COP29: agir pela saúde é “uma questão de vida ou de morte”

A poucos dias do início da COP29, a OMS alerta para a relação estreita entre as alterações climáticas e a saúde. Apela ao investimento em “soluções comprovadas” e ao reforço da protecção da natureza.

Foto
A poluição atmosférica está associada a quase sete milhões de mortes prematuras todos os anos Manuel Roberto
Ouça este artigo
00:00
04:04

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

As alterações climáticas estão a deixar as pessoas doentes e agir rapidamente é "uma questão de vida ou de morte", alertou esta sexta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo que o tema da saúde esteja no centro da COP29. A 29.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29) começa na próxima segunda-feira e decorre até 22 de Novembro em Bacu, na capital do Azerbaijão.

"A saúde é a experiência vivida das alterações climáticas", resumiu Maria Neira, directora do Departamento de Ambiente, Alterações Climáticas e Saúde da OMS.

A COP28, realizada em 2023 no Dubai, incluiu pela primeira vez um dia dedicado à saúde e a OMS pediu mais, mostrando, sem margem para dúvidas, as ligações entre clima e saúde. Numa conferência de imprensa, a organização lançou dois relatórios sobre o assunto a propósito da COP29, um dos quais sobre a ligação entre alterações climáticas e saúde e intitulado de "A saúde é o argumento para a acção climática".

O outro relatório debruça-se sobre os critérios para integrar a questão da saúde nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, sigla em inglês), as propostas de cada país para baixar as emissões de gases com efeito de estufa e manter o aumento da temperatura abaixo dos 2 graus Celsius, como foi determinado no Acordo de Paris.

"Desde os efeitos directos dos fenómenos meteorológicos extremos e da poluição atmosférica até às consequências indirectas da perturbação dos ecossistemas e da instabilidade social, as alterações climáticas ameaçam a saúde física e mental, o bem-estar e a própria vida", sublinhou a OMS.

Adiantou que os impactos não são algo distante ou abstracto, sendo "sentidos agora através de temperaturas recordes na Índia, inundações mortais no Quénia e em Espanha, incêndios gigantescos na Amazónia e furacões nos Estados Unidos".

Os benefícios económicos e de saúde associados à resiliência e à mitigação das alterações climáticas excedem em muito os investimentos necessários para as implementar, reafirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS.

A luta contra uma ameaça à saúde mundial

Priorizar a saúde e o bem-estar na luta contra as alterações climáticas é "um imperativo moral" e "uma oportunidade estratégica", considerou o director-geral, adiantando que "a COP29 é uma ocasião crucial para os líderes mundiais integrarem considerações de saúde nas estratégias de adaptação e mitigação das alterações climáticas".

A poluição atmosférica está associada a quase sete milhões de mortes prematuras todos os anos e o calor excessivo provoca problemas renais, acidentes vasculares cerebrais, doenças cardiovasculares e respiratórias, falência de órgãos e, por vezes, a morte. A mudança das condições climáticas também possibilita a expansão geográfica de doenças infecciosas como a dengue, a malária, a doença dos legionários (Legionela) e a tuberculose.

Para alterar a situação, a OMS recomenda que a saúde seja "a principal medida do sucesso" da acção climática, que se acabe com a dependência e os subsídios aos combustíveis fósseis, que se invista em "soluções comprovadas" (sistemas de alerta ou energia doméstica limpa) e se reforce a protecção da natureza e da biodiversidade.

O relatório "Countdown on Health and Climate Change 2024" da revista científica The Lancet, divulgado no final de Outubro, alertava para o facto das ameaças à saúde causadas pelas alterações climáticas continuarem a bater recordes, insistindo na transição rápida de uma economia baseada em combustíveis fósseis para uma com emissões zero.

"Para uma reforma bem-sucedida, a saúde das pessoas deve estar no centro de uma política dirigida à mudança climática, para garantir que os mecanismos de financiamento protejam o bem-estar, reduzam as desigualdades e maximizem os ganhos em saúde, especialmente no caso dos países e comunidades que mais precisam", indicava a análise, que contou com o trabalho de mais de 120 especialistas académicos e de agências das Nações Unidas.

"Emissões recordes representam ameaças recordes à nossa saúde. Devemos curar a doença da inacção climática - cortando emissões, protegendo as pessoas de situações climáticos extremas e acabando com o nosso vício de combustíveis fósseis - para criar um futuro mais justo, seguro e saudável para todos", declarou António Guterres, secretário-geral da ONU, a propósito do relatório divulgado.