Mais de 1,4 milhões de pessoas afectadas pelas cheias no Sudão do Sul

Numa altura de paralisação política e de “profunda frustração”, chuvas deixam 379 mil pessoas deslocadas e agravam uma “situação humanitária já crítica”. Mais de 1,6 milhões de crianças desnutridas.

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O Sudão do Sul é um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, enfrentando regularmente grandes cheias e períodos prolongados de seca Mohamed Nureldin Abdallah/REUTERS
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O período de transição política no Sudão do Sul, previsto no acordo de paz assinado em 2018, acabou de ser aumentado até Fevereiro de 2027, devido à paralisação política no país que não permite realizar as eleições previstas para o final deste ano. No meio de uma “situação humanitária já crítica”, agravada pelas cheias das últimas semanas, o chefe da missão da ONU no Sudão do Sul (UNMISS), Nicholas Haysom, alertou na sexta-feira o Conselho de Segurança nas Nações Unidas para a “profunda frustração” que se sente na população sul-sudanesa.

As cheias já afectaram 1,4 milhões de pessoas e fizeram 379 mil deslocados, de acordo com a Agência para a Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), que também alertou, de acordo com a Al-Jazeera, para um surto de malária no país. Aquele que é o mais jovem país do mundo (independente desde 2011) é muito vulnerável às alterações climáticas e enfrenta as piores inundações em décadas, sobretudo no Norte.

“Foi registado um aumento da malária nos estados de Juncáli, Unidade, Alto Nilo, Bar-el-Gazal do Norte, Equatória Central e Equatória Ocidental — sobrecarregando o sistema de saúde e exacerbando a situação e o impacto nas áreas afectadas pelas cheias”, afirmou a OCHA.

De acordo com o Banco Mundial, estas cheias levaram ao “agravamento de uma situação humanitária já crítica, marcada por uma grave insegurança alimentar, pelo declínio económico, pela continuação dos conflitos, por surtos de doenças e pelas repercussões do conflito no Sudão”. Mais de sete milhões dos 13 milhões de habitantes do país vivem com insegurança alimentar e 1,65 milhões de crianças estão desnutridas, segundo o Programa Alimentar Mundial.

Passados 14 anos da independência e seis do Acordo Revitalizado de Paz entre as forças do Presidente, Salva Kiir, e do vice-presidente, Riek Machar, o Sudão do Sul está preso numa espiral de desesperança: a violência intercomunitária prossegue, a guerra civil no vizinho Sudão desestabiliza e a desconfiança entre os dois principais actores políticos do país paira sobre todas as acções.

Daí que, na sua apresentação aos membros do Conselho de Segurança, Haysom se referisse ao “tão inevitável como lamentável” atraso na preparação das eleições que obrigaram ao prolongamento por mais dois anos do período de transição. Esta é a quarta vez que as Nações Unidas adiam o fim da transição política no Sudão do Sul.

“O relógio já começou a contar e não será reiniciado em Fevereiro do próximo ano, quando se iniciar a nova extensão [do prazo]. Caso contrário, poderíamos ver-nos na mesma situação em Dezembro de 2026”, disse o enviado especial da ONU, citado pela Europa Press.

“Não pode ser assim para as partes do acordo de paz, para a elite política, para os garantes do acordo de paz ou para a comunidade internacional. Temos de aproveitar colectivamente esta oportunidade para fazer desta prorrogação a última e alcançar a paz e a democracia que o povo do Sudão do Sul merece”, acrescentou Haysom.

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