Apesar da afluência do público, casa-museu de Gainsbourg enfrenta contas precárias

Com dívidas de 1,6 milhões de euros, a instituição tem as suas finanças em observação durante um período de meio ano. Os responsáveis pelo projecto trocam acusações.

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Apesar da afluência do público, a Maison Gainsbourg enfrenta dívidas de 1,6 milhões de euros Antoine Gyori/Corbis/ Getty Images
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Um ano após a sua abertura como museu, a casa de Serge Gainsbourg, nome vital da música produzida em França no século XX, é, como seria de se prever, um sucesso entre o público — já não há bilhetes disponíveis para visitar o espaço este ano. Apesar disto, no entanto, a Maison Gainsbourg, como se chama a instituição, enfrenta dívidas que, como escreve esta quarta-feira o The Art Newspaper, ascendem aos 1,6 milhões de euros. Na base desta situação encontra-se um conflito entre os dois principais responsáveis pela conversão da residência de Gainsbourg num espaço museológico: Charlotte Gainsbourg, filha do cantor e ela própria música, e Dominique Dutreix, coleccionador de arte e promotor imobiliário.

A inauguração da casa-museu chegou, num primeiro momento, a estar anunciada para 2021, mas foi adiada após a suspensão das obras de manutenção e/ou requalificação do espaço, um cenário provocado por atrasos nos pagamentos aos fornecedores. Charlotte Gainsbourg e a empresa que fundara com Dominique Dutreix, a Société d’Exploitation de l’Hôtel Particulier de Serge Gainsbourg et ses Annexes, processou o coleccionador de arte, que era o responsável pela injecção de capital no projecto, acusando-o não apenas de não investir tanto dinheiro quanto se comprometera a fazer, mas também de desviar fundos.

Dutreix foi condenado pela justiça francesa a reembolsar cerca de 1,5 milhões de euros à Maison Gainsbourg. O julgamento do recurso deverá realizar-se este mês. O The Art Newspaper relata que o empreendedor “ainda não terá pago, alegando bancarrota”.

Numa entrevista concedida no mês passado ao jornal francês Les Echos, Dutreix nega enfaticamente ter desviado fundos e acusa Charlotte Gainsbourg de querer afastá-lo do projecto. O investidor diz ainda desejar que o valor das suas acções seja calculado por um especialista. A filha de Serge Gainsbourg está, por seu turno, à procura de outros mecenas.

Num comunicado, a Arteum, empresa à qual Charlotte Gainsbourg confiou a gestão do museu, garante que a precariedade das finanças da casa-museu está relacionada com as dívidas que foram contraídas na altura da inauguração. As contas da instituição estarão, como escrevia o Les Echos em Outubro, em observação durante o próximo meio ano, num processo aparentemente idêntico àquilo que no quadro português se designa um Processo Especial de Revitalização; este visa “implementar negociações entre a empresa e os seus credores de modo a que se consiga aprovar um plano de recuperação que permita promover a revitalização da empresa, com o objectivo de que esta possa continuar a desenvolver a sua actividade”, lê-se no site do Diário da República.​

Durante o período de observação, o administrador judiciário aferirá se o modelo económico em vigor tem capacidade para abater as dívidas acumuladas. De acordo com o The Art Newspaper, a Arteum garante que, apesar do cenário adverso, a casa-museu estará bem encaminhada para atingir a solvência, alcançando a meta que havia estabelecido para este ano de quase quatro milhões de euros em vendas. Além da Maison Gainsbourg, funciona, do outro lado da rua, o espaço Gainsbarre, que é ao mesmo tempo uma livraria e um bar, por exemplo.

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