Quatro dias “À Volta do Barroco” na Casa da Música
Do século XVII à contemporaneidade, ciclo de concertos revisita Carlos Seixas, Domenico Scarlatti, Domingos Bomtempo, Haydn ou Bach.
A Orquestra Sinfónica e o Coro Casa da Música abrem esta sexta-feira o Festival "À Volta do Barroco", sobre "a profundidade e inovação do período barroco" vivido entre inícios do século XVII e finais do seguinte. O ciclo vai às origens italianas da expressão mais tardia, explora o seu impacto na transição galante para o classicismo e o legado que se estendeu por séculos, até à contemporaneidade, sem esquecer sementes da polifonia renascentista portuguesa.
No concerto de abertura, a Orquestra Sinfónica e Coro Casa da Música, sob a direcção do maestro Douglas Boyd, apresentam Libera me, de João Domingos Bomtempo, a Sinfonia Fúnebre, de Haydn, e o Concerto em Ré menor, de Bach, sendo solista o acordeonista João Barradas, Artista em Residência na Casa da Música (CdM). Este concerto propõe "um mergulho completo na riqueza histórica e na influência duradoura do barroco", escreve a CdM.
No domingo, o Remix Ensemble, na primeira parte do concerto, interpreta o contemporâneo Luca Francesconi, dirigido por Tito Ceccherini, com a flautista Stephanie Wagner. Na segunda-feira, a Orquestra Barroca da Casa da Música, dirigida por Andreas Staier, revisita obras de William Corbett, Carlos Seixas e Domenico Scarlatti, "destacando o diálogo entre solista e orquestra", segundo os seus princípios de interpretação historicamente informada. Este concerto testemunha a expressão privilegiada pelo rei João V, "que investiu na italianização da Sé Patriarcal e da Capela Real, com o envio de bolseiros a Itália e a contratação intensiva de prestigiados músicos italianos", como explica o programa.
Assim se cruzam as obras de Domenico Scarlatti, que se fixou na corte de Lisboa, na mesma altura em que o português Carlos Seixas se encontrava na Patriarcal, com a música de William Corbett, compositor inglês que viveu em Itália.
O repertório já foi gravado pelo maestro e cravista alemão Andreas Staier no disco Alla Portuguesa, que dá nome ao concerto.
Na terça-feira, o Remix Ensemble e a Orquestra Barroca da Casa da Música regressam para apresentarem o programa "Heranças do Barroco".
Na primeira parte, Andreas Staier volta a dirigir a Orquestra Barroca, desta feita na interpretação de peças de Charles Avison, Domenico Scarlatti e Luigi Boccherini, que também gravou. Na segunda parte, o maestro italiano Tito Ceccherini dirige o Remix Ensemble, num programa constituído por peças contemporâneas de Philippe Manoury e de Kaija Saariaho - a compositora finlandesa, que morreu em 2023, esteve em residência na CdM em 2010.
No domingo, dia 17, o Festival encerra com o Coro da Casa da Música, sob a direcção do maestro Nils Schweckendiek, que vai "explorar a riqueza da música coral portuguesa, desde a polifonia renascentista até criações contemporâneas de Ângela da Ponte, Luís Tinoco e Chagas Rosa".
Neste concerto serão também escutadas peças de Duarte Lobo, Pero de Gamboa, Carlos Seixas, Pedro de Cristo, João Lourenço Rebelo, Diogo Dias Melgás, e Francisco António de Almeida, completando um arco de quase 500 anos de música de tradição europeia, da polifonia renascentista portuguesa, à nova música "que ainda nasce como resultado das inovações do Barroco".