O significado da vitória de Trump para a tecnologia
Desde um plano para “destruir o regime de censura da esquerda” à alta taxação da entrada do mercado chinês nos EUA. O que é que está em jogo para a tecnologia com a nova administração republicana?
Donald Trump ganhou pela segunda vez a presidência dos EUA. As grandes tecnológicas vão “esperar para ver” que medidas vão ser implementadas pelo futuro executivo, mas há algumas pistas e dados que apontam caminhos.
Redes sociais
Em 2022, Donald Trump apresentou a Iniciativa de Política para a Liberdade de Expressão, um plano que, nas suas palavras, pretende “destruir o regime de censura de esquerda”. No mesmo programa, o agora eleito Presidente dos Estados Unidos da América declarou que, após a sua tomada de posse, vai assinar uma ordem executiva para impedir qualquer departamento ou agência federal de limitar o “discurso legal” dos norte-americanos.
O republicano assegurou que quer proibir a aplicação de dinheiro estatal para o combate à desinformação, o que pode vir a traduzir-se num aumento da circulação de conteúdos enganosos. Além disso, Trump tenciona pedir ao Congresso a alteração da Secção 230 – lei que isenta as redes sociais de qualquer responsabilidade sobre o que é publicado pelos utilizadores – para que as grandes plataformas “deixem de exercer a censura”.
Vai ser também a primeira vez que um líder mundial tem o CEO de uma plataforma digital como seu aliado, Elon Musk, e ainda a sua própria rede social, a Truth Social. Segundo o Washington Post, esta dinâmica pode proporcionar a Trump “um megafone incomparável” e desafiar as discussões na Casa Branca sobre a “moderação de conteúdo”.
Quanto ao TikTok, Trump passou parte do seu primeiro mandato a tentar banir a aplicação, mas escolheu deixar a decisão para o Congresso. O republicano estava reticente pelo facto de a plataforma pertencer à chinesa ByteDance, mas mudou a sua opinião devido ao lobbying intenso de um investidor do grupo e à popularidade da rede social.
Inteligência artificial
No que toca ao destino da inteligência artificial (IA), Trump tem dito que pretende desmantelar a abordagem do actual presidente dos EUA no sector. A política de Joe Biden – intitulada Ordem Executiva de IA – incentiva as empresas a testarem e a trabalharem modelos de IA, para depois reportarem este desenvolvimento ao governo. Outra directriz, requer ao Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST) a criação de linhas orientadoras que auxiliem a identificar falhas e vieses nestes modelos.
Em Julho, numa audiência do Senado, o agora eleito vice-presidente JD Vance reiterou que as tentativas de regulamentação preventiva podiam dar “mais poder às incubadoras tecnológicas”. Um dos argumentos dos republicanos é que a medida para o NIST é uma forma de censurar o discurso conservador.
Veículos eléctricos
Outra proposta de Trump que tem sido motivo de discussão envolve a taxação em 10% de todos os bens importados, 60% no caso dos provenientes da China. Esta medida será um grande contra para os fabricantes do país asiático, que têm feito concorrência ao mercado americano com veículos eléctricos mais baratos.
Trump tem também a noção de que a indústria automóvel é uma das maiores importadoras da Europa para os EUA. “Quero que as empresas automóveis alemãs se tornem americanas. Quero que construam as suas fábricas aqui”, proferiu num comício em campanha.
O líder republicano já mencionou que queria reverter a Lei de Redução da Inflação da Administração de Biden que beneficia os compradores de carros eléctricos com créditos fiscais. Contudo, Elon Musk, grande apoiante de Trump, gere a empresa automóvel mais valiosa neste segmento. James Chen, antigo vice-presidente da Tesla, acredita que “se Elon conseguir impedir a difamação dos veículos eléctricos por uma potencial administração de Trump, melhor.”
Texto editado por Pedro Esteves