Cheias em Espanha: 219 mortos e mais de 90 desaparecidos

A maioria das vítimas mortais é da Comunidade Valenciana, no Leste de Espanha, onde estão confirmados 211 mortos.

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Um homem caminha sobre escombros numa rua em Paiporta, uma das localidades mais afectadas pelas cheias, esta quinta-feira BIEL ALINO / EPA
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O número de mortos confirmados nas inundações de 29 de Outubro em Espanha subiu para 219 e as autoridades têm registo de 93 pessoas desaparecidas, segundo os balanços oficiais mais recentes. Os dados oficiais anteriores eram de 217 mortos e 89 desaparecidos.

Segundo a Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (Aemet), citada pela EFE, os alertas quanto a precipitação continuam activos nesta quinta-feira: a Comunidade Valenciana (no litoral norte da província de Alicante) e as Ilhas Baleares estiveram em alerta laranja por causa da chuva, tendo-se acumulado mais de 40 milímetros de chuva em uma hora – o que significa que caíram 40 litros de chuva por cada metro quadrado naquela hora. No sul de Valência, foram 20 litros por hora. No litoral norte de Alicante, a Aemet alerta para “precipitação persistente muito localizadas na zona de Pego que nas últimas horas superam os 60mm”.

A maioria das vítimas mortais registadas nos últimos dias é da Comunidade Valenciana, no Leste de Espanha, onde estão confirmados 211 mortos. Na região de Castela La Mancha, numa zona vizinha da Comunidade Valenciana, morreram mais sete pessoas e há ainda uma vítima mortal do temporal da semana passada na Andaluzia, no Sul do país.

Estes dados foram confirmados na quarta-feira à noite pelo ministro da Administração Interna de Espanha, Fernando Grande-Marlaska, numa entrevista à rádio Cadena Ser.

Quanto ao número de desaparecidos, as autoridades disseram que até às 20h de quarta-feira havia 93 casos confirmados e registados pelas equipas mistas de polícias e médicos forenses constituídas com este objectivo específico.

Estes casos de desaparecidos correspondem exclusivamente a denúncias em que os familiares forneceram dados sobre as pessoas que procuram, assim como amostras biológicas que permitirão, posteriormente, a identificação das vítimas, no caso de virem a ser encontrados os cadáveres, segundo explicou o Tribunal Superior de Justiça da Comunidade Valenciana, sob cuja tutela está o Centro de Integração de Dados (CID), uma estrutura que funciona em casos como o do temporal da semana passada.

Segundo o CID, o número total de desaparecidos nas inundações poderá continuar a alterar-se pela possibilidade de alguns casos não terem sido ainda denunciados e por haver neste momento 54 cadáveres ainda não identificados nas morgues de Valência, cujos dados estão a ser cruzados com os dos desaparecidos.

O ministro Fernando Grande-Marlaska sublinhou que os dados relativos aos desaparecidos são “de uma sensibilidade máxima” e só pode ser divulgada informação através do CID, com base em “dados objectivos”, realçando que é também a maneira de combater a desinformação e boatos falsos que estão a circular nas redes sociais e outros canais relacionados com as inundações.

Entre 29 e 30 de Outubro choveu em oito horas o equivalente a um ano de chuva em várias localidades da Comunidade Valenciana, segundo meteorologistas espanhóis. As imagens divulgadas mostravam aldeias, estradas, ruas e campos inundados, carros arrastados pelas águas e presos em auto-estradas.

O primeiro aviso móvel de risco emitido pela Protecção Civil espanhola chegou à população quando “já havia estradas cortadas e localidades inundadas”, segundo a televisão espanhola TVE. Também por isso a tragédia passou para o campo de batalha político: os habitantes queixavam-se dos atrasos e da falta de coordenação na resposta à crise.

O primeiro-ministro, Pedro Sanchéz, e os reis de Espanha, Filipe VI e Letizia, visitaram Paiporta, uma das localidades mais afectadas, acompanhados de Carlos Mazón, presidente da Comunidade Valenciana. A população recebeu-os com insultos, arremessou lama e outros objectos e o primeiro-ministro espanhol acabou por ser retirado do local, enquanto os reis tentavam acalmar os ânimos.

As cheias obrigaram à “maior mobilização de Forças Armadas alguma vez feita em tempos de paz” e milhares de voluntários dirigiram-se a Valência para ajudar a limpar os estragos causados pelas inundações. São sobretudo jovens, que também distribuem água e alimentos pela população.

A Catalunha foi igualmente afectada pelas cheias. As chuvas fortes impuseram constrangimentos, no domingo (dia 4), no Aeroporto El Prat, de Barcelona, que teve de atrasar ou cancelar cerca de 50 voos, de acordo com a Europa Press, assim como desviar outros 17 voos. Vários hospitais cancelaram actividades não urgentes e a Rodalíes, o serviço de comboios regional da Catalunha, esteve suspenso até pelo menos às 14h.