Relaxar
Quem canta o tremoço come (e brinda com os cotovelos)
Sugestões para cozinhar, comer, beber, ler, ouvir e passear.
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Como relaxar
Entramos a cantar, para espantar os males ou pelo simples prazer de entoar Amar pelos dois, Canção do mar, Grândola, vila morena, Malhão, malhão, Foi Deus ou A loja do mestre André. Esta meia-dúzia de temas não vem à pauta por acaso: foram os escolhidos para representar Portugal no primeiro cancioneiro da União Europeia.
Seis é também o número dos hotéis portugueses brindados com prémios de excelência atribuídos pelo guia Condé Nast Johansens, todos com luxo incluído.
A Casa do Gadanha, em Estremoz, conquista com outros trunfos: o sossego de uma antiga casa senhorial, com ares de campo mas no centro da "cidade branca" alentejana, onde se nota a atenção ao pormenor e se sente um ambiente caloroso, acolhedor e familiar.
Para quem vive em cidades de passo mais apertado, como Lisboa, a prescrição para equilibrar corpo e mente é a sabedoria milenar japonesa. Vai ser partilhada no sábado, em Telheiras, no primeiro Encontro Cultural Japão-Portugal, através de massagens e oficinas de reiki, mas também ikebana, origami, artes marciais ou gastronomia.
Por onde andar
A natureza convida a uma caminhada pela Mata do Buçaco, que à beleza do percurso e à riqueza da biodiversidade junta agora o crédito de primeira floresta terapêutica da Península Ibérica. Para passeios futuros fica a notícia do lançamento de um guia de ecoturismo na região Centro.
Nas ilhas, descobrimos outros encantos naturais: o espectáculo que é o grande bailado dos lobos-marinhos nas Desertas madeirenses, colónia filmada pelo documentarista norte-americano Andy Mann; e os avisos de "rapina, rapina, rapina!", por quem espia as aves na ilha açoriana do Corvo.
Voltemos ao canto por uns momentos. Perdão, ao cante. É que a voz do Alentejo faz dez anos enquanto Património da Humanidade e há que acompanhar a festa que se multiplica na região (e não só), entre grupos corais, exposições, lançamentos de livros e muito mais. De caminho, damos um salto ao Castelo de Terena para um fim-de-semana medieval.
Na voz de Helder Moutinho vai O Dia da Liberdade, ciclo que o fadista abre em Oeiras. A outros palcos vão uma soberba escultura humana coreografada por Faye Driscoll, uma exposição que apanha os 50 anos de democracia e que não é para "os tolinhos da arquitectura", e uma dicas para passar tempo em família.
O que comer
Mesa posta com bacalhau e outros trunfos da gastronomia de bordo, o mar de sabores de Peniche e um festival de lagosta. Tudo bem regado com um fiozinho de azeite. Eis o que as águas de Novembro reservam aos comensais.
Este é também o mês em que caçoilas, castanhas, míscaros e outros sabores do Outono se dão a provar nas Aldeias de Montanha. Em Lisboa, saboreia-se o dim sum que chega de carrinho à mesa do JNcQUOI Frou Frou (incluindo "o mais perigoso de todos", assegura Inês Duarte Freitas).
O Brasil contribui para a ementa com a história da rainha da tapioca e com o gostinho de jabuticabas, uvaias, guabijus, araçás-boi, carambolas, pitangas e outras frutas para cultivar em casa. Fora de portas, vamos a Munique com Alexandra Prado Coelho conhecer um dos rostos da nova gastronomia da cidade alemã: o chef Tohru Nakamura.
E agora uma adivinha: qual é o alimento delicioso, saudável e barato que os portugueses mais desprezam? Miguel Esteves Cardoso lança a pergunta e dá a resposta: é o tremoço. É favor deixar de desconfiar do marisco favorito do Eusébio.
O que beber
Para regar a descontracção, Edgardo Pacheco recomenda a homenagem a um velho (e bom) Alentejo – de tintos feitos com vagar, vinhas velhas e a ajuda da natureza – encapsulada num Mamoré de Borba Grande Reserva.
Pedro Garcias, por seu lado, prova um grande Madeira com a doçura da cana-de-açúcar e a acidez da terra vulcânica, o Bual de 1988 (Cossart-Gordon). E aproveita para falar da importância do cotovelo para beber vinho.
Um Borges Reserva Douro Branco 2023 e um Muros de Melgaço Alvarinho do mesmo ano, (a)provados por Ana Isabel Pereira, completam a carta da semana.
O que ver
Na ressaca do Halloween e para quem ainda não matou a sede de horrores, deixamos uma lista de títulos para assustar todos os gostos. Também temos "música para os olhos" no documentário que acaba de sair sobre John Williams, o grande compositor de bandas sonoras.
No horizonte do pequeno ecrã também estão Os Lusíadas segundo uma ideia do encenador Daniel Gorjão, numa série da RTP2 à medida dos 500 anos do nascimento de Camões. Mais à frente há-de avistar-se o thriller Cold Haven, primeira co-produção numa série televisiva entre Portugal e a Islândia. Joana Amaral Cardoso foi espreitar a rodagem.
Os cinemas assistem, entre outras estreias, à memória dos africanos que combateram por Portugal via Por Ti, Portugal, Eu Juro!, à pequena fantasia deprimida que é Estamos no Ar; a um Conclave competente e a uma surpresa chamada Red Rooms.
Nota ainda para a realização de um ciclo de cinema brasileiro na Cinemateca Portuguesa, onde também é projectada a integral possível do "mais célebre dos cineastas desconhecidos", Chris Marker, e para mais uma edição do Leffest, habitada por leões, pássaros e orgias romanas – e com um "caderno de serviços mínimos para chegar ao deslumbre", alinhado por Vasco Câmara.
O que ler
Primeiro, uma ronda de aplausos: a Pés de Barro, de Nuno Miguel Silva Duarte, Prémio LeYa 2024; a Hugo Gonçalves, que vence com Revolução o Prémio Literário Fernando Namora; a Kamel Daoud, que recebe o Goncourt por Houris, um romance proibido na Argélia; a Miguel Bonnefoy, que ganha o Femina por Le Rêve du Jaguar; e a Julia Deck, que vê o seu romance autobiográfico Ann d’Angleterre galardoado com o Médicis.
Noutros capítulos surgem a etnografia poética de Pedro Bastos em Souvenirs Satânicos, a tradução portuguesa de Um Outro País de James Baldwin e os Meus Desacontecimentos segundo Eliane Brum, "correspondente de guerra" na Amazónia.
Uma conversa com José Eduardo Agualusa e outra com Afonso Borges intercalam-se com excertos d’A Outra Filha escrita pela nobelizada Annie Ernaux e do elogiadíssimo A Picada de Abelha de Paul Murray, sem esquecer A Sabedoria dos Povos Indígenas louvada aos leitores mais pequenos por Josep Maria Mallarach.
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