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“Escrevo para não morrer”, diz o autor Pablo Barros, que lança A cura do Avesso
O livro de poesia, o quinto da carreira do escritor, será lançado em 14 de novembro, na Livraria da Travessa. Em dezembro, ele apresenta aos leitores um disco com oito poemas musicados.
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O escritor mineiro Pablo Barros, 45 anos, viveu uma experiência de quase morte durante uma viagem a trabalho para os Estados Unidos. Com uma infecção fortíssima, foi medicado de forma errada, mas, felizmente, a vida lhe deu outra chance. Com a saúde retomada, ficaram os traumas, que não o impediram de retornar ao ritmo alucinante do cargo que ocupava como diretor de marketing de uma grande empresa.
Foi preciso novamente a saúde fraquejar, com uma grande estafa, para que ele se desse conta de como o corpo e a cabeça estavam pedindo ajuda. Pablo decidiu tirar uns dias de folga, embarcou para Trancoso, na Bahia. Lá, teve a certeza de que precisava dar um tempo de tudo. Pediu demissão e ficou um ano curtindo a tranquilidade daquele paraíso, que abriga algumas das praias mais bonitas do Brasil. Nesse período, porém, passou a cogitar a possibilidade de se mudar para Portugal. E, ao mesmo tempo, começou a colocar no papel suas dores e alegrias.
Em 2019, o escritor tomou a decisão de experimentar novamente a vida de imigrante — ele já tinha morado três anos em Paris quando mais jovem. “Não foi fácil cruzar o Atlântico novamente para reconstruir a vida, pois a vida de imigrante não é fácil. Contudo, aprendi a gostar de Portugal e tem sido uma experiência incrível morar no país”, diz.
Todo esse tempo, da renúncia ao emprego, da ida para Trancoso e da mudança para Portugal, está descrito nas poesias que o autor reuniu no livro A Cura do Avesso, que ele lança nesta quinta-feira, 14 de novembro, na Livraria da Travessa, no Príncipe Real. “Acredito que esse meu renascimento, depois de todas as dores que enfrentei, pode ser compreendido e, quem sabe, ser um instrumento para ajudar outras pessoas”, afirma.
Dores e solidão
Pablo conta que um dos momentos mais inspiradores para a escrita dos poemas foi quando viveu no Alentejo, bem próximo da natureza. Ele, por sinal, faz uma analogia entre a sua superação e a dos navegadores portugueses, que, depois de conseguirem atravessar o Cabo Bojador, fizeram importantes descobertas pelo mundo. Aquela região era conhecida como Cabo do Medo. O sumiço de várias embarcações criou o mito de que a área era intransponível, cheia de monstros marinhos. O primeiro a atravessar o Bojador foi português Gil Eanes, em 1434.
“Posso dizer que, nesse período no Alentejo, deixei as perdas para trás”, assinala Pablo. O mar, inclusive, está presente em várias das poesias do livro, ligando o Rio de Janeiro, onde ele morou por mais de uma década, Trancoso e Portugal. “As águas do oceano que cruzei tantas vezes representam o movimento da vida, das emoções”, diz. Ele destaca que a escrita é uma forma de se manter vivo, de falar de pertencimento. “Escrevo para não morrer”, enfatiza. A Cura do Avesso, editado pela Glaciar, é a quinta obra do autor, que tem no currículo O Amor nas Cidades e O Esteio do Meio.
Pablo, que também é ator e dançarino, preparou uma surpresa para os leitores. Em outro evento, em 10 de dezembro, na Casa Fernando Pessoa, ele lançará um disco com oito músicas inspiradas nos textos de A Cura do Avesso. As vozes foram criadas por meio da inteligência artificial. “Ainda não cantei dessa vez, mas já estou fazendo aula de canto”, avisa. O mineiro divide a escrita de poesia, que ele considera um estilo não tão popular, mas profundo, que pode se simples para ser compreendido, com o trabalho de marketing para startups.
Esse mundo da tecnologia, já definiu ele, será tema de sua próxima obra. “Vou escrever sobre a solidão nesse mundo hiperconectado”, adianta. Na avaliação dele, as pessoas, em geral, estão perdendo a capacidade de estar presentes, de se comunicarem olho no olho. “Esse é um problema muito sério, porque deixamos de contemplar coisas simples. O exercício da criação é se permitir estar presente, sentindo as coisas”, ressalta. “Essa hiperconectividade faz com que as pessoas percam a capacidade de se concentrar até para ler um livro. Estamos diante de um tempo que não corresponde ao do nosso cérebro”, complementa.