Há uma academia em Coimbra que junta crenças e religiões diversas
Durante três dias, a Universidade de Coimbra abre as portas à diversidade de tradições orientais, no âmbito de um encontro de religiões que esgotou as inscrições.
Chama-se Academia para o Encontro de Culturas e Religiões (APECER) e desde 2020 que faz parte da reitoria da Universidade de Coimbra (UC), levando o tema a discussão e promovendo vários projectos. Mas neste ano deu um passo maior, ao promover um novo curso livre, agora dedicado às religiões orientais. As inscrições esgotaram rapidamente, para espanto da própria organização, que pela primeira vez decidiu abordar o tema da meditação nas grandes tradições religiosas, com uma oficina própria, nesta quarta-feira.
O encontro de culturas e religiões acontece na sala de São Pedro, na Biblioteca Geral da UC, e propõe-se “oferecer uma visão das principais tradições místicas e sapienciais do Oriente: o hinduísmo, o budismo, o confucionismo e o taoismo. Queremos explicar de forma didáctica as origens, os fundamentos, os actores, os textos e as formas de expressões de cada uma destas crenças”, disse ao PÚBLICO João Gouveia Monteiro, que dirige a APECER. Para hoje, a organização reservou algo inédito: um contacto com as técnicas de meditação praticadas pelos hindus, pelos budistas, pelos cristãos e pelos muçulmanos sufis, explicando os seus pressupostos e objectivos. “Teremos 40 pessoas em cada sessão, de idades e formações diversas (áreas de humanidades, técnicas e científicas), crentes e não crentes, de dentro e de fora da UC”, explica João Gouveia Monteiro.
Para o dia de amanhã, 7 de Novembro, está agendada uma conferência sobre Introdução ao Hinduísmo, que contará com a presença de Krishna Kripa Dasa, sacerdote purohita e presidente da Federação Hindu de Espanha, membro do Conselho Consultivo da APECER. No mesmo dia, o próprio Gouveia Monteiro será o orador da palestra “De Laozi a Zhuangzi: o Taoísmo ou a Via do Vazio Perfeito”.
“O objectivo da APECER-UC é promover o esclarecimento numa perspectiva não confessional e integradora. Num mundo em que 85% das pessoas têm um compromisso religioso e num país em que não há ensino da história das religiões nas escolas públicas, achamos que isso é crucial”, diz ao PÚBLICO o director da academia. “Queremos perceber como as pessoas pensam, nos vários cantos do mundo. Queremos fomentar o conhecimento que conduz à compreensão do outro, à superação do preconceito, à construção da paz. Além disso, as religiões são parte importante do fundamento cultural de um povo, pelo que a nossa actividade permite apreciar com muito mais lucidez as grandes criações da humanidade”, conclui.
Um projecto “sem compromisso de fé”
A APECER nasceu em 2020, em plena pandemia, como um projecto especial da reitoria da UC, alojado na Biblioteca Geral e dinamizado por pessoas de crenças diversas “ou sem compromisso de fé”, explica João Gouveia Monteiro, que acedeu desempenhar o cargo de director-geral. O padre Anselmo Borges é o presidente honorário.
Ao longo dos últimos quatro anos a APECER já realizou mais de 20 eventos, entre cursos livres (religiões abraâmicas, religiões orientais, politeísmos antigos), colóquios temáticos (Religiões e Alimentação, Religião e Medicina) e tertúlias diversas. Uma das mais concorridas aconteceu recentemente, sobre a visão da mulher em relação a estes temas. Juntam-se ao rol de eventos conferências, comentário de filmes e apresentação de livros nascidos nas actividades da academia, como foi o caso de História Concisa das Grandes Religiões, ou Da Origem dos Deuses às Religiões do Futuro.