Público Brasil Histórias e notícias para a comunidade brasileira que vive ou quer viver em Portugal.
Escola de circo de Famalicão criada por brasileira e portugueses tem arte e inclusão
A escola, que fica no Norte de Portugal, recebe alunos de várias partes do mundo. Em média, os cursos tem 75 estudantes. A brasileira Juliana Moura diz que não há limite de idade para o picadeiro.
Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.
Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.
Aprender malabarismo, equilibrismo, acrobacias e aparelhos aéreos são as quatro possibilidades da escola do Instituto Nacional de Artes do Circo (INAC), de Vila Nova de Famalicão, no Norte de Portugal. Criado em 2016, o INAC tem três diretores, a brasileira Juliana Moura e os portugueses André Borges e Bruno Machado.
Natural de Santo André, São Paulo, Juliana, 39 anos, chegou em Portugal em 2010. “Tinha feito um trabalho num navio de cruzeiro, na Suécia e na Finlândia, por três meses, durante o verão. Depois, decidi me instalar em Portugal”, conta ela, que, originalmente, fazia acrobacias aéreas.
Logo que chegou, a paulita foi procurar trabalho no Porto. “Havia um espaço da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, que era utilizado por diversas companhias de teatro e dança e também por uma companhia de circo, a Erva Daninha. Fui lá, bati na porta e, quando abriram, eu disse: Olá, sou Juliana, do Brasil, e quero conhecer pessoas que fazem circo”, lembra.
Deu certo. Juliana começou a se apresentar com a Erva Daninha ainda em 2012. Foi lá que conheceu Bruno Machado, com quem se casou tempos depois, e começaram a trabalhar juntos. A proposta de criação do curso de circo surgiu em 2013, num momento em que o casal procurava um caminho.
"Creio que nunca almejei, não era meu sonho, criar uma escola. Mas, como poucas pessoas trabalhavam com o ensino das artes do circo em Portugal, e nós queríamos trabalhar, acabamos por dar origem ao INAC”, lembra Juliana.
Mãe de três filhas, a brasileira continuou trabalhando no circo por anos, mesmo depois das gravidezes. “Meu último espetáculo foi em 2019. Minha filha do meio tinha dois anos”, diz. Hoje, Juliana está do outro lado do picadeiro, apenas dirige as apresentações. “Sinto muita saudade do palco. É completamente diferente estar ali e estar do lado de fora”, admite.
Curso internacional
A escola tem 75 alunos no curso profissional, que tem dois anos de duração. “É a escola mais internacional de Portugal. Temos alunos de Cabo Verde, Estados Unidos, Canadá, Brasil, Chile, México, Japão, Malásia, Noruega, Inglaterra, França, Argentina e Austrália”, relata Juliana, que é diretora-geral e coordenadora pedagógica do INAC.
Ela afirma que, em cada turma, não há mais do que dois ou três portugueses. Também os professores são de muitos países: Portugal, Brasil, Colômbia, Peru, Costa Rica, Itália e Argentina. No total, são 18 profissionais ensinando as técnicas de circo na escola.
Segundo Juliana, não há reconhecimento do curso pelo Ministério da Educação, porque não há enquadramento nos níveis de ensino previstos em Portugal. "Situa-se entre o secundário e a graduação universitária”, explica. Ela cita países em que os cursos de circo tem nível de graduação: Bélgica, Holanda, França e Itália.
A formação dos artistas de circo dura dois anos, e é paga. “Somos uma cooperativa sustentada pelas mensalidades dos alunos”, explica Juliana. O valor pago anualmente por aluno é de 3.900 euros (R$ 24 mil).
Apesar de a escola não ter limite de idade, normalmente, os estudantes têm entre 18 e 35 anos. Para entrar, não há um vestibular, mas uma audição, em que os candidatos mostram as suas capacidades, que se realiza em maio de cada ano. As aulas começam em setembro, mesmo mês em que começa o ano letivo em Portugal.
Aulas inclusivas
Juliana ressalta que o INAC segue a linha do novo circo e não do circo tradicional, em que os números eram um seguido do outro. “Procuramos contar uma história nos espetáculos. É uma forma dramatúrgica de abordar o circo”, detalha.
Ao entrar, os alunos escolhem uma das quatro modalidades: aparelhos acrobáticos, aparelhos de equilíbrio, aparelhos de malabarismo e aparelhos aéreos. “A pedagogia é parecida com o ensino de música, em que o aluno escolhe um instrumento. Ele escolhe um tipo de aparelho, que tem as suas ramificações”, acrescenta a brasileira. No final do curso há uma apresentação na Casa das Artes de Famalicão. "Há um protocolo em que os alunos apresentam uma peça autoral num espaço profissional", afirma.
Apesar de não ser considerado como uma graduação, o INAC é reconhecido pela Direção-Geral do Emprego e Relações do Trabalho, de Portugal, que faz a avaliação em que aprova e certifica entidades formadoras, reconhecendo que os cursos têm capacidade e qualidade. O curso também tem o selo da FEDEC, uma rede internacional de formação em circo.
Além do curso profissional, o INAC tem curso amador. Chama-se Circo à Noite, e ocorre a partir do final da tarde, com alunos de todas as idades, uma ou duas vezes por semana. Qualquer pessoa pode participar.
A escola também oferece o Circo para Todos, dentro de uma política de inclusão. Há alunos com deficiências, como a trissomia 21. Este curso tem o financiamento do programa Partis, da Fundação Gulbenkian, que apoia projetos para públicos vulneráveis. Sinal de sucesso do programa, este ano, um aluno do Circo para Todos com trissomia 21 conseguiu entrar no curso profissional.