Líderes europeus começam a absorver o choque do regresso de Trump

O impacto da vitória do candidato republicano à presidência dos EUA será o tema principal de um jantar de trabalho dos chefes de Estado e governo da UE em Budapeste.

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Ursula von der Leyen destacou a importância e solidez da relação transatlântica OLIVIER MATTHYS / EPA
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Afastado o cenário de incerteza nos Estados Unidos, o jantar de trabalho dos chefes de Estado e governo do Conselho Europeu desta quinta-feira, em Budapeste, servirá para “digerir” a vitória eleitoral do candidato republicano, Donald Trump, e o seu regresso à Casa Branca – que verdadeiramente só entusiasmou o primeiro-ministro da Hungria e anfitrião dos líderes da UE, Viktor Orbán.

“O maior regresso da história política dos EUA” e “uma enorme vitória muito necessária para o mundo”, foi como o líder iliberal que governa a Hungria desde 2010 descreveu o sucesso eleitoral de Donald Trump, que lhe oferece um respaldo para as suas posições conservadoras e radicais que muito dificilmente encontra entre os seus parceiros da UE.

Os outros líderes europeus que felicitaram Donald Trump pela sua reeleição foram bem mais comedidos nos seus comentários, que tal como previamente acordado, destacavam a importância e solidez da relação transatlântica, num contexto em que a segurança global está em risco.

“Aguardo com expectativa a oportunidade de voltar a trabalhar com o Presidente Trump para fazer avançar uma agenda transatlântica forte. Os nossos povos estão ligados por uma verdadeira parceria, enraizada na nossa história partilhada, no nosso empenho na liberdade e na democracia e nos nossos objectivos comuns de segurança e oportunidade para todos”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Numa nota divulgada ao início da manhã de quarta-feira, quando a aritmética do colégio eleitoral norte-americano confirmou a eleição de Donald Trump, Von der Leyen apelou para que os EUA e a UE continuem a “trabalhar em conjunto para que a parceria transatlântica continue a produzir resultados para os nossos cidadãos”, vincando que “milhões de postos de trabalho e milhares de milhões de euros de comércio e investimento em cada lado do Atlântico dependem do dinamismo e da estabilidade da nossa relação económica”.

Um apelo à “cooperação construtiva” que foi repetido por Charles Michel e os restantes membros do Conselho Europeu, que esta quinta-feira seguem directamente da sessão plenária da quinta reunião da Comunidade Política Europeia, na Arena Puskas, para um jantar de trabalho que será servido no edifício do Parlamento.

“Apertem os cintos de segurança”, recomendara o primeiro-ministro húngaro, na antecipação das duas reuniões. Mas não era preciso um aviso de Orbán, que apostou todas as suas fichas na campanha de Donald Trump: todos os líderes da UE sabem, por experiência própria, que têm que estar preparados, porque vem aí turbulência.

Como enquadrava uma fonte europeia, antes de embarcar para Budapeste, a relação com os EUA é “crítica” para a União Europeia, daí a ansiedade com o resultado das eleições presidenciais, que tem inevitavelmente um “enorme impacto” na UE.

Neste momento, os europeus estão confrontados com uma ameaça existencial, que decorre da guerra de agressão lançada pela Rússia contra a Ucrânia, ao mesmo tempo que absorvem os estilhaços da crise regional do Médio Oriente. “Há uma grande ansiedade com a política do próximo Presidente dos EUA, mas também com a unidade dos 27 face aos EUA”, explicava, dizendo que os Estados Unidos “podem dividir os europeus mais do que qualquer outro país”, seja ele a Rússia ou a China.

A principal preocupação tem a ver com a guerra na Ucrânia, que o Presidente eleito dos EUA garante que vai conseguir resolver de um dia para o outro. “A UE conseguiu manter a unidade em relação à Ucrânia nos últimos três anos, apesar do desconforto com a postura da Hungria e o descontentamento com as démarches empreendidas por Viktor Orbán nas suas visitas a Moscovo e Pequim”, lembrava uma fonte diplomática.

As instituições europeias estão, há meses, a trabalhar em diversos cenários para responder às medidas que Donald Trump prometeu durante a campanha eleitoral. O debate previsto para o jantar dos líderes do Conselho Europeu será sobretudo político, mas em cima da mesa já há elementos técnicos mais concretos, por exemplo para afinar a retaliação da UE no caso de uma nova guerra comercial, quer através da imposição de novas tarifas alfandegárias ou outras restrições às importações.

Segundo uma fonte europeia, Trump provou no passado que a sua abordagem é sempre transaccional, e é nesse pressuposto que a UE está a preparar-se para se relacionar com futura Administração – entre os líderes, há quem defenda que a sua reeleição até abre “novas oportunidades”. Mas claro que nada garante que “o Trump 2.0 seja igual ao primeiro”, admitia. “É difícil saber se estamos realmente preparados para absorver o choque. Duvido”, afirmou.

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