O dia seguinte à eleição de Trump
Ontem foi um dia difícil. Enquanto lutava para erguer a cabeça e respirar fundo, o resultado das eleições norte-americanas pesava profundamente sobre aqueles de nós comprometidos com a sustentabilidade e a ação climática.
Anos de esforços, trabalho, negociações multilaterais e internacionais afundavam-se em slogans como “Drill, baby, drill” com a vitória de um líder a quem pouco ou nada importa se um modelo de crescimento económico é sustentável, ambiental e socialmente. Um líder que personaliza uma visão profundamente individualista do mundo.
É um retrocesso. Um passo atrás em direção a um modelo que já sabemos que não funciona a longo prazo. Um modelo que conseguimos aceitar dos nossos pais e avós, que fizeram o melhor possível com o que sabiam, mas que não podemos, de forma alguma, deixar aos nossos filhos e netos.
Um modelo que ignora a interconexão entre todas as coisas e espécies, que nos coloca num patamar superior ao resto do planeta, apesar dos inúmeros avisos que a natureza nos deixa. Um modelo que acredita que os recursos, existindo, são para gastar, e que prioriza o lucro imediato sobre de longo prazo, com todas as consequências negativas que isso acarreta.
Mas hoje, no dia seguinte, recordo uma verdade importante: o progresso quase nunca é linear. Certamente existe um limite para o retrocesso que alguém pode provocar, mesmo sentando-se no mais alto dos cargos políticos.
A economia das energias limpas está firmemente do nosso lado. O argumento para proteger a natureza fortalece-se a cada dia. E a visão de um mundo mais verde e inclusivo continua a ganhar impulso.
Não se trata de esquerda ou direita, capitalismo ou comunismo, nem com nacionalismo ou globalismo, trata-se de cuidar do planeta de forma que ele nos possa continuar a sustentar.
É encorajador ver países, estados, cidades e empresas reafirmarem o seu compromisso com os objetivos climáticos, independentemente das mudanças na política norte-americana.
Mas o que realmente devolve a esperança, apenas um dia depois, é a dedicação incondicional de todas as pessoas que trabalham para construir um mundo mais seguro, mais limpo e mais inclusivo.
Quando o sistema falha, os cidadãos lideram. Juntos, continuaremos a impulsionar a mudança a partir da base, e a demonstrar que os movimentos de base são tão (ou mais) poderosos como as diretrizes de cima para baixo.
Para aqueles que se sentem desanimados pelos acontecimentos recentes, digo o seguinte: cuidem-se, mas não percam a esperança. O nosso trabalho é agora mais crucial do que nunca.
E lembrem-se, Trump conseguiu repetir algo que acreditávamos ser impensável, mas, para nós, esta é também uma segunda vez.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico