Reportada mais uma morte que estará associada a atrasos no INEM. Casos sobem para 10
Mulher morreu na segunda-feira em Matosinhos depois de esperar cerca de meia hora para a sua chamada ser atendida. INEM diz que tempo médio de espera de atendimento era este sábado de 19 segundos.
Uma mulher morreu na passada segunda-feira em Matosinhos depois de esperar cerca de meia hora para a sua chamada ser atendida pelo Instituto de Emergência Médica (INEM). Com este caso, que aconteceu na passada segunda-feira mas só este sábado foi conhecido, sobe para 10 o número de mortes que ocorreram num contexto demora na resposta do INEM, que já estão a ser investigadas.
“Terá havido dificuldade de a senhora ligar para o INEM antes de contactar os bombeiros. Esteve perto de 30 minutos a ligar ao INEM. A situação poderia ter um desfecho diferente”, revelou o comandante dos bombeiros voluntários de Matosinhos-Leça, António Amaral, à RTP.
As falhas ou atrasos na resposta do serviço 112 e no encaminhamento para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), do INEM, devido à greve dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) têm levantado polémica, nomeadamente porque terão contribuído para que o socorro não chegasse a tempo de evitar algumas mortes.
Estas mortes alegadamente relacionadas com a falta de socorro por parte do INEM já motivaram a abertura de cinco inquéritos pelo Ministério Público (MP). Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), foram abertos inquéritos pelo Ministério Público às mortes ocorridas em Bragança, Cacela Velha, Vendas Novas, Almada e Ansião, mas este último caso foi entretanto arquivado por "não haver indícios da prática de crime", revelou a PGR à agência Lusa na sexta-feira.
Sobre os casos de Bragança, Cacela Velha, Vendas Novas e Almada, a PGR referiu que “se encontram em investigação”. A PGR acrescenta ainda que “quanto a outras situações”, está ainda “a aguardar informação”.
Os TEPH iniciaram no dia 30 de Outubro uma greve às horas extraordinárias para pedir a revisão da carreira e melhores condições salariais, paralisação que suspenderam na quinta-feira, após o sindicato ter assinado um protocolo negocial com o Ministério da Saúde. Na segunda-feira, a greve obrigou à paragem de 46 meios de socorro no país durante o turno da tarde, agravando-se os atrasos no atendimento da linha 112.
Como revelou o PÚBLICO neste sábado, o INEM não designou os trabalhadores que deveriam estar a cumprir os serviços mínimos na greve de segunda-feira decretada pela Federação Nacional de Sindicatos Independentes da Administração Pública, nem contestou a indicação genérica de serviços mínimos que esta entidade fez para todo o sector público.
Segundo o presidente do STEPH, Rui Lázaro, na passada segunda-feira chegaram a estar a atender chamadas de emergência em todo o país menos de uma dezena de profissionais. O resultado foi o pior nível de telefonemas atendidos em mais de 10 anos. É preciso recuar até 27 de Fevereiro de 2014 para encontrar um dia com menos contactos atendidos do que os 2510 registados na passada segunda-feira, mais trinta do que naquele dia. Nessa segunda-feira, ficaram por atender cerca de mil chamadas.
Já na noite deste sábado, o INEM revelou que o tempo médio de espera de atendimento dos CODU era agora de 19 segundos, acrescentando já estar em funcionamento a triagem automática.
Segundo o instituto, estes tempos são o resultado das medidas de contingência implementadas, “com vista à optimização do funcionamento da central médica” do INEM. Uma das medidas adoptadas foi um mecanismo de atendimento automático, “accionado apenas em momentos de sobrecarga do sistema do CODU”.
Assim, “se o tempo de espera atingir os três minutos, a chamada é imediatamente atendida e o contactante responderá com SIM ou NÃO às questões colocadas, permitindo de forma rápida e automática priorizar a gravidade das situações”, explica o comunicado. “Consoante o nível de gravidade, serão accionados meios de emergência ou as chamadas transferidas para o SNS 24”, acrescenta.
O INEM indicou ainda que já reforçou as escalas no período diurno, foram integrados enfermeiros nas equipas do CODU e comprometeu-se a “desenvolver todos os esforços no sentido de melhorar o atendimento aos cidadãos”.