Chanceler alemão demite ministro das Finanças e abre caminho a eleições antecipadas

Olaf Scholz acusa Christian Lindner de servir o seu próprio partido, o FDP, e não o bem comum. Alemães podem ir a votos em Março.

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Olaf Scholz convocou moção de confiança para Janeiro CLEMENS BILAN / EPA
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O chanceler alemão Olaf Scholz demitiu esta quarta-feira o ministro das Finanças, Christian Lindner, líder do FDP, o partido liberal que integra a coligação que forma o Governo, e anunciou que irá convocar para 15 de Janeiro uma moção de confiança que poderá abrir caminho à marcação de eleições federais antecipadas em Março.

Na conferência de imprensa em que anunciou a saída do ministro das Finanças, Scholz disse que pediu a demissão de Lindner por este servir o seu próprio partido e não o bem comum, uma decisão que coloca efectivamente o ponto final à coligação tripartida que governa o país desde Dezembro de 2021.

“Qualquer pessoa que integre um governo deve actuar de forma responsável e fiável, não pode fugir quando as coisas se tornam difíceis”, disse o chanceler aos jornalistas. “Têm de estar dispostos a fazer compromissos no interesse de todos os cidadãos”.

Com a saída de Lindner e do FDP, Scholz fica assim a liderar um governo minoritário com os Verdes, que já anunciaram, pela voz do ministro da Economia, Robert Habeck, que se mantêm no executivo.

“A Alemanha terá de tomar uma nova decisão para a próxima coligação governamental”, disse Habeck. “Até lá, mantemo-nos em funções e estamos firmemente empenhados em cumprir plenamente os deveres do cargo, proporcionando estabilidade a partir do governo, que a Alemanha pode e deve oferecer à Europa”, acrescentou.

Lindner, que também é líder do FDP, rejeitou quaisquer aumentos de impostos ou alterações aos limites rigorosos que a Alemanha impôs a si própria para o endividamento. Os sociais-democratas de Scholz e os Verdes, que também fazem parte da coligação, defendem a aposta no investimento do estado e rejeitam as propostas dos liberais de cortar nos programas sociais.

“Mas esse não é precisamente o foco de Christian Lindner neste momento, ele está concentrado na sua própria clientela”, acusou Scholz durante a conferência de imprensa.

Em resposta a Scholz, Lindner disse que foi demitido porque o chanceler tentou forçá-lo a suspender o travão constitucional da dívida do país.

“Olaf Scholz recusa-se a reconhecer que o nosso país precisa de um novo modelo económico”, disse aos jornalistas, após o fracasso das negociações. “Olaf Scholz mostrou que não tem força para dar um novo impulso ao seu país”.

“Em vez disso, esta tarde, o chanceler fez-me um ultimato para suspender o travão constitucional da dívida. Eu não podia fazer isso porque estaria a quebrar o meu juramento”, acrescentou.

O colapso da coligação tripartida marca o fim de meses de disputas sobre a política orçamental e a orientação económica da Alemanha, com a popularidade do Governo a cair e as forças de extrema-direita e de extrema-esquerda a crescerem.

A crise política poderá assim alimentar a crescente frustração com os principais partidos alemães em benefício de de forças populistas, incluindo a Alternativa para a Alemanha (AfD), anti-imigração.

Com a França também a enfrentar incertezas políticas após as eleições antecipadas deste ano, a turbulência nas duas maiores economias da União Europeia poderá dificultar os esforços para aprofundar a integração do bloco, numa altura em que este enfrenta desafios a Leste (a guerra na Ucrânia) e a Oeste (a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA).

A Alemanha enfrenta o seu segundo ano de contracção e uma crise no seu modelo económico após o fim da importação de gás barato proveniente da Rússia, na sequência da invasão da Ucrânia em 2022, e da crescente concorrência da China.

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