Banzado sou eu!
Não há razão para que o doutor Fausto Brito e Abreu se consuma em preocupações com a minha falta de dedicação aos assuntos do mar, em particular à relação institucional com as regiões autónomas.
Sempre tive simpatia por pessoas comuns, e em especial por aquelas que, como eu, herdam nomes de família invulgares, e que claramente não descendem de casas brasonadas nem de origens nobiliárquicas. Une-nos a experiência de passar pelas brincadeiras infantis de servir de bobo da corte nos recreios das escolas, pelas múltiplas variantes a que esses nomes se prestam – aquilo a que modernamente passámos a chamar bullying! Levamos essa experiência para a vida e passamos a lidar com algum humor com essas brincadeiras.
Tudo isto a propósito da surpresa que o jornal PÚBLICO me fez há dias ao publicar um artigo de opinião cujo título era precisamente uma variante jocosa do meu sobrenome – “Banzado” – assinado pelo doutor Fausto Brito e Abreu.
Não gastaria muito tempo a comentar essa brincadeira – em particular porque não tenho a felicidade de privar com o seu autor – não fora o facto de esse artigo de opinião conter três referências que, por não corresponderem à verdade e terem tido um efeito aparentemente tão perturbador no seu autor, não podem deixar de ser esclarecidas, esperando eu que estes esclarecimentos o possam tranquilizar e desvanecer as suas preocupações.
A primeira refere-se à circunstância de alegadamente eu ter dado uma entrevista ao PÚBLIO a propósito da minha participação na COP 16 da Biodiversidade das Nações Unidas, onde não terei transmitido a mensagem nacional com o rigor que me era exigido. Sucede que, na verdade essa entrevista nunca aconteceu.
Certamente que a jornalista do PÚBLICO – que acompanha as questões da biodiversidade e com quem tive já a oportunidade de me cruzar em COP anteriores – terá feito o seu trabalho de investigação e certamente terá seguido em direto a minha intervenção no plenário, a qual foi transmitida online, à semelhança de todas as outras intervenções dos representantes dos países participantes. E escreveu sobre o que entendeu, no pleno uso da liberdade de imprensa.
A segunda referência tem a ver com a suposta omissão da minha parte, relativa à criação da “maior rede de áreas marinhas da Europa, e do Atlântico Norte, com 287.000 quilómetros quadrados.” nos Açores.
Ora, tendo eu feito expressamente referência a este trabalho na minha intervenção, que proferi em representação da senhora Ministra do Ambiente, o que fiz nos seguintes termos, na língua inglesa: “I would also like to share that, since the adoption of the KM GBF and with particular relevance to the achievement of target 3, Portugal has classified, in January 2024, Algarve's Reef Marine Natural Park of Pedra do Valado, which covers an area of around 156.23 square kilometres and includes ‘Pedra do Valado’, one of the largest coastal reefs in our country, and in the last weeks, the largest MPA of the Noth Atlantic in Azores”, e tendo essa intervenção sido transmitida em direto para todo o mundo, não consigo descortinar a razão pela qual o autor, que já demonstrou o seu profundo interesse pelo tema, não se deu ao trabalho de ouvir o que eu disse, em vez de se pronunciar sobre o que lhe terão dito que eu não disse. Poderá naturalmente consultar o Portal das Nações Unidas e confirmará que o disse!
No artigo em que decidiu dedicar-me particular atenção, e que não pode por isso deixar-me senão lisonjeado, existe uma terceira referência ao facto de, segundo o autor, eu manifestar um “…desapreço e uma falta de entendimento da relevância do trabalho desenvolvido pelas regiões autónomas na conservação do oceano, e do seu impacto no prestígio internacional de Portugal.”
E encontra para tal preocupação uma solução baseada nas novas instalações do ICNF – que a propósito, tiveram o mérito de permitir reduzir a renda mensal de cerca de 75 mil euros para cerca de 20 mil euros – e no facto de estas terem antes albergado o Ministério do Mar.
Ora, talvez por falta de tempo, foi pena o autor não ter tido oportunidade de acompanhar os Diálogos Ministeriais que ocorreram também na COP 16 em Cali, no dia anterior à intervenção a que o autor se refere, e que foram da mesma forma transmitidos em direto.
Nestes Diálogos, onde intervêm a seu pedido os representantes dos países participantes, tive a particular honra de solicitar e me ser concedida a oportunidade de poder expressar uma mensagem em nome de Portugal, onde dei conta do trabalho que o país se encontra a desenvolver, e na qual não podia deixar de me referir ao trabalho feito nos Açores, mas também à importância do trabalho conjunto com as regiões autónomas, o que fiz nos seguintes termos, na língua inglesa: “Due to the more recent approval of the European Strategy for Biodiversity 2030 and the European Forest Strategy, we are currently working on these four documents to have a combined instrument that uses the best goals assumed by each one, and, at the same time, to have a practical approach to be able to deliver our part of the commitment. It will include the work with our Autonomous Regions – Azores and Madeira – regarding the establishment of new Marine Protected Areas. Last week, Portugal just established the largest MPA in the North Atlantic in the Azores.”
Como se percebe desta breve exposição, não há de facto razão para que o doutor Fausto Brito e Abreu se consuma em preocupações com a minha falta de interesse ou dedicação, quer aos assuntos do mar, quer em particular à relação institucional com as regiões autónomas, pois essa falta de interesse não existe, muito pelo contrário!
Mas não posso deixar de lhe agradecer a oportunidade, pois não fora este equívoco que tanto o preocupou, e que espero tenha ficado sanado, e porventura não teria eu dedicado o tempo necessário a dar a conhecer com detalhe o trabalho que fazemos no ICNF, em prol da biodiversidade, das políticas de conservação dos recursos terrestres e marinhos e do prestígio do país como um todo!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico