito bem pelo agronegócio, que têm adidos espalhados pelo mundo para cuidar da imagem e abrir mercados.

Prado destaca, ainda, a importância de o Brasil investir no fechamento de acordos comerciais. Ele afirma que, do ponto de vista de promoção, o Itamaraty e a ApexBrasil têm feito um bom trabalho. “Porém, o país está pecando e perdendo força nos acordos. Creio que o Brasil precisa de uma visão mais agressiva no tabuleiro internacional para beneficiar os produtos nacionais”, frisa. E complementa: “Não basta ter promoção e se o produto é bom e está bem precificado, porque, se houver barreiras tarifárias, já na entrada se perde a competitividade”, explica. O executivo diz que, na Índia, seus produtos são taxados em 50%.

“Política externa tem de ser menos por afinidades ideológicas e mais por afinidades comerciais”, recomenda Prado, que torce para que o Mercosul, sob a liderança do Brasil, consiga, finalmente, destravar o esperado acordo com a União Europeia. As negociações para esse tratado de livre comércio se arrastam por mais de 20 anos.

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