Inovação e Sustentabilidade: um compromisso interdisciplinar
Durante dois dias, a 4.ª conferência internacional do Insure.hub promoveu a transferência de conhecimento entre academia e indústria para acelerar soluções para um futuro mais sustentável.
A 4.ª Conferência Internacional Insure.hub reuniu académicos, especialistas e profissionais de diversas áreas para discutir inovação, sustentabilidade e regeneração. O evento, organizado pela Universidade Católica Portuguesa – Escola Superior de Biotecnologia e Católica Porto Business School – com a Planetiers New Generation, teve como principal objectivo promover a partilha de conhecimento entre academia e indústria, incentivando uma colaboração prática na implementação de soluções eficazes para enfrentar os desafios globais - do presente e do futuro. Ao longo dos dois intensos dias de programa, foi constante a valorização de abordagens multidisciplinares e o uso responsável de tecnologias, como a inteligência artificial (IA) e a ciência de dados, para alcançar as metas de sustentabilidade. As mais de duas dezenas de artigos científicos apresentados, os casos práticos partilhados por empresas e o contributo de oradores internacionais com perspectivas singulares contribuíram para um programa inovador e inspirador.
Promover o diálogo entre academia e empresas
Divididos em ciências sociais e ciências naturais, investigadores nacionais e internacionais tiveram oportunidade de apresentar projectos, partilhar experiências e debater soluções perante um júri especializado. Este formato de sessões públicas, uma das grandes apostas do evento, permite um diálogo construtivo para refinar ideias e avançar com metodologias mais eficazes. Os destaques foram para Ana Mesias, nas ciências naturais, com o prémio atribuído pela KPMG ao estudo que coordena sobre o potencial dos derivados de insectos peptídeos no tratamento sustentável e eficaz do Alzheimer. João Nuno Gonçalves, nas ciências naturais, venceu o prémio da MDS para melhor apresentação com o artigo científico “Boosting supply chain simulation processes using multi-target machine learning”. Durante os dois dias, houve espaço para a apresentação de projectos sobre temas tão diversos quanto práticas artísticas sustentáveis, descarbonização ou questões relacionadas com o sector têxtil.
“Nenhum plano é perfeito”
Vanessa Arelle desafiou e Michael Sheldrick respondeu. Sobre greenwashing, é pragmático - embora algo polémico. “Nenhum plano é perfeito”, reconhece, mas é por isso que é fundamental que existam directrizes para orientar as acções climáticas e a responsabilidade empresarial. O australiano, autor de “From ideas to Impact”, é conhecido como uma espécie de empreendedor político que dá apoio a organizações - e governos - sobre questões relacionadas com a sustentabilidade. Sheldrick, co-fundador da Global Citizen, uma organização dedicada à erradicação da pobreza extrema, tem colaborado com diversos sectores para implementar medidas com impacto social positivo. Paralelamente, a intervenção política que tem impulsionado tem contribuído para mais céleres e efectivas mudanças. O livro funciona como um guia, com etapas fundamentais, desafios a evitar e exemplos de movimentos inspiradores.
A challenger Vanessa Arelle lança, a certa altura, algo que soou a “temos de agir conforme falamos” (“We have to walk to walk when we talk to talk”) e é, no fundo, aí que é suposto Sheldrick actuar: nesta cidadania global, que o orador tanto apregoa, como é que podemos fazer a diferença no que respeita à sustentabilidade? Sheldrick contou histórias, partilhou exemplos de diferentes geografias. A moral? Transformar ideias em impacto real, assumindo que cada cidadão tem um papel global e que determinadas acções, por mais simples que sejam, podem gerar mudanças. Para Sheldrick, qualquer acção é válida. O próprio livro, que o orador foi referindo, parece transmitir uma mensagem de esperança, mostrando que a mudança é possível, mesmo em tempos de instabilidade social e económica - e o orador relembrou várias vezes: “a verdadeira transformação começa com cada um de nós".
Inteligência artificial e sustentabilidade
Num outro formato, de mesa redonda, a tarde seguiu com Isabel Horta a moderar uma conversa centrada no papel da tecnologia na transição para um futuro mais sustentável. Especialistas de diferentes sectores partilharam a sua experiência e visão sobre o estado actual e os desafios da aplicação da IA. António Silva Ferreira, da Harv 81 , trouxe a experiência da inovação industrial e de como o design consciente e redução de recursos são fundamentais para alinhar a produção com os objectivos de sustentabilidade. Também quando se planeiam cidades inteligentes, é essencial definir metas e estratégias para as alcançar. Francisco Carvalho, do Laboratório da Paisagem do município de Guimarães, apresentou um roteiro de sustentabilidade em desenvolvimento há mais de uma década, destacando a importância de recolher e monitorizar dados para uma gestão urbana eficaz e ambientalmente responsável.
Miguel Montenegro Silva e Miguel Moreira da Silva também enriqueceram o painel com visões sobre a integração dos critérios ESG (sigla para Environmental, Social and Governance) na tomada de decisões. Se para Montenegro Silva cruzar dados ESG é essencial para fornecer uma visão integrada das práticas sustentáveis, Moreira da Silva abordou a importância de pequenas e médias empresas investirem em dados e salientou que integrar a sustentabilidade na gestão pode resultar numa redução significativa de custos e no aumento das receitas. Do público, a preocupação sobre as barreiras financeiras que por vezes impedem ou atrasam a implementação de IA e dados - levando a uma reflexão conjunta sobre o acesso ao financiamento para essas tecnologias, mesmo quando os recursos são mais limitados.
Inovação com sabedoria
O primeiro dia terminou com uma conversa inspiradora sobre “Wise Innovation”, com o director da Católica Porto Business School, João Pinto, a desafiar Varun Nagaraj. O conceito que o reputado professor indiano defende, de inovação com sabedoria, sugere o equilíbrio entre desenvolvimento económico, bem-estar social e sustentabilidade ambiental. A abordagem incentiva o desenvolvimento de soluções inovadoras que sejam, ao mesmo tempo, lucrativas e positivas para a sociedade e para o planeta. Se as empresas actuarem de forma responsável e consciente, as soluções criadas poderão atender às necessidades actuais e promover o bem-estar das gerações futuras.
Nagaraj destacou a importância das “tradições de sabedoria” como um recurso para a inovação sustentável, exemplificando como os processos de incubação e aceleração de startups podem incorporar esses princípios para fomentar mudanças reais no mercado. E, acredita, as startups que adoptarem um posicionamento net positive, onde o foco não é apenas reduzir danos, mas também criar um impacto regenerativo, serão bem-sucedidas. “A sabedoria vem com o tempo e a experiência”, relembrou Nagaraj, destacando a relevância da integração entre diferentes stakeholders para alcançar resultados mais amplos.
Reflexões e caminhos para a sustentabilidade
Se o primeiro dia da conferência teve uma componente mais académica, o segundo foi claramente virado para a indústria e para exemplos práticos. Duas mesas redondas deram corpo aos muitos conceitos partilhados e discutidos durante a conferência com os keynote speakers, com oradores que partilharam experiências e exemplos concretos que inspiram e que ajudam a traçar caminho. Indústria regenerativa foi o tema das duas mesas redondas. Na primeira, moderada por Luís Rochartre (Planetiers New Generation), estiveram presentes Gabriel Sousa (Altri), João Manso Preto (Greenvolt) e Inês Mota (Mota Engil). Na segunda mesa foram apresentados casos de estudo sobre o status da sustentabilidade e regeneração no sistema agro-alimentar. Moderada pela directora do Centro de Biotecnologia e Química Fina, Manuela Pintado, participaram neste painel Rodrigo Ribeiro (Savinor UTS), Marlos Silva (SonaeMC) e Graça Borges (Superbock Group).
O destaque do dia foi para Wayne Visser - que, soube-se em primeira mão, vai leccionar na Católica Porto Business School e está a trabalhar com o Insure.hub numa nova plataforma, também interdisciplinar, a anunciar em breve. Autor de várias publicações sobre o tema, defende que a sustentabilidade corporativa se deve estender à regeneração e à restauração dos ecossistemas - e o design para a circularidade é crucial. Os produtos devem ser concebidos para serem recicláveis e reparáveis desde o início. Reforçou a necessidade de uma "governança mais forte" na qual as políticas públicas devem definir metas mais ambiciosas. Apesar de muitas empresas não estarem ainda preparadas para implementar práticas sustentáveis eficazes, é imperativo definir metas mais ambiciosas, pois "se apontarmos às estrelas, podemos atingir a lua”.
E a 5.ª conferência Insure.hub já tem datas: 29 e 30 de Outubro de 2025. Esta edição terminou com a esperança de que a inovação sustentável e regenerativa possa transformar a sociedade, promovendo o desenvolvimento económico e social inclusivo, e que as ideias discutidas inspirem a aplicação de soluções concretas em diferentes áreas de actuação. O compromisso colectivo com o futuro, apoiado no desenvolvimento tecnológico, é a chave do progresso. Até lá, a pós-graduação em Sustentabilidade e Regeneração (formato blended, presencial e online), com início em Janeiro próximo, é uma oportunidade para aprofundar estes temas.
Reveja o programa do 2º dia: