Ministro da Agricultura, disponível para prato vegan, desafia PAN a comer carne barrosã

José Manuel Fernandes respondia à porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, que o desafiou a aderir à iniciativa “segundas-feiras sem carne”.

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O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, durante a sua audição perante a Comissão de Agricultura e Pescas, a 16 de Outubro António Cotrim/ Lusa
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O ministro da Agricultura e Pescas desafiou a porta-voz do PAN a comer uma "francesinha de carne barrosã" para demonstrar "tolerância e moderação", mostrando-se disponível para provar uma opção vegan, convite que Inês Sousa Real recusou.

"Eu sou um moderado e defensor da biodiversidade. Se todos passássemos a uma dieta vegan, não acha que isso tinha implicações?", questionou o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, que falava nesta terça-feira numa audição parlamentar conjunta com as comissões de Orçamento, Finanças e Administração Pública e Agricultura. O antigo eurodeputado respondia à porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, que o desafiou a aderir à iniciativa "segundas-feiras sem carne".

José Manuel Fernandes mostrou-se disponível para ir comer uma francesinha sem carne com Inês Sousa Real, mas lançou o repto à porta-voz do PAN de, posteriormente, o acompanhar numa refeição de "francesinha de carne barrosã". Para o titular da pasta da Agricultura, esta será uma forma de demonstrar "tolerância e moderação".

Inês Sousa Real, que já tinha terminado a sua intervenção, declinou o convite, acenando com a cabeça.

A 1 de Novembro, dia mundial do veganismo, o PAN deu entrada com uma iniciativa para a Assembleia da República aderir às "segundas-feiras sem carne", justificando-a com o respectivo impacto no aquecimento global e na saúde.

O partido citou dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), que indicam que as emissões de gases com efeitos de estufa associadas à produção pecuária representam cerca de 12% do total das emissões de origem humana.

Na realidade, o que a maioria dos especialistas e entidades recomenda há vários anos é uma redução do consumo de carne. O que se reclama é uma transição alimentar, mas que não tem necessariamente de excluir a carne por completo. “Quanto mais depressa os sistemas abandonarem a produção intensiva de carne, substituindo-a por sistemas e produtos mais compatíveis com a saúde humana, o planeta e a ética, melhor será para todos. Não basta a uma alimentação saudável e justa que ela seja vegetal, é importante que ela seja também diversa. Nós temos em Portugal bons exemplos de produção sustentável de carne, como o porco preto e a carne mirandesa, podemos apostar numa dieta mediterrânica com pouca carne e muitos vegetais”, afirmava ao AZUL a socióloga Luísa Schmidt num artigo intitulado "Comer muito menos carne é a opção mais realista".

José Manuel Fernandes já tinha sido o protagonista de uma polémica recente quando, numa entrevista à TSF, usou argumentos falsos para defender a posição do Governo de não aumentar os impostos sobre as bebidas alcoólicas, os refrigerantes e o tabaco.

Sobre os efeitos do álcool, das bebidas açucaradas e do tabaco para o saúde, o ministro disse: “A água em excesso também faz mal. Tem de existir moderação.” Continuou: “O consumo de vinho de forma moderada não faz mal.” A TSF acrescentou que o governante disse ainda que há regiões em Portugal “onde a longevidade é maior onde bebem tinto verde” (sic) — uma afirmação para a qual não foram encontradas quaisquer provas científicas.

Num artigo publicado no dia 24 de Outubro, vários especialistas ouvidos pelo PÚBLICO defenderam que ambas as afirmações são falsas e podem ter um impacto negativo na saúde da população.