Republicano Tom Cotton recusa cargos na Administração Trump de olho em 2028
Senador do Arkansas, de 47 anos, era apontado como possível director da CIA ou secretário da Defesa. Distingue-se de J.D. Vance por ser um defensor da intervenção militar dos EUA no estrangeiro.
Menos de 48 horas depois da vitória de Donald Trump na eleição presidencial nos Estados Unidos, surgem os primeiros sinais de luta pela sucessão do líder incontestado do Partido Republicano, que não poderá candidatar-se a um terceiro mandato em 2028. Além do vice-presidente eleito, J.D. Vance — uma hipótese óbvia, tanto devido ao cargo que vai ocupar, como ao facto de ter apenas 40 anos —, também o senador republicano Tom Cotton parece estar interessado em lançar uma candidatura presidencial no futuro.
Cotton, de 47 anos, é um apoiante de Trump desde a primeira hora, e era também um dos nomes mais falados para ocupar um cargo de relevo na futura Administração Trump, apontado à liderança da CIA ou mesmo a secretário da Defesa.
Nesta quinta-feira, o site Axios noticiou, em exclusivo, que Cotton não irá aceitar qualquer convite para se juntar à equipa do próximo Presidente dos EUA, o que é visto como um sinal de que pretende concentrar-se na preparação de uma campanha presidencial em 2028.
Um antigo oficial do Exército norte-americano que combateu no terreno no Iraque e no Afeganistão, Cotton distingue-se no actual Partido Republicano por ser um acérrimo defensor do uso da capacidade militar dos EUA para conter avanços de adversários como a Rússia e a China — o que o distingue de Vance, um assumido proponente do isolacionismo norte-americano —, ao mesmo tempo que apoia o nacionalismo económico introduzido por Trump.
Em linha com o " trumpismo", é também um dos senadores do Congresso dos EUA que mais financiamento recebe da NRA (a National Rifle Association, o principal grupo de pressão norte-americano a favor da venda e posse de armas), além de ser fortemente anti-imigração e um conservador que se opõe ao direito ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em 2020, num artigo de opinião publicado no jornal New York Times, Cotton defendeu o uso de força militar para dispersar os protestos anti-racismo e contra a violência policial que se alastraram a várias cidades dos EUA na sequência da morte de George Floyd.
A publicação desse artigo deu origem a uma pequena revolução na redacção do jornal, com vários jornalistas e outros profissionais a condenarem a decisão dos directores de opinião por terem publicado um texto que consideravam ser de apelo à violência contra civis.
Além do seu desalinhamento com os apoiantes mais acérrimos de Trump em termos de política externa, Cotton pode ter outro problema para manter unido o actual eleitorado republicano numa possível candidatura presidencial em 2028.
Como senador dos EUA, foi dos poucos que veio a público afirmar, após a eleição presidencial de 2020, que não iria contestar a vitória eleitoral de Joe Biden durante a cerimónia de leitura dos votos do Colégio Eleitoral, a 6 de Janeiro de 2021. Depois da invasão do Capitólio por apoiantes de Trump, Cotton referiu-se aos invasores como "insurrectos" e disse que deveriam ser punidos pela lei.